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Testes físicos forçados e punições levam funcionários do Metrô Bahia ao limite

Funcionário denuncia corte de adicional e retirada de colete balístico para quem reprova no TAF

Andrêzza Moura

Por Andrêzza Moura

20/12/2025 - 7:01 h
Segundo denuncia, cerca de 
21 funcionários estão afastados por motivos de doença
Segundo denuncia, cerca de 21 funcionários estão afastados por motivos de doença -

Mais uma vez, o Portal A TARDE foi procurado por funcionários da Motiva Metrô Bahia, antiga CCR Metrô Bahia. Desta vez, além de um trabalhador afastado por problemas de saúde, uma ex-funcionária demitida enquanto estava doente denuncia assédio moral, sobrecarga de trabalho e omissão da empresa diante do adoecimento de seus colaboradores.

Os relatos apontam para um ambiente de trabalho marcado por exigências físicas intensas, pressão constante por metas, redução de efetivo e práticas que, segundo os denunciantes, têm levado ao adoecimento físico e psicológico de diversos trabalhadores.

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Alberico da Cruz, 40 anos, nome fictício para preservar sua identidade, é funcionário da Metrô Bahia e atualmente encontra-se afastado por questões de saúde. Segundo ele, os problemas surgiram somente após o início das atividades na empresa.

"Para começar, eu nunca tive nenhum problema de saúde antes de ingressar na empresa. Nunca precisei apresentar atestado médico, nem ali, nem em empregos anteriores", explicou.

Funcionários denunciam sobrecarga no trabalho
Funcionários denunciam sobrecarga no trabalho | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Com poucos meses de trabalho, Alberico relata que desenvolveu varizes graves, condição que o levou a uma cirurgia ainda no primeiro ano de empresa.

"Após alguns meses de trabalho, desenvolvi problemas sérios de varizes e precisei passar por cirurgia depois de cerca de oito meses na empresa. Na época, no posto em que eu trabalhava, praticamente todos os colegas já haviam feito cirurgia de varizes. Éramos em quatro colaboradores no mesmo local, todos com o mesmo tipo de problema", conta ele.

O trabalhador relata que, apesar de ter feito o procedimento cirúrgico, a situação não melhorou. "Mesmo após a cirurgia, não houve melhora significativa, pois continuei submetido às mesmas condições de trabalho, permanecendo longos períodos em pé. Mesmo com o uso de meia de compressão, as dores, a sensação de queimação e o cansaço nas pernas persistem até hoje".

Lesões múltiplas e adoecimento coletivo

Além das varizes, Alberico expõe o surgimento de outras dores e lesões. "Com o tempo, surgiram também dores nos ombros, joelhos e tornozelos. Já precisei realizar procedimento na coluna e atualmente aguardo liberação para realizar procedimentos no joelho e nos ombros", diz.

Ainda segundo ele, o adoecimento não é um caso isolado. "Na clínica onde realizo fisioterapia, encontro diversos colegas da empresa na mesma situação. Na semana passada, encontrei um colaborador que já passou por cirurgia no joelho nos primeiros anos de empresa, depois no quadril e agora aguarda procedimento no ombro. Da mesma forma, encontrei outra colega que estava indo a um especialista em joelho com a mesma lesão que a minha".

Alberico informou que, além dele, pelo menos, outros 21 colegas estão afastados de suas funções por questões de saúde.

Pressão para retornar ao trabalho e ausência de CAT

O trabalhador também denuncia falhas graves na atuação da área de saúde ocupacional. "A área de Segurança do Trabalho não realiza investigação adequada sobre as lesões e não emite CAT [Comunicação de Acidente de Trabalho]. Quando o colaborador precisa se afastar e tem o benefício negado pelo INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], o que é recorrente, a médica do trabalho passa a pressionar para o retorno, mesmo havendo atestados médicos", afirmou.

Alberico revelou ainda que os atestados e relatórios emitidos por médicos assistentes são desconsiderados, sob o argumento de que apenas o parecer do perito do INSS teria validade. "Após o retorno, muitos colaboradores acabam sendo desligados em pouco tempo, em alguns casos na mesma semana. Fica claro que há pressão para manter o colaborador ativo na folha apenas para posterior desligamento", expõe ele.

Testes físicos e punições

Outro ponto citado é a exigência frequente de Testes de Aptidão Física (TAF). "Outro ponto grave é a realização de um TAF, que ocorre pelo menos a cada três meses, envolvendo corrida, barra ou apoio e abdominais. É informado que a participação é obrigatória", denuncia o trabalhador.

Alberico afirmou ainda que, nos casos de reprovação no TAF, são aplicadas sanções imediatas, destacando que o colaborador que não alcança desempenho satisfatório é remanejado para a operação sem o uso do colete balístico, permanecendo em ambiente de risco sem a devida proteção. Além disso, o trabalhador é transferido para a escala administrativa 5x2 e tem suprimido o adicional de periculosidade, que é de R$ 628,20.

