CASO KLARA CASTANHO
Leo Dias é denunciado pela Federação Nacional dos Jornalistas
Entidade encaminhou denúncia para conselho de ética do sindicato por possível descumprimento do código de ética
Por Da Redação
Jornalista que divulgou informações sigilosas da atriz Klara Castanho, Leo Dias foi denunciado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) por possível descumprimento do código de ética da profissão. A denúncia foi encaminhada ao Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), segundo nota do FENAJ.
A atriz gestou e deu à luz a um bebê fruto de um estupro, decidiu entrega-lo à adoção, o que é permitido pela lei. No entanto, essas informações sigilosas foram vazadas por Leo Dias com colaboração da equipe do hospital em que estava, o que causou repúdio também de jornalistas, inclusive de fofoca, a exemplo de Leão Lobo. Também se manifestou contra o vazamento de informações o grupo A TARDE, através do seu editorial.
Além da FENAJ, que representa os jornalistas, uma outra entidade de classe, o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, também se posicionou sobre o caso e diz estar em apuração sobre o vazamento, que teve a colaboração da enfermeira do hospital em que Klara Castanho estava. Na segunda-feira, 28, a deputada estadual de São Paulo, Érica Malunguinho (PSOL), protocolou Projeto de Lei que garante sigilo de pessoas grávidas.
Confira a nota da FENAJ:
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), por meio da sua Comissão Nacional de Mulheres, vem a público solidarizar-se com a atriz Klara Castanho, que teve uma situação pessoal exposta pela mídia, resultando em ataques pessoais aos quais teve de se defender com uma carta aberta em seu perfil no Instagram. A atriz engravidou após um estupro e encaminhou a criança para adoção, cumprindo os trâmites legais. A situação, de caráter absolutamente particular e sigilosa, foi exposta pelo colunista do site Metrópoles, Leo Dias, no fim de semana. Após a repercussão negativa, o link foi retirado do site. Mas a divulgação já havia desencadeado uma onda de ódio nas redes sociais, com novos ataques à honra da atriz, causando sua revitimização num já doloroso momento pessoal. São fortes as evidências de que o colunista feriu o Código de Ética do Jornalista Brasileiro. Pela gravidade do caso, a Diretoria Executiva e a Comissão de Mulheres da FENAJ vão encaminhar denúncia contra o jornalista à Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, que deverá apurar o caso, dando amplo direito de defesa ao profissional. O caso serve para reafirmar a luta encabeçada pela FENAJ e Sindicatos de Jornalistas filiados pela criação do Conselho Federal de Jornalistas (CFJ), uma forma de garantir uma profissão digna, com um contrato público e ético com a sociedade. Temos lutado pelo Conselho Federal dos Jornalistas para que as próprias entidades sindicais possam controlar a emissão de registros profissionais e promover a cultura do respeito ao Código de Ética, por meio da fiscalização.
Violência
Tudo começou quando durante uma entrevista ao programa The Noite, do SBT, em 16 de junho, Leo Dias afirmou que estava vivenciando um dilema profissional sobre publicar ou não uma reportagem sobre uma atriz. Na ocasião, ele não citou nomes ou deu detalhes sobre o caso.
No entanto, em live no YouTube na sexta-feira, 24, Antonia Fontenelle contou que a pessoa envolvida na situação era uma atriz da Globo de 21 anos, que havia engravidado, escondido a gestação e entregado a criança para a adoção após o nascimento. Apesar de também não ter citado o nome de Klara, os internautas associaram o caso a ela, gerando muita especulação na web.
Com isso, Klara veio a público se pronunciar um dia depois, no sábado, 25. Ela publicou um relato em suas redes sociais e revelou que foi estuprada, engravidou e decidiu entregar o bebê diretamente para adoção.
"Não posso silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e um trauma que sofri", afirma ela. "Esse é o relato mais difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo”, disse ela em uma carta aberta onde repudia o vazamento do caso.
"Fui estuprada. Relembrar esse episódio traz uma sensação de morte, porque algo morreu em mim. Não estava na minha cidade, não estava perto da minha família nem dos meus amigos", continua ela.
Segundo Klara, a criança nasceu poucos dias após a gravidez ser descoberta, pois seu corpo não deu nenhum indício da gestação. "Foi um choque, meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Eu não tinha ganhado peso nem barriga", diz.
Klara segue contando que durante uma consulta, foi obrigada pelo médico a ouvir o coração da criança, o que representou uma nova violação.
"Naquele momento do exame, me senti novamente violada, novamente culpada. Em uma consulta médica contei ter sido estuprada, expliquei tudo o que aconteceu", diz.
"O médico não teve nenhuma empatia por mim. Eu não era uma mulher que estava grávida por vontade e desejo, eu tinha sofrido uma violência. E mesmo assim, o profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo", lamentou.
Na carta, Klara contou ainda que, pouco após o parto, quando ainda estava sob efeitos de anestesia, foi abordada por uma enfermeira que ameaçou contar sua história a um colunista. "Quando cheguei no quarto, já havia mensagens do colunista, com todas as informações. Ele só não sabia do estupro. Eu conversei com ele, expliquei tudo o que tinha me acontecido." A atriz não citou nomes e diz que foi procurada ainda por um outro colunista.
A artista disse que não fez boletim de ocorrência contra o estuprador porque se sentia envergonhada e culpada. "Tive a ilusão de que se eu fingisse que isso não aconteceu, talvez eu esquecesse, superasse. Mas não foi o que aconteceu. As únicