BRASIL
Décimo dia de COP30 em Belém começa após promessas verdes e frustrações reais
Lula pede recursos e TFFF anuncia R$ 1 bilhão de euros, enquanto acordo final patina no financiamento

Por Georges Humbert*

Nesta quinta, de feriado nacional, marca o décimo dia da COP30, a “Conferência das Partes” que se autodenomina o epicentro da luta climática global, o ar úmido da Amazônia pareceu ainda mais carregado de expectativas não cumpridas.
Enquanto líderes mundiais desfilam por pavilhões reluzentes e anunciam bilhões em promessas, a realidade no chão – ou melhor, na lama das ruas alagadas de Belém – expõe as fissuras de um evento que, mais uma vez, flerta com o greenwashing corporativo e o estatismo climático ineficaz.
O dia de ontem começou com o “COP30 Morning Brief”, um evento que reuniu líderes brasileiros e internacionais para destacar o papel das mulheres – especialmente as mais afetadas pelas mudanças climáticas, como as ribeirinhas e indígenas da região Norte.
Louvável na teoria, mas crítico na prática: onde estão as metas vinculantes para fortalecer essas comunidades?
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O presidente Lula, em mais uma de suas tentativas de mediar entre nações, ouviu apelos urgentes de cientistas planetários por cortes imediatos em emissões.
Na prática, o que se viu foi mais retórica do que resolução. Lula, aliás, repetiu o acertado mantra de pedir recursos aos países ricos.
Entre os destaques positivos –, o governo brasileiro anunciou três grandes programas internacionais para proteção florestal, incluindo a Tropical Forest Forever Facility (TFFF), que recebeu uma injeção de 1 bilhão de euros da Alemanha nos próximos dez anos.
Berlim, aliás, ainda ecoa a polêmica recente: o chanceler Friedrich Merz depreciou Belém em comparação à “beleza” alemã, provocando respostas afiadas de Lula e do prefeito local.
Mas convenhamos: enquanto a Alemanha promete bilhões, sua indústria continua emitindo CO2 a rodo. É hipocrisia europeia em dose dupla, disfarçada de generosidade.
Outro momento simbólico foi a oficialização da demarcação da Terra Indígena Comexatibá, na Bahia, após anos de conflitos.
Um avanço para os povos originários, sem dúvida, mas se desacompanhado de medidas sociais e econômicas, será mais do mesmo: comunidades, população e poder público em conflito, com prejuízo para todos e para a sustentabilidade.
Nas discussões que se afunilam para este décimo dia, a representatividade de grupos vulneráveis, como mulheres negras e indígenas, ganham espaço no rascunho do acordo – graças a vozes como Thaynah Gutierrez, do Instituto da Mulher Negra. Contudo, o texto preliminar da “Mutirão decision” (Artigo 9.1 do Acordo de París) patina em negociações sobre financiamento. Países desenvolvidos debatem fundos como o de Adaptação e o Verde para o Clima, mas sem avanços concretos. Onde está o compromisso real com os US$ 100 bilhões anuais prometidos - e devidos - há anos?
Em vez disso, pacotes vagos e dependentes de voluntarismo, enquanto o oceano – tema de 2025 – sofre com acidificação e perda de biodiversidade, como alertou o World Resources Institute.
Não faltaram controvérsias, neste último dia, culturais, que dão o tom daquilo que está por vir.
Chamou a atenção, no particular, uma obra chinesa exibida no evento provocou reações furiosas de líderes evangélicos nas redes sociais, acusando-a de blasfêmia.
Isso reflete o clima de caos que reverbera nesta COP30: um circo onde o clima é coadjuvante de egos nacionais e lobbies corporativos.
Após uma semana de “progresso misto”, com novos fundos anunciados mas fricções evidentes, a COP30 em Belém corre o risco de ser lembrada não como a “COP da implementação”, mas como mais um fórum de fotos e frustrações.
Enquanto isso, fora dos pavilhões climatizados, Belém lida com enchentes e o caos urbano agravado pelo evento.
Para o futuro, isso serve como lembrete para líderes globais sobre a importância da sensibilidade cultural em eventos multilaterais.
*Georges Humbert é correspondente de A TARDE na COP30, em Belém.Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
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