SAÚDE PÚBLICA
Fimose preocupa e coloca Bahia entre os estados com mais registros no SUS
De 2015 a 2024, a estado registrou mais de 42 mil casos de fimose, parafimose e hipertrofia do prepúcio

Por Andrêzza Moura

De 2015 a 2024, mais de meio milhão de brasileiros buscaram atendimento médico no Serviço Único de Saúde (SUS) para tratar condições relacionadas ao prepúcio - camada de pele que recobre a glande peniana -, como fimose, hipertrofia e parafimose. É o que aponta o Ministério da Saúde em dados obtidos pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Dos mais de 534,1 mil atendimentos no Brasil relacionados a condição, 42.257 foram registrados na Bahia. O estado se destacou no levantamento, ocupando a terceira posição no ranking nacional, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro, com 42.790 casos, e São Paulo, que lidera com 180.474 registros. O pico de internamentos no estado aconteceu em 2023, com 6.402 anotações.
De acordo com dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS, as internações de meninos com idades entre 10 e 19 anos por fimose, parafimose ou excesso de prepúcio cresceram 81,58%.
Em relatório feito pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o diretor da Escola Superior de Urologia da entidade, Roni de Carvalho Fernandes, destacou que esses números reforçam a importância da conscientização sobre condições como hipertrofia do prepúcio, fimose e parafimose, que dificultam a higienização da glande, fundamental para prevenir o câncer de pênis.
"Esses dados reforçam a necessidade de orientação médica e de políticas públicas que facilitem o diagnóstico e o tratamento precoce dessas condições. A SBU tem atuado ativamente nesse sentido, promovendo mutirões de procedimentos cirúrgicos para tratar essas condições, como a postectomia, em diversos estados do país durante a campanha ‘Cuide, você só tem um’", pontuou o médico.
O que é fimose e quando ela é preocupante?
O urologista e cirurgião robótico Lucas Batista, chefe dos serviços de urologia do Hospital Cardio Pulmonar e do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES-UFBA), explicou ao Portal A TARDE que a fimose é uma condição natural no início da vida, mas que pode trazer complicações se persistir na adolescência ou idade adulta.
“A fimose é um excesso de pele do prepúcio, que é aquela pele que cobre a parte mais distal do pênis e que vai cobrir a glândula, que popularmente é conhecida como a cabeça do pênis", iniciou o especialista.
Batista afirmou: "Todos os homens têm esse excesso de pele, faz parte na embriologia ter esse excesso de pele e que isso vai cobrir e proteger durante o início da vida da pessoa".

