VIAGEM
Temporada 2025 promete: Bahia vira destino quente dos grandes cruzeiros
Navios nacionais e internacionais movimentam Salvador, Ilhéus e outros destinos baianos na temporada 2025/2026

Por Ana Cristina Pereira

Baianas em traje de gala, com fitinhas do Bonfim na mão e muita simpatia são o primeiro cartão de visitas para receber os milhares de turistas que começam a desembarcar nos portos de Ilhéus e Salvador a partir de outubro. A última semana do mês marca o início da temporada 2025/2026 no País, período em que navios nacionais e internacionais - as chamadas viagens de cabotagem – reforçam o fluxo turístico no litoral do País.
A expectativa é grande, diante dos números movimentados pelo setor, que ajuda a impulsionar a economia nas cidades que recebem as escalas. Na temporada passada, que foi de outubro de 2024 a abril passado, quatro navios fizeram 15 paradas em Ilhéus e sete atracaram 42 vezes em Salvador.
Segundo a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur), foram cerca de 300 mil cruzeiristas que, além de visitar as duas cidades, participaram de operações marítimas em Porto Seguro, Itacaré e Morro de São Paulo, injetando R$ 150 milhões na economia baiana.
“A chegada dos navios representa um movimento importante para a economia local. Cada cruzeirista gasta em torno de R$ 600 a R$ 700 por dia, consumindo em lojas, restaurantes e fazendo passeios turísticos”, afirma Celso Duarte, superintendente de Promoção e Serviços Turísticos da Setur.
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Há ainda os períodos pré e pós-viagem, pois muitos turistas embarcam e desembarcam na cidade. Duarte também destaca os gastos com o abastecimento das embarcações e a geração de empregos, já que pelo menos 15% da mão de obra dos navios precisa ser brasileira.
A consolidação das rotas nordestinas ajudou nos bons números nacionais. Segundo superintendente de Promoção e Serviços Turísticos da Setur, o governo tem se empenhado para organizar a chegada e a partida dos visitantes, investindo no receptivo e no reforço da segurança no entorno dos portos.
“Precisamos oferecer atrativos a esses turistas e, nesse sentido, o porto de Salvador tem uma localização privilegiada, pois fica perto do Pelourinho e do Centro Histórico”, pontua Duarte, que representou a Setur na sétima edição do Fórum Clia Brasil 2025, que aconteceu na quarta passada em Brasília, reunindo os principais representantes da indústria de cruzeiros.
Ao falar em um dos painéis do evento, ele assegurou que o estado está pronto para a temporada, e citou entre os atrativos, a consolidação de roteiros específicos, com visita aos blocos afro e aos terreiros de candomblés, além de uma rota de culinária afro baiana e um voltado para o público LGBT+. Em Ilheús, a Rota do Cacau e o roteiro inspirado no universo do escritor Jorge Amado estão entre os destaques.

“Já somos conhecidos pelo receptivo especial oferecido aos cruzeiristas, que, quando desembarcam, já têm contato com a cultura baiana. Para a próxima temporada, estamos confiantes em superar a movimentação registrada na temporada passada”, projeta o secretário de Turismo, Maurício Bacelar.
Ele explica que o segmento tem dado uma importante contribuição para o turismo local, principalmente depois que Salvador passou a ser ponto de embarque, aumentando o tempo de permanência do visitante na cidade. De acordo com Bacelar, para conquistar os disputados cruzeiros, a Setur tem participado de importantes eventos da indústria, como o Cruise 360 Brasil, promovido pela Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia), e o Seatrade Global, realizado em Miami. Além da Bahia, Alagoas, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba estão nas rotas nordestinas dos grandes navios.
Desafios
A cadeia que move o turismo ligado aos cruzeiros precisará de esforços extras para manter a movimentação das duas últimas temporadas, quando o número de cruzeiristas ultrapassou os 800 mil pessoas, batendo recordes históricos. Na que se aproxima, a previsão é de 674,6 mil viajantes, uma queda de 19,5% em relação ao período passado, provocada pela retirada de dois navios da frota dos nove que fizeram as rotas brasileiras nas três últimas temporadas.
A informação integra o Estudo de Perfil e Impactos Econômicos de Cruzeiros Marítimos no Brasil, análise inédita realizada pela Fundação Getúlio Vargas e divulgado pela Clia durante o Fórum em Brasília. Na temporada brasileira de 2024/2025, os nove navios percorreram 15 destinos, com 838 mil pessoas, que provocaram um impacto econômico de cerca de R$ 5,43 bilhões, gerando 84,6 mil postos de trabalho. Quando incluídos os navios com roteiros internacionais que também param no País, esse impacto passa dos R$ 6 bilhões.
As consequências da diminuição dos cruzeiros foram analisadas durante o Fórum. Para os executivos do setor, o Brasil precisa de planejamento, investimento em infraestrutura e desburocratização para competir com destinos na Europa, Caribe e Mediterrâneo - que lideram o setor.
“Esse número nos deixa muito desconfortáveis”, reconhece Marco Ferraz, presidente executivo da Clia Brasil, destacando que o Brasil tem muito potencial para o turismo de cruzeiros, pois combina a grande extensão do litoral, com clima favorável, possibilidade de diferentes roteiros e a não existência de conflitos internos, como em outras regiões do planeta.

Em sua avaliação, o mercado local precisa de mais portos de embarque e trânsito, além de solucionar problemas de custo e regulação, resolvendo questões de visto, trabalhistas e até excesso de ações judiciais dos consumidores.
“É parecido com o que as companhias aéreas falam do Brasil”, compara Ferraz, informando que um grupo com representantes da iniciativa privada e governamental trabalha para resolver estas e outras questões. Entre os participantes estão os ministérios dos Portos e Aeroportos e Turismo, Embratur e Polícia Federal.
Diretor geral da MSC Cruzeiros, que terá um navio a menos nas rotas nacionais, Adrian Ursilli avaliou que o Brasil precisa melhorar seus índices e gargalos, especificamente os custos portuários, trabalhistas e tributos, para aumentar a competitividade do setor. “Para que a gente possa voltar a crescer, precisamos fazer nossa lição de casa”, afirmou Adrian, ponderando que todos perdem com a diminuição das ofertas, incluindo cidades, portos e os hóspedes,que passam a ter menos opções. “Mas temos esperança de reverter essa situação e logo”, afirma o executivo.
Também com um navio a menos, a Costa Cruzeiros inicia sua operação durante a COP 30, quando dois navios da empresa vão ajudar a solucionar o grave problema de hospedagem em Belém, com seis mil leitos disponíveis. “Depois a gente segue até abril com muito entretenimento, grandes experiências e boa gastronomia. Vai ser uma grande temporada”, acredita Dario Rustico, presidente da Costa Cruzeiros da Américas.
*A jornalista viajou a Brasília convite da organização do evento.
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