GRAVE
Lojas baianas ignoram Anvisa e vendem item perigoso para doces
Empresas focadas em confeiteiros vêm comercializando produto com plástico

Por Madson Souza

Você daria plástico para seu filho comer? A pergunta pode parecer absurda, mas é a realidade que muitos vem experimentando ao ingerir doces e bolos de festa. Mesmo após o alerta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de que itens decorativos compostos de plástico não podem ser usados em alimentos, o cenário nas lojas de confeitaria e decoração é venda indiscriminada.
Ao perguntar em cinco estabelecimentos do tipo sobre glitter comestível, todas as indicações foram para produtos que não podem ser ingeridos por serem prejudiciais à saúde, com plástico em sua composição.
O cenário no comércio de confeitaria é ainda mais preocupante. Lojas específicas para doces vêm comercializando glitter com plástico. A identificação de atóxico estampada na embalagem do glitter de decoração é vista como indicação de que o elemento pode ser utilizado em alimentos, porém sua composição é feita de plástico, que não deve ser consumido.
O mesmo acontece com os pós decorativos usados em alimentos. Atóxico é diferente de comestível, mas essa confusão tem gerado equívocos em confeiteiros e na população em geral.
A mestre em ciência dos alimentos Fabiane Cerqueira ressalta essa diferença e a importância de os consumidores estarem atentos.
“Esses plásticos não são digeridos pelo corpo humano e podem conter também produtos químicos que são tóxicos, podendo causar problemas digestivos e danos em órgãos. O glitter usado em decoração vai informar na embalagem, que é usado para fins decorativos e pode apresentar também a descrição de não tóxico, mas na lista de ingredientes estará o plástico (PP ou PET)”, afirma.
Esses produtos compostos de plástico, quando consumidos, podem gerar problemas digestivos, danos em órgãos e intoxicações graves por metais, de acordo com a quantidade e frequência de consumo. O diretor do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia (CIATox-BA) e farmacêutico bioquímico, Jucelino Nery, explica o perigo da ingestão de glitter.
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“O risco da ingestão do glitter está relacionado aos pigmentos que são utilizados para dar a coloração, sendo à base de diferentes metais, a depender da cor, como zinco, cobre, chumbo, titânio e outros”. As faixas etárias mais vulneráveis são as crianças, por conta da maior frequência de contato e estarem em desenvolvimento, além dos idosos e gestantes, com maior risco para os fetos.
Juscelino pontua também que o volume de consumo e a frequência são fatores chaves. “O consumo acidental a quantidades muito pequenas, é provável que não leve ao desenvolvimento de manifestações clínicas, mas deve ser evitado. Ingestões, a depender da quantidade, podem causar desde distúrbios intestinais, como diarreia e vômito, até intoxicações graves por metais. A ingestão frequente pode levar à intoxicação crônica por metais”, diz.
A moda da vez
Nos últimos cinco anos, a Bahia teve dois casos registrados de intoxicação com gravidade leve, ambos por ingestão acidental de glitter. Um aconteceu em 2020 e outro em 2022.
Porém, neste momento, a utilização de glitter em doces e bolos é a moda atual da confeitaria, conforme a criadora da Fina Flor Confeitaria Clássica e chef patissier, Vanessa Alcântara.
“Hoje, os doces e bolos acompanham a paleta de cores da decoração. A customização dos doces, mesmo os tradicionais, foram repaginados para aderir aos projetos de decoração dos eventos. Os doces hoje são verdadeiras joias comestíveis e toda jóia tem brilhos”, comenta.
Ela reforça que sempre toma cuidado para utilizar apenas o glitter comestível em seus projetos, porém entende como a confusão acontece. “O glitter comestível e o não comestível são acomodados nas prateleiras das lojas de confeitaria na mesma sessão alimentícia e ambos possuem a mesma estética nas embalagens. Inclusive se perguntar aos profissionais da loja como encontrar o comestível te encaminham para a ala em que estão ambos os produtos”, diz
Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) declarou que “plásticos, incluindo o polipropileno (PP) micronizado, não estão autorizados para uso na composição de alimentos, sejam eles preparados ou industrializados”.
A Agência reforçou que os consumidores devem estar atentos aos rótulos, que indicam se há plástico na composição do produto - muitas vezes identificado como PET ou PP, dois tipos de plásticos.
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