"Tanto que quando o homem ainda é criança, é um bebê, essa pele se encontra ainda aderido nessa parte externa do pênis, na glândula, que forma uma proteção para que não exista nenhum tipo de atrito e principalmente algum tipo de lesão do meato da uretra, que é o buraquinho por onde sai a urina", acrescentou.
Ainda segundo ele, a maioria das crianças apresenta essa condição nos primeiros anos de vida, mas ela tende a desaparecer naturalmente com o crescimento. A atenção médica só se torna necessária quando há sintomas.
"O desconforto ele é apresentado quando a pessoa não consegue expor a glande e é normal que ele não consiga expor durante a infância. Quando chega mais ou menos uns 4, 5, 6 anos de idade, com o crescimento da criança, essa pele começa a ter uma certa retração e ela começa a conseguir expor a glande", explicou o médico.
"O problema ocorre na vida e adolescência, quando a pessoa não consegue expor a glande adequadamente, dificultando a higiene. Isso causa acúmulo de esmegma, uma secreção produzida por glândulas da região, que pode irritar a pele e provocar infecções crônicas no prepúcio e na glande, chamadas de balanopostite", destacou.
A fimose pode trazer riscos?
“Sim. A fimose pode trazer riscos para a saúde, porque se a pessoa não conseguir expor a glande, ele não consegue fazer a higiene adequadamente. Durante a atividade sexual, a pele , que representa no caso a fimose, não consegue retrair e expor a glande, isso pode começar a provocar fissuras, sangramento, lesões, irritação da pele. Então, a pessoa tem um processo infeccioso inflamatório por causa dessas lesões que ocorrem no pênis", alertou.
Leia Também:
Ainda segundo ele, é importante observar a exposição da glande não apenas em estado de flacidez, mas também durante a ereção. Dificuldades nesse momento também exigem avaliação médica.
"Então, não significa que a pessoa consiga retrair completamente a pele e fazer higiene quando o pênis está amolecido, que quando ele está em ereção, a pessoa não tenha essa exposição adequada e também pode provocar ferida. Então, as pessoas têm que ficar atentas que o problema da fimose, como popularmente é conhecida, pode ser tanto essa dificuldade de expor a pele e a glande quando o pênis está amolecido, como também no momento em que ele está endurecido, que tenha uma dificuldade e possa ferir o pênis", acrescentou ele.
Quando operar?
Conforme o especialista, a postectomia, cirurgia de retirada o excesso de pele - também conhecida como circuncisão -, nem sempre é necessária. Doutor Lucas explica que o primeiro passo é tentar o tratamento com pomadas, especialmente, até os 5 ou 6 anos de idade. A cirurgia é indicada apenas quando há sintomas persistentes ou impossibilidade total de expor a glande.
“Existe uma pomadinha que você pode passar no começo, até 5, 6 anos de idade, você passa durante um mês, um mês inteiro, e ela vai conseguir facilitar a exposição da glande. Caso isso não dê certo e comece a ter sintomas, comece a ter infecção, dor, e lá na frente, depois dos 6 anos, 7 anos, a criança está com a glande completamente fechada, aí sim é interessante fazer a cirurgia. Fora isso, a tendência é não operar. Então, só deve ser operado quando for sintomático ou quando não expõe a pele completamente", expôs.
De acordo com o urologista, operar muito cedo pode trazer implicações futuras. Embora a pele removida na cirurgia geralmente não volte a crescer, em crianças operadas ainda na fase de desenvolvimento pode haver um novo excesso de pele com o crescimento do pênis, o que, em alguns casos, pode levar à necessidade de uma nova cirurgia.
"As pessoas que operam muito cedo, na infância, podem aumentar essa pele por causa do próprio crescimento e ter essa pele ali de volta e ter que operar no futuro. De uma maneira geral, pessoas adultas não recidivam esse crescimento da pele afimosa."
Recuperação pós-cirurgia: cuidados e limitações
"Após a cirurgia, ela é um pouco desconfortável na primeira semana, porque o pênis fica um pouco ademaciado [inchado], tem um pouquinho de hematoma, um discreto sangramento. A pessoa precisa repousar durante os primeiros 4, 5 dias, mas pode ficar em casa de uma maneira independente, evitar traumas, brincadeiras, algum tipo de atividade física que tenha algum tipo de batida na região do pênis, e ficar cerca de 40 dias sem atividade sexual. É necessário fazer higiene, curativo diário e aplicação de pomadas e remédios para controlar dor e inflamação", finalizou o médico Lucas Batista.
Hipertrofia do prepúcio
É o crescimento excessivo da pele que cobre a glande (cabeça do pênis). Essa pele fica mais longa ou espessa que o normal, dificultando a retração para expor a glande. Pode prejudicar a higiene, causar desconforto e favorecer infecções.
Costuma ser confundida com fimose, mas nem sempre impede completamente a exposição da glande. O tratamento pode incluir observação, uso de pomadas ou cirurgia.
Parafimose
É uma emergência médica urológica em que o prepúcio, ao ser puxado para trás, não consegue retornar à posição original sobre a glande. Isso causa inchaço, dor intensa e pode interromper a circulação sanguínea no pênis.
Ocorre geralmente em quem tem fimose parcial ou retração forçada do prepúcio. Requer atendimento médico imediato para evitar complicações graves. Em alguns casos, é necessário procedimento cirúrgico.
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes