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MINERAÇÃO

A Bahia no radar internacional: terras raras do Vale do Jiquiriçá viram alvo

O Vale do Jiquiriçá pode se tornar um polo mundial de mineração

Iarla Queiroz

Por Iarla Queiroz

15/11/2025 - 6:34 h
Minério de terras raras no Vale do Jiquiriçá
Minério de terras raras no Vale do Jiquiriçá -

No interior da Bahia, o Vale do Jiquiriçá começa a ganhar destaque em uma disputa silenciosa, mas estratégica, por minerais capazes de redefinir a economia e a tecnologia mundial. Ubaíra, Jiquiriçá e Mutuípe abrigam reservas de elementos pouco conhecidos, como disprósio e térbio — fundamentais para ímãs de alta tecnologia, motores elétricos, turbinas eólicas, satélites e sistemas de defesa.

À frente desse movimento está a Borborema Mineração, braço brasileiro da australiana Brazilian Rare Earths (BRE), que anunciou investimentos de R$ 3,5 bilhões para a produção de concentrado mineral e óxidos de terras raras, com início previsto em 2028. O projeto vem sendo acompanhado de perto pelo governo baiano, que reforça o compromisso com o desenvolvimento sustentável e a diversificação econômica.

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Terras raras: o ouro invisível do século 21

As chamadas terras raras formam um grupo de 17 elementos químicos — os 15 lantanídeos, além do escândio e do ítrio. Eles são indispensáveis para a tecnologia atual, presentes em ímãs permanentes de alta resistência, motores elétricos, turbinas eólicas, satélites, sistemas de defesa, robótica e até impressão 3D de alta precisão.

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Entre esses elementos, os “pesados” — como disprósio e térbio — são os mais escassos fora da Ásia, mas têm papel central na produção dos ímãs DyNdFeB, que sustentam as tecnologias ligadas à energia limpa, à robótica e à defesa.

Hoje, cerca de 70% da produção mundial de terras raras está concentrada na China, que controla 90% do refino global. Nesse cenário, o Brasil, com o segundo maior recurso natural no mundo, desponta com reservas estratégicas ainda pouco exploradas.

A Borborema afirma que a Bahia possui infraestrutura portuária estratégica, mão de obra qualificada e condições para a verticalização da cadeia produtiva, sendo esses os motivos que fizeram a Brazilian Rare Earths aterrissar em solo baiano para exploração de terras raras.

Elementos que formam as terras raras
Elementos que formam as terras raras | Foto: Divulgação

Lista dos elementos que compõem as terras raras:

Elementos de terras raras leves:

Esses são os elementos que possuem números atômicos menores.

  • Lantânio (La)
  • Cério (Ce)
  • Praseodímio (Pr)
  • Neodímio (Nd)
  • Promécio (Pm)
  • Samário (Sm)
  • Európio (Eu)
  • Escândio (Sc)
  • Ítrio (Y)

Elementos de terras raras pesados:

Esses elementos possuem números atômicos maiores.

  • Gadolínio (Gd)
  • Térbio (Tb)
  • Disprósio (Dy)
  • Hólmio (Ho)
  • Érbio (Er)
  • Túlio (Tm)
  • Itérbio (Yb)
  • Lutécio (Lu)
Elementos na tabela periódica
Elementos na tabela periódica | Foto: Reprodução

Aplicações tecnológicas e cadeia produtiva

As terras raras encontram-se no cerne da economia moderna, com usos em:

  • Robótica: motores e atuadores de precisão;
  • Veículos elétricos: ímãs de alta eficiência;
  • Energia limpa: turbinas eólicas mais potentes;
  • Defesa: drones, radares e sistemas de orientação;
  • Eletrônicos: smartphones, computadores e impressão 3D.

A Borborema pretende produzir, inicialmente, concentrados minerais e, na segunda fase, avançar na cadeia produtiva com separação de óxidos de neodímio e praseodímio, além de concentrados de terras pesadas.

Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), cada emprego direto no setor mineral pode gerar até 13 empregos indiretos — o que, para este projeto, representa cerca de 2.000 postos adicionais na região.

Projeto Monte Alto e a atuação da Borborema

O projeto Monte Alto é liderado pela Borborema Mineração, que detém uma província mineral de Nível 1 com mais de 1 milhão de acres no Nordeste. De acordo com a empresa, as pesquisas realizadas em Ubaíra, Jiquiriçá e Mutuípe confirmaram a presença de minerais de terras raras em escala economicamente viável, o que permite operações otimizadas capazes de atender à demanda global por metais essenciais à transição energética.

