ELEFANTE BRANCO
'Projeto casca': impasse ameaça conclusão de prédio parado há 9 anos
Novo PAC destina R$ 35 milhões para a obra, mas, superintendência de infraestrutura da UFBA desafia decisão da Escola Politécnica

Por Alan Rodrigues

Estudantes da escola Politécnica da UFBA (Universidade Federal da Bahia - Epufba) ingressaram no Ministério Público Federal para impedir que a Reitoria da Universidade receba os R$ 35 milhões destinados pelo Governo Federal para conclusão de um novo prédio da unidade, cuja obra está paralisada desde 2016.
O motivo é a divergência entre grupos de alunos e professores acerca do projeto, contemplado pelo Novo PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento), mas contestado pela Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sumai), apesar de ter sido aprovado pela congregação da Epufba, órgão máximo da unidade.
O diretório acadêmico dos cursos de engenheria de produção, de controle e automação, engenharia elétrica e química apontam desvio de finalidade e atribuem o impasse às questões políticas.
O projeto aprovado pela congregação da Politécnica iria abrigar os cursos de engenharia industrial (química, de produção, automação, ambiental e mecatrônica) e de engenharia elétrica e computação, mas sem deixar de atender aos demais cursos.
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A possibilidade de desmembramento está na origem da resistência que, segundo o diretor da Epufba, Marcelo Embiruçu, se deve aos laços afetivos de alguns alunos com professores que são contra a criação de novos cursos.
Embiruçu lembra que o projeto do novo prédio tem sido discutido ao longo dos últimos três anos, tendo sido, inclusive, bandeira de campanha de sua candidatura à direção.
"Foram dezenas de reuniões, no fórum adequado, que é a congregação da escola Politécnica, órgão máximo da instituição", relata o diretor, que classifica como antidemocráticas e golpistas as ações que visam impedir a conclusão do prédio.
"Todos tiveram direito a voz, é uma escola muito complexa, o consenso é muito difícil e na democracia, quando há discenso, o que resolve é o voto", argumenta o diretor.
Projeto 'casca'
O prédio atual é dividido em três blocos verticais, A, B e C, e o prédio inacabado, na rua Caetano Moura, no bairro da Federação, em Salvador, teria mais dois blocos, D e E. Segundo Embiruçu, os espaços continuariam a ser compartilhados, mas o desmembramento daria visibilidade a outros cursos.
"Algumas engenharias ficam muito opacas, sobrepostas por outras engenharias. Cada engenharia é um mundo, a Politécnica é uma universidade à parte", diz o diretor, em defesa do desmembramento dos cursos.
Embiruçu questiona a proposta de transformar o prédio num pavilhão de aulas, os antigos PAF´s, modelo abandonado pela UFBA e que não garantiria a utilização do espaço apenas pela Politécnica.
"Um PAF serve à toda a universidade, esse modelo foi vedado pelo Reuni (programa de reestruturação das universidades federais lançado em 2007)", contesta o diretor, lembrando que, sem definir a utilização do espaço, o projeto não poderia incorporar as instalações necessárias para laboratórios, por exemplo. Seria o que ele chama de "projeto casca'".
A escola Politécnica da UFBA abriga 13 cursos de graduação e 15 de pós-graduação.
Casa de ferreiro...
Na reunião do Conselho Universitário da UFBA (Consuni) na última terça-feira, 9, Marcelo Embiruçu se refere à proposta da Sumai como uma aberração técnica, que "ofende tanto a engenharia quanto a arquitetura".

O mais impressionante é que isso seja proposto por quem, em última análise, é responsável por formar futuros engenheiros, lembrando o ditado popular: "casa de ferrieiro, espeto de pau".
"Como é possível se fazer um projeto elétrico de uma edificação sem saber o seu uso?", indaga o diretor.
Ele alerta que, na hipóteses de se executar o projeto defendido pela Sumai, a obra resultaria num prédio oco, configurando uma temeridade do ponto de vista da gestão pública, uma vez que, sem a devida destinação, não teria condições de uso, consumindo milhões de reais de dinheiro público e ainda assim demandando nova licitação para equipar o prédio.
Com base nisso, os estudantes ingressaram no MPF. Alguns deles, com assento no Consuni, foram ouvidos pela reportagem de A TARDE e atribuem o impasse à superintendente da Sumai, Tatiana Dumêt, ex-diretora da Politécnica.
Para os discentes, a proposta apresentada por Tatiana é meramente cosmética, "uma fachada bonita para quem vê de fora mas instalações sem função". Eles temem que, caso a indefinição se prolongue, o recurso aprovado retorne para a União, como já ocorreu em 2018 e 2023.
A TARDE procurou a assessoria de comunicação da Reitoria da UFBA, que informou apenas que o termo de referência para a construção somente será homologado após a análise do novo projeto, ignorando a decisão da congregação.
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