SAÚDE
Câncer de mama: o que muda com a mamografia a partir dos 40 anos no SUS?
Possibilidade de diagnóstico precoce é ampliada com o acesso da nova faixa etária à mamografia no SUS

Por Ana Cristina Pereira

A campanha Outubro Rosa deste ano vai entrar para a história por ser a primeira após uma conquista que vem mobilizando entidades médicas e representantes da sociedade civil há quase vinte anos: a ampliação da idade para início do rastreio do câncer de mama pelo SUS, que no mês passado anunciou o acesso a mamografia para mulheres de 40 a 49 anos, mesmo sem sinais ou sintomas da doença.
Essa faixa etária concentra 23% dos casos do tumor que mais mata mulheres no país e a detecção precoce aumenta as chances de cura. E quem descobriu um câncer ainda mais jovem sabe que o tempo e o acesso ao tratamento adequado faz toda diferença. Foi o caso da sacerdotisa da Umbanda Romilza Medrado, que tem sua história de vida atravessada pela luta pessoal e coletiva para garantir que mais pessoas possam se curar do câncer.
Fundadora e presidente do Núcleo Assistencial para Pessoas com Câncer (Naspec), ela tinha apenas 36 anos quando descobriu um câncer na mama esquerda, e treze anos depois voltou a ter outro nódulo na direita. Por isso, sabe a importância dessa ampliação, sobretudo para incluir mais pessoas carentes e vindas do interior do estado – que formam o público atendido pela instituição localizada no Engenho Velho de Brotas.
“Desde 2009 que a gente luta pelo aumento do direito à mamografia no SUS”, afirma Romilza, referindo-se ao ano em que o Ministério da Saúde oficializou a realização do exame para o público de 50 a 69 anos. A nova lei também inclui mulheres até 74 anos. “A realidade dos pacientes com câncer é muito difícil e desafiadora, levando muita gente a desistir do tratamento. Não é fácil para ninguém”, afirma Romilza, que viu muitas mudanças desde que ficou doente, há 42 anos.
Mobilização
Além do exame, ela enfatiza que os doentes precisam de mais acolhimento e acesso amplo ao tratamento após o diagnóstico. Neste mês de mobilização em torno do câncer de mama, aproveita sua história para somar forças. Na semana passada participou de uma audiência pública na Câmara de Vereadores e promoveu a festa Boteco Rosa, para arrecadar fundos para assegurar as necessidades básicas dos pacientes e seus acompanhantes, bem como os cuidados paliativos para os que estão em fase terminal.
A principal campanha preventiva do Outubro Rosa está sendo realizada pela Secretária de Saúde do Estado (Sesab), que vai realizar 40 mil mamografias em toda a Bahia até o final do mês. A maior parte das vagas foi destinada a Salvador, cidade que concentrou a maioria dos novos casos e das 912 mortes por câncer de mama deste ano, até 18 de setembro.
Leia Também:
Uma das primeiras a realizar o exame foi a auxiliar administrativa Silvia Nogueira, de 43 anos, no primeiro dia da campanha, na Arena Fonte Nova. “Minha mãe teve câncer de mama, então eu já faço os exames anuais, e com a nova determinação do SUS, o acesso ficou mais fácil. Ano que vem estarei lá novamente”, garantiu Silvia, comemorando a ampliação da faixa-etária, que a incluiu.
Segundo a coordenadora do Programa Estadual de Rastreio do Câncer de Mama, a enfermeira Jane Glaúcia, as mulheres que apresentarem alterações nas mamografias serão encaminhadas para biópsia e consulta com mastologista, e caso o câncer seja confirmado, para tratamento em unidades de referência como o Cican e o Hospital da Mulher. “Queremos tomar conta desta mulher em todas as etapas, para identificar os tumores na fase inicial e tirá-la da zona da morte”, diz Jane, informando que 4.230 novos casos de câncer de mama devem ser registrados na Bahia este ano.
Fazer o rastreamento anual a partir dos 40 anos é considerado essencial à saúde feminina pois, como esclarece o mastologista Sérgio Calmon, 90% dos casos são assintomáticos e apenas de 10% a 15% deles estão relacionados ao histórico familiar. “A maior parte dos tumores de mama deve-se a uma mutação celular”, explica o especialista, que refuta outro mito, o de que a radiação do exame pode causar a doença.
Já o autoexame, diz, é importante para a mulher se autoconhecer, mas não substitui a mamografia. Ele orienta as mulheres a prestarem atenção em mudanças no formato dos seios, retração da pele da aréola ou sinais de sangue. Quando identificados precocemente, além da chance de cura em torno de 90%, essa mulher vai passar por menos tratamentos invasivos e menos cirurgias.
Além da inclusão de mais mulheres na prevenção, o médico, que atua na Clínica AMO, também destaca a incorporação recente, no rol de medicamentos do SUS, de três inibidores de ciclinas, medicamentos utilizados em tumores em estado mais avançado. Para mulheres que vão passar por uma cirurgia, ele afirma que os avanços mais recentes têm conseguido bons resultados na preservação da mama, ao associar técnicas de cirurgia plástica aos procedimentos convencionais, garantindo mais autoestima às pacientes.
Seguindo em frente
Autoestima e confiança são dois ingredientes importantes na complexidade do tratamento oncológico. Paciente do doutor Sérgio, a bancária Gabriela Torres conta que a cirurgia, que enxertou gordura do seu abdômen na mama, ajudou-a a manter a cabeça erguida. Ela descobriu o câncer em 2021, aos 38 anos. A princípio, achou que estava com algum problema na prótese de silicone, mas a mamografia mostrou dois tumores malignos agressivos, tratados com quimioterapia, cirurgia, radioterapia e quimioterapia oral.
Gabriela está em fase de remissão e segue fazendo acompanhamentos periódicos com o mastologista e outros profissionais. “Foi um baque muito grande para mim, mas precisei ser forte, pois tinha um filho de 16 anos e só duas opções, ou me entregava ou ia pra cima”, resume ela. A cada nova etapa superada ela celebra e recorre ao velho ditado para mandar uma mensagem para outras mulheres: “Não espere para fazer amanhã o que você quer fazer hoje ”.
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes