BAHIA
Metanol já matou dezenas de pessoas na Bahia há 26 anos; relembre
Casos ocorreram em dez municípios devido ao consumo de bebidas contaminadas

Por Victoria Isabel

A Bahia registrou o primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol no estado em 2025. Conforme anunciado pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o paciente, um homem de 56 anos, foi internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Queimadinha, em Feira de Santana, no domingo, 28, e faleceu na madrugada desta sexta-feira, 3.
No entanto, esta não é a primeira vez que o estado registra casos de contaminação. Um dos episódios mais emblemáticos de mortes por intoxicação causada por bebidas adulteradas com metanol no Brasil ocorreu justamente na Bahia.
Em 1999, 35 pessoas morreram em 10 cidades do estado após ingerirem cachaça contaminada com metanol.
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Além dos óbitos após o consumo da substância, cerca de 400 pessoas apresentaram sintomas de intoxicação. Os casos foram registrados em dez municípios baianos, entre eles:
- Nova Canaã
- Dário Meira
- Ibicuí
- Poções
- Itiruçu
Segundo documentos da Polícia Técnico-Científica do Instituto Médico Legal da Bahia, na época, as análises de amostras de bebidas e de sangue de pessoas intoxicadas mostraram que a quantidade de metanol variava entre 2,85 e 20 ml a cada 100 ml de álcool. Autoridades baianas classificaram o caso como adulteração criminosa.
Registros da época
O Portal A TARDE, utilizando o Centro de Documentação do Grupo A TARDE (Cedoc), resgatou relatos da época. No dia 4 de março de 1999, houve o registro de que centenas de pessoas se aglomeraram no único hospital de Nova Canaã em busca de informações sobre a bebida.
Esse foi o caso de Fernando dos Santos, que perdeu a mãe e a irmã em menos de 24 horas, além de um vizinho. "Eles bebiam muito e o médico legista de Conquista me disse que o fígado de minha mãe só restava lama, como se fosse cirrose. O Jésse, que era meu vizinho, se sentiu mal e contou que não estava enxergando mais nada, aí morreu".

Confirmação do Metanol
Em 12 de março, a contaminação por metanol foi confirmada, e as autoridades apontaram indícios de intenção criminosa na adulteração da bebida.
"Diante da quantidade de metanol encontrada nas amostras, podemos dizer que a contaminação não ocorreu de forma acidental, pelo uso de recipientes com resíduo de metanol, por exemplo. Houve intenção criminosa de lucro por parte dos responsáveis pela fabricação da aguardente contaminada", disse o Secretário estadual de Saúde.


Suspeita de venda em São Joaquim
Ainda em março de 1999, surgiu a suspeita de que a cachaça contaminada estivesse sendo comercializada em São Joaquim. A hipótese ganhou força após o paciente Adilson Fraga, internado no Hospital Roberto Santos com sintomas de intoxicação por metanol, ter chegado à unidade em um ônibus que fazia a linha entre São Joaquim e o Bairro da Paz.

Vereador preso
No dia 8 de maio de 1999, o vereador Ranulfo José Moreira (PEL) foi preso após ser apontado como um dos acusados pela morte de 35 pessoas da região Sudoeste, que consumiram cachaça contaminada com metanol, conforme laudo emitido pelo Laboratório Central (Lacen), em Salvador.

Caso em Feira de Santana
O homem de 56 anos morreu na madrugada desta sexta-feira, 3, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Queimadinha, em Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador. O caso foi confirmado pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Ainda segundo a Sesab, amostras serão coletadas e encaminhadas para análise laboratorial, com resultado previsto em até sete dias, para confirmar ou descartar a hipótese de intoxicação por metanol.
A pasta já havia emitido orientação às unidades de saúde da rede privada e às portas de urgência e emergência da rede pública para que estejam atentas a possíveis situações clínicas compatíveis com intoxicação por metanol e que quaisquer notificações sejam imediatamente comunicadas, possibilitando rápida investigação e adoção das medidas necessárias.
O caso será acompanhado pelas equipes de vigilância do estado e do município, em articulação com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia, reforçando a integração das ações de monitoramento e investigação.
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