A primeira fase do projeto prevê a produção de concentrado mineral de óxidos de terras raras, com investimento estimado em R$ 500 milhões e previsão de gerar 250 empregos diretos na construção e 200 na operação.

A segunda fase, com planta de separação de óxidos em Camaçari, terá investimento de R$ 3 bilhões, capacidade inicial de 15 mil toneladas por ano e geração de até 1.250 empregos na construção e 800 na operação.

Além das terras raras, a empresa já constatou a presença de outros minerais estratégicos, como escândio, urânio, nióbio, tântalo e titânio. Também há potencial para exploração de bauxita, com cerca de 568 milhões de toneladas declaradas, e gálio — essenciais para semicondutores e defesa.

Ao A TARDE, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE) informou que a Borborema já obteve parte dos direitos minerários necessários à implantação do empreendimento, com Relatório de Pesquisa aprovado pela Agência Nacional de Mineração.

Além disso, o governo mantém acompanhamento técnico e institucional, "reforçando compromisso com o desenvolvimento sustentável e a diversificação da base produtiva estadual."

Imagem ilustrativa da imagem A Bahia no radar internacional: terras raras do Vale do Jiquiriçá viram alvo
| Foto: Peggy Greb, US department of agriculture

Projeto Camaçari

Enquanto o Vale do Jiquiriçá concentra as etapas iniciais de beneficiamento e concentração mineral, a segunda parte da estratégia da Borborema mira o Polo Industrial de Camaçari. É lá que deve nascer a futura planta de separação e refino de óxidos de terras raras — uma etapa mais sofisticada e tecnológica da cadeia produtiva, que transforma o concentrado vindo de Ubaíra e Jiquiriçá em produtos de alto valor agregado voltados à indústria global de alta tecnologia.

A empresa explica que o projeto de Camaçari será fundamental para consolidar a Bahia como referência nacional na verticalização dos minerais estratégicos.

“Além de processar o concentrado do Projeto Monte Alto, a planta poderá utilizar insumos de outros projetos de terras raras do Brasil e do exterior, ampliando a capacidade produtiva e reduzindo a dependência de importações”, informou a Borborema.

Atualmente, o projeto encontra-se em fase de pesquisa e consolidação da rota tecnológica — um processo complexo e altamente especializado. A companhia firmou uma parceria com a Carester, empresa francesa considerada referência mundial em separação de terras raras. A colaboração deve contribuir para o desenvolvimento de uma rota de separação inovadora, capaz de colocar o Brasil em maior patamar no mercado de metais críticos.

De acordo com a Borborema, o plano é que essa unidade funcione como um polo de inovação e processamento avançado, combinando eficiência energética, sustentabilidade e geração de empregos qualificados. Por se tratar de uma iniciativa inédita no país, os prazos de implantação ainda estão sendo definidos, com foco em garantir segurança técnica e ambiental em todas as etapas.

Impactos geopolíticos e atenção internacional

As terras raras do Brasil chamam atenção mundial. Em 2025, por exemplo, o governo dos Estados Unidos declarou interesse público nas reservas brasileiras de terras raras, reconhecendo a região como estratégica para tecnologia e defesa. O monopólio da China pressiona outros países a buscar alternativas.

A Borborema aponta que a concentração da produção na China gera desafios globais, mas também oportunidades. "O fornecimento a partir de um país neutro como o Brasil contribui para diversificar a oferta e fortalecer a posição nacional no mercado internacional”.

Brasil como uma das principais reservas de terras raras do mundo
Brasil como uma das principais reservas de terras raras do mundo | Foto: Reprodução / Redes Sociais

Legislação e gestão ambiental

Apesar de sua relevância estratégica, o setor de terras raras no Brasil ainda não possui um marco regulatório específico. O tema é tratado através do Projeto de Lei n° 2210, de 2021. A tramitação está parada no Senado Federal desde agosto de 2024, quando a apreciação foi adiada pela Secretaria de Apoio à Comissão de Meio Ambiente.

Na Bahia, o processo de licenciamento ambiental do Monte Alto foi iniciado em dezembro de 2024, com o protocolo do Formulário de Caracterização da Atividade (FCA). A empresa projeta concluir o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA) no início de 2026.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE) reforça que o governo acompanha todas as etapas de licenciamento e infraestrutura, e destaca a previsão de início da operação em 2028 como um marco estratégico para o estado.

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