Jornadas longas e trabalho sempre em pé

O colaborador descreve uma rotina exaustiva. "A escala praticada é 3x2, com três dias de trabalho de 12 horas e apenas dois dias de descanso. Dentro dessas 12 horas, o colaborador permanece cerca de 10 horas e 30 minutos em pé, de forma contínua. O restante do tempo é todo em pé, com monitoramento constante por câmeras, supervisão e liderança", relata.

Segundo o trabalhador, houve a retirada de cadeiras em determinados postos de trabalho, relatando que, no setor conhecido como SSO, a supervisão suprimiu praticamente todos os assentos, mantendo apenas uma cadeira, cujo uso é restrito a ajustes em computadores ou à realização de treinamentos obrigatórios.

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Sindicato omisso e plano de saúde reduzido

Assim como na primeira denúncia, Alberico diz que o sindicato responsável pela categoria, o SINDFERRO, segue assistindo a tudo inerte. "O sindicato responsável é completamente omisso. Quando o colaborador procura o sindicato, é ouvido, mas nenhuma providência efetiva é tomada".

Ele afirmou ainda que nenhuma providência efetiva é adotada e relatou cortes significativos no plano de saúde, informando que houve a redução de mais de 70% da rede credenciada, incluindo clínicas e hospitais. Acrescentou, também, que colaboradores afastados têm procedimentos negados pelo convênio médico.

“Eu faço acompanhamento psicológico. Com psicóloga e psiquiatra e tomo medicação pra dormir", finalizou ele, revelando que espera que, além de uma resposta do sindicato, espera que o Ministério Público do Trabalho (MPT) tome alguma atitude para resguardar os funcionários.

Ex-funcionária denuncia assédio e adoecimento

Além do funcionário afastado, o Portal A TARDE também ouviu uma ex-funcionária demitida enquanto estava doente. Maria Felix, 30 anos, também nome fictício, relata um histórico de assédio moral e sobrecarga de trabalho.

"Fui informada pelo meu gerente que estava demitida da empresa. No entanto, essa demissão é consequência direta da omissão e de diversas incidências de assédio moral que sofri, bem como da minha recusa em me calar diante do que acontecia em um setor adoecido dessa estimada empresa", relembra.

Ela afirma que assumiu sozinha uma função que deveria ser exercida por mais pessoas. "Desde então, assumi sozinha todas as demandas relacionadas ao contrato, permanecendo em constante sobrecarga de trabalho durante todo o período em que estive na empresa".

Muito abalada pelo o que vivenciou, Maria conta que, com o passar do tempo, a situação evoluiu para agressões verbais. "Fui surpreendida por ofensas verbais proferidas por ele, sendo chamada de “dissimulada”, “ignorante” e “irônica”, além de sofrer gritos e outros tratamentos ofensivos", desabafou.

Demissão, difamação e interrupção de tratamento

Ela conta que mesmo adoecida, foi desligada e após sua demissão, houve exposição pública. "Em decorrência de tudo isso, desenvolvi doença ocupacional, sendo diagnosticada com ansiedade depressiva e o gerente ainda teria dito aos outros colaboradores que: 'a funcionária foi demitida por não entregar demandas e por problemas comportamentais'”, disse ela.

Diante da justificativa apresentada pelo gerente, Maria fez questão de ressaltar que, após seu desligamento, a funcionária que assumiu suas atribuições passou a procurá-la para obter esclarecimentos operacionais, o que desmente a informação de que foi demitida por não cumprir com suas funções.

Metrô Bahia

A reportagem procurou novamente a Motiva Metrô Bahia para comentar as denúncias relatadas por funcionários e ex-funcionária. A empresa se pronunciou por meio da assessoria de comunicação.

"O Metrô Bahia repudia qualquer forma de assédio e discriminação. Esses comportamentos não fazem parte da cultura e dos valores da empresa, que conta com canais de compliance seguros e sigilosos para investigação com rigor. Vale ressaltar, que 77% dos colaboradores consideram a concessionária como um ótimo lugar para se trabalhar, de acordo com a pesquisa Great Place to Work (GPTW) de 2025. Ainda, 78% sentem confiança nas lideranças e 76% se sentem seguros. Esses números demonstram nosso compromisso com um ambiente de trabalho positivo, seguro e diverso. O Metrô Bahia está à disposição para a apuração dos relatos trazidos com base em evidências".

O que diz o SINDFERRO

Em nota enviada anteriormente ao Portal A TARDE, no dia 13 de dezembro, o SINDFERRO afirmou que atua de forma combativa, que está disponível para receber denúncias de assédio moral e que realiza ações administrativas, jurídicas e políticas quando necessário. O sindicato também informou que não recebeu denúncias formais recentes por seus canais oficiais.

MPT

O Ministério Público do Trabalho (MPT) também foi acionado para informar se havia algum processo em andamento ou se o órgão realiza ou já realizou alguma vistoria na empresa, mas não obteve retorno até o fechamento.

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