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OMS considera mudar nomenclatura da varíola dos macacos

Objetivo seria evitar preconceito contra os pacientes infectados, além de maus tratos contra os animais

Publicado terça-feira, 09 de agosto de 2022 às 18:36 h | Autor: Da Redação
Nome da doença é baseado na descoberta do vírus em macacos, no ano de 1958
Nome da doença é baseado na descoberta do vírus em macacos, no ano de 1958 -

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estuda a possibilidade de renomear a doença conhecida como “varíola dos macacos” (Monkeypox, em inglês). O objetivo seria evitar preconceito contra os pacientes infectados, além de maus tratos contra os animais.

No Brasil, a desinformação envolvendo o nome da doença culminou em casos de maus tratos contra os animais. Na última semana, quatro saguis-de-tufos-pretos e um filhote de macaco-prego foram encontrados mortos em São José do Rio Preto, São Paulo, com sinais de intoxicação. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lamentou a situação nesta terça-feira, 9, e reafirmou que os surtos atuais acontecem pela transmissão entre humanos.

"As pessoas têm que saber que a transmissão que estamos vendo agora acontece entre humanos", destacou a porta-voz da OMS, a epidemiologista Margaret Harris.

O nome da doença é baseado na descoberta do vírus em macacos, no ano de 1958. Porém, como cita a OMS, no surto atual, a principal forma de contágio é pelo contato entre pessoas.

Por isso, de acordo com a CNN, cientistas defendem que as mudanças na nomenclatura são necessárias inclusive para evitar equívocos sobre a forma de transmissão e prevenção.

Margaret Harris ressaltou que a estigmatização de pessoas infectadas ou a desinformação envolvendo animais na transmissão da doença pode prejudicar o controle do surto.

“O mais importante é: qualquer estigmatização, de qualquer pessoa infectada, irá aumentar a transmissão por que se as pessoas estiverem com medo de se identificar como infectadas, elas não irão procurar ajuda, não vão tomar precauções e veremos mais transmissão. Não estigmatize nenhum animal ou nenhuma pessoa, por que se você fizer isso, teremos um surto muito maior”, alertou.

Em junho, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, chegou a anunciar que o órgão estava avaliando um novo nome para a doença. Até o momento, não foi divulgada uma mudança oficial. 

“A OMS também está trabalhando com parceiros e especialistas de todo o mundo para mudar o nome do vírus da varíola dos macacos, seus clados e da doença que causa. Faremos anúncios sobre os novos nomes o mais rápido possível”, afirmou Adhanom à imprensa no dia 14 de junho.

Segundo a CNN, a proposta recebeu apoio de cerca de 30 pesquisadores de diversos países que publicaram uma carta à comunidade científica global com um pedido urgente de alteração do nome do vírus.

“Embora a origem do novo surto global de MPXV ainda seja desconhecida, há evidências crescentes de que o cenário mais provável é que a transmissão humana entre continentes esteja em andamento por mais tempo do que se pensava anteriormente”, afirma o conjunto de especialistas, que inclui o virologista brasileiro Tulio de Oliveira.

Outro ponto discutido pelo grupo é o estigma que vincula o atual surto, presente em múltiplos países, à África.

“No contexto do atual surto global, a referência contínua e a nomenclatura deste vírus sendo africano não é apenas imprecisa, mas também discriminatória e estigmatizante”, afirmam os cientistas.

O Departamento de Saúde e Higiene Mental de Nova York se manifestou pedindo a OMS o nome da doença, afirmando que o termo “Monkeypox” pode contribuir para o a discriminação de “pessoas de cor”. A entidade recomenda a adoção de linguagens neutras como “hMPXV” ou “MPV”.

“NYC se junta a muitos especialistas em saúde pública e líderes comunitários que expressaram sua séria preocupação em continuar a usar exclusivamente o termo “monkeypox” devido ao estigma que pode gerar e à história dolorosa e racista na qual terminologia como essa está enraizada para comunidades de cor. ‘Monkeypox’ é um nome impróprio, pois o vírus não se origina em macacos e só foi classificado como tal devido a uma infecção observada em primatas de pesquisa”, diz o ofício.

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