ENTREVISTA
Tuca Fernandes avalia axé music das antigas: “Não volta nunca mais”
Cantor abordou a evolução do movimento, desde o seu surgimento até os dias atuais
Por Edvaldo Sales

O cantor Tuca Fernandes, que se consagrou como um dos principais representantes da axé music, fez uma avaliação do atual cenário do movimento. Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, ele abordou a evolução do estilo, desde o seu surgimento até os dias atuais. Segundo o artista, o axé “influenciou muito a música nacional” e “conquistou o mundo”.
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“Foi um boom incrível. Foi muito legal. A gente fazia muitos shows e micaretas. Eu me lembro que eram umas 40, 50 micaretas fora de época”, disse. Tuca também falou sobre as afirmações que algumas pessoas fazem de que o axé está morrendo ou com os dias contados. “O axé não morreu e não vai nunca morrer. Pode haver uma transformação”, ressaltou.
Na oportunidade, o cantor comentou sobre a nova geração de músicos do movimento. Para ele, “sempre vai haver espaço para os novatos”. “Tem espaço, pode interagir, fazer duetos, feat com artistas mais velhos. Isso sempre vai ter. Eu acho que a gente tem que abrir o leque mesmo e ouvir a galera nova que está chegando, mesmo eles fazendo um som diferente do que era”, pontuou.
Confira a entrevista completa:
A TARDE: A axé music completa 40 anos em 2025. Como você avalia o impacto dessas quatro décadas do movimento na história da música baiana e brasileira?
Tuca Fernandes: É um impacto muito grande. Se observar, no início da axé music, em 1985, a Bahia vivia uma ebulição de duas vertentes da música popular brasileira, que eram o surgimento do rock in roll e, junto a isso, tinha o surgimento da nossa axé music, com o Luiz [Caldas], com os trios elétricos invadindo o interior, ainda não era uma invasão nacional, a gente só começou a sair [da Bahia] no início dos anos 1990. Quando começou mesmo, era uma mistura, tinha a explosão do rock nacional e a explosão da música baiana aqui.
Depois foi caminhando para o início dos anos 1990, as micaretas começaram a acontecer a partir de 1993 e 1994. Já foi 10 anos depois do surgimento da axé music. Aí realmente a gente conquistou o mundo. O próprio Faustão falava que a Bahia era um estado disfarçado de gravadora, todo mundo gravava, saía daqui e fazia sucesso no Brasil inteiro. Foi um boom incrível. Foi muito legal. A gente fazia muitos shows e micaretas. Eu me lembro que eram umas 40, 50 micaretas fora de época. Influenciou muito a música nacional, qualquer festa que você fizesse, tinha que ter uma banda baiana.
A TARDE: Há quem diga que o axé morreu ou que ele está com os dias contados. Qual a sua avaliação sobre essas falas?
Tuca Fernandes: O axé não morreu e não vai nunca morrer. Pode haver uma transformação. ‘Ah, não houve renovação, um novo Bel’. Não vai existir um novo Bel. Não tem como. Bel é Bel, acabou. ‘Ah, não tem um novo Durval, Tuca, Timbalada’. Não vai ter outro Saulo, não vai ter outra Timbalada, não vai ter. O que vai ter é uma transformação. Acha que existiu um outro Beatles? Não existiu outro Beatles. Existiu outro Led Zeppelin? Não existiu outro Led Zeppelin. Existiu outro Queen? Não existiu outro Queen. Rock in roll morreu? O rock in roll não morreu. Vai haver uma transformação.
Quem é apaixonado por Bel, Durval, Saulo, Tuca, Timbalada, Eva, essa galera, vai curtir esses artistas até quando Deus der saúde a todo mundo para ficar tocando. E depois vai ter transformação. Tem BaianaSystem aí que faz um sonzaço. É Bahia, é axé music, é o que for. Os caras são fenomenais. Tem muita coisa para acontecer agora.
A TARDE: Recentemente, o cantor Tatau falou sobre a nova geração da axé music. Segundo ele, os novatos estão focando muito em números e cifras e esquecendo de olhar para a história. Você concorda? Por quê?
Tuca Fernandes: Olha, é tão difícil falar em números hoje em dia, porque, realmente, quando a gente começou, para gravar uma música, gravar uma fita demo, era um absurdo. [Para] mostrar a sua música, você tinha que ter uma gravadora, tinha que gravar, levar na rádio. Caramba, hoje em dia é muito mais fácil. Você chega em casa, pega um violão, filma, você canta, aquela música toca em alguém, o cara vai e grava. Ou então a própria produtora vai, chama você e grava, porque gostou de sua música.
Hoje em dia é muito número, seja ele número de cifras ou de views, que são transformados em cifras, porque quanto mais views você tem, você acaba vendendo mais shows. Realmente mudou muito, desde que a gente começou.
A TARDE: Como você se enxerga dentro desse atual cenário da axé music e da música baiana no geral? Acredita que há espaço para novatos e veteranos interagirem e fortalecer o movimento?
Tuca Fernandes: Sempre vai haver espaço para os novatos, que estão fazendo a nova música baiana. Tem espaço, pode interagir, fazer duetos, feat com artistas mais velhos. Isso sempre vai ter. Eu acho que a gente tem que abrir o leque mesmo e ouvir a galera nova que está chegando, mesmo eles fazendo um som diferente do que era. Aquele axé não vai voltar nunca mais, esse axé que a gente viu lá atrás, que começou com o Luiz [Caldas], Banda Reflexu's, Banda Mel, e que hoje tem tanta gente fazendo ainda. [Os novatos] vão copiar isso? Não tem como copiar. Por que vai copiar isso, fazer uma banda igual? Para mim, isso não é renovação. Renovação é se inspirar e fazer um novo som.
A TARDE: Sobre o Carnaval de 2025, o que os seus fãs podem esperar?
Tuca Fernandes: Eu estou muito feliz. O meu Carnaval começa no Furdunço, no domingo. Aí depois eu toco na quarta-feira, na festa do Bloco Q'Nada, depois eu toco em um camarote na quinta. [Depois] eu viajo para o interior de Minas. Eu vou me apresentar em várias cidades por lá. E encerro o meu Carnaval na terça-feira em Porto Seguro. Eu estou muito feliz. Claro, o verão está aí, fiz vários shows. O Carnaval deste ano é mais tarde, no final de fevereiro, termina no início de março. A gente tem que pensar o seguinte: o ano só começa quando acaba o carnaval.
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