TRANSMISSÃO
Entenda como o tráfico de animais silvestres traz riscos à saúde pública
Patógenos sob controle natural podem gerar doenças até pandêmicas, tipo Covid-19
Por Madson Souza
Não se sabe de onde vem a próxima pandemia e nem quando, mas cerca de 60% das doenças infecciosas humanas têm origem em animais, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Covid-19, HIV, Monkeypox são exemplos de algumas zoonoses - doenças infecciosas transmitidas entre animais e seres humanos - que afetam o globo. O tráfico de animais silvestres é uma prática que potencializa o surgimento e a proliferação de enfermidades. E por meio desses crimes a Bahia é potencial vítima do desenvolvimento de doenças que apresentam risco à saúde humana.
Aves são o principal grupo de animais que são traficados na Bahia. Retirados da natureza, os bichos lidam com o estresse de serem apanhados, o transporte em condições inadequadas, a falta de higiene no processo; fatores colaboram para a imunossupressão dessas criaturas e as tornam mais suscetíveis a doenças, que podem ser transmitidas para humanos. A presidente da comissão de animais selvagens e meio ambiente do Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia (CRMV/BA), Débora Malta, explica o perigo dessa prática.
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“Esses animais são comercializados sem nenhum controle sanitário, sem avaliação clínica, sem tratamento prévio, então a gente nunca sabe o que estão levando para casa das pessoas. Os animais silvestres naturalmente têm esses patógenos, mas que estão de certa forma controlados na natureza. A partir do momento que trazemos esses animais pra casa possibilitamos a disseminação dessas doenças”.
Aves como papagaio, por exemplo, também alvo do comércio ilegal na Bahia, podem transmitir a clamidiose. “Vai para casa das pessoas e aí fica no ombro, dá beijinho, futuca o prato de comida, anda pelo sofá, vai para cama, enfim. Através desse contato transmite a doença, que para humanos causa problemas respiratórios, que pode ser confundido com uma rinite, com uma gripe, e agravar e virar uma pneumonia”, afirma Débora.
De acordo com a facilidade de transmissão desses patógenos essas doenças podem se tornar endemias, epidemias ou até pandemias.
Esse impacto é ainda maior e traz mais risco quando uma nova doença surge, porque o sistema imunológico ainda não está pronto para isso, segundo o médico veterinário e perito criminal da Polícia Federal, Cristiano Mores. “Por serem patógenos emergentes não estamos preparados para eles. Foi o que aconteceu com a Covid-19”, exemplifica.
Sem incentivar a compra de animais silvestres, a presidente da comissão de medicina veterinária legal do CRMV/BA, Lívia Peralva, explica que os animais de criadouros legalizados apresentam menor risco. “Não incentivo, mas quando você compra de um desses criadouros sabe que esses animais têm um manejo sanitário adequado. Tem médico veterinário responsável, biólogo que muitas vezes compõe a equipe, e outros profissionais que tratam da questão sanitária desses animais”, comenta.
Pássaros são maioria
Já foram resgatados pela Polícia Rodoviária Federal este ano 3.748 animais silvestres na Bahia até o dia 10 de setembro. Em 2023, foram 6.673 resgatados. Em sua maioria, foram pássaros sabiá, pássaro preto, canário da terra, baiano, coleira, chorão, bigode, trinca-ferro, cardeal, papa-capim, entre outros. Alguns, inclusive, com risco de extinção, como o azulão.
As condições desse crime incluem o transporte dos animais em gaiolas escondidas no porta-malas de carro, bagageiro de ônibus e aglomerados no interior de automóveis. Gaiolas pequenas, sem água, cobertas com fezes e urinas, privação de luz e circulação de ar, são as condições em que a PRF costuma encontrar os bichos,, além dos que já são achados mortos.
O inspetor da PRF, Fábio Rocha, fala do desafio de tratar da questão no estado. “A Bahia (...) e é o único estado brasileiro que possui os cinco biomas bem definidos. Uma variedade de fauna e flora, que se estende também às aves. Por isso, os traficantes vêm pra cá capturar os animais e aproveitar as rodovias de integração nacional pra fazer esse transporte. A Bahia é importante pra logística desse crime tanto na captura quanto na distribuição desses animais traficados”, comenta.
As penas para estes crimes ambientais são de multa de até R$5 mil, por animal encontrado irregularmente, e até um ano e seis meses de prisão.
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