SAÚDE
Saiba como correr pode aumentar o risco de câncer colorretal
Estudo revela alta incidência de pólipos em corredores de maratonas e ultramaratonas
Por Isabela Cardoso

Jovens, magros e extremamente ativos, alguns chegando a correr ultramaratonas de 160 km. Esses eram os perfis de três pacientes atendidos pelo oncologista Timothy Cannon, do Inova Schar Cancer Institute, na Virgínia (EUA). Para sua surpresa, todos foram diagnosticados com câncer de cólon avançado, mesmo sem fatores de risco conhecidos.
A situação levantou uma questão inquietante: o exercício físico em excesso poderia estar relacionado ao aumento de casos da doença?
Intrigado, Cannon iniciou um estudo com 100 corredores de maratona e ultramaratona, entre 35 e 50 anos, submetidos a colonoscopias. O resultado impressionou: quase metade apresentou pólipos, e 15% tinham adenomas avançados, lesões com alto potencial de se tornarem cancerosas.
A taxa supera em muito a média da população geral na mesma faixa etária, que varia de 4,5% a 6%. O índice entre corredores extremos também foi maior que o observado em grupos de alto risco, como nativos do Alasca, que registram 12%.
“Fiquei surpresa — você pensaria que correr é super saudável”, contou a maratonista Laura Linville, 47, que descobriu sete pólipos, alguns de tamanho significativo. Apesar do susto, ela diz que continuará competindo, mas com exames frequentes de prevenção.
Aumento de câncer colorretal em adultos jovens preocupa especialistas
O estudo surge em meio a um cenário global de aumento de câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos. A tendência levou, em 2021, à redução da idade recomendada para a primeira colonoscopia nos EUA, de 50 para 45 anos.
Leia Também:
Até então, fatores como sedentarismo e obesidade eram apontados como principais causas. O achado em corredores de alta performance, portanto, desafia explicações tradicionais e reforça a necessidade de novas pesquisas.
“Você nunca quer dar às pessoas uma desculpa para não se exercitarem. Mas acredito que o exercício extremo pode aumentar o risco desse câncer”, afirmou Cannon, que também já correu a Maratona de Nova York.
Possíveis causas e hipóteses médicas
Entre as hipóteses levantadas, está o impacto da inflamação crônica no corpo de corredores de longa distância. Durante provas intensas, o fluxo sanguíneo é desviado do cólon para os músculos, podendo causar lesões temporárias no intestino. A repetição desses danos, segundo especialistas, pode favorecer mutações celulares.
Outra explicação considerada é o mascaramento de sintomas. Atletas muitas vezes atribuem sinais como diarreia, cólicas ou presença de sangue nas fezes ao chamado “trote do corredor”, sem investigar causas mais sérias.
“Isso nos mostra que há um sinal importante aqui. Não esperaríamos taxas tão altas de adenomas de risco nessa faixa etária”, avaliou David Lieberman, professor emérito da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon.
O recado para quem corre longas distâncias
Apesar dos resultados preocupantes, médicos reforçam que não há motivo para abandonar a prática esportiva. O exercício segue sendo aliado contra várias doenças, inclusive o câncer.
O alerta é para atenção redobrada aos sinais do corpo e adesão às triagens médicas. “Não diria às pessoas para pararem de correr; eu diria para correrem. Mas isso reforça a importância de ouvir seu corpo”, afirmou Eric Christenson, oncologista da Johns Hopkins.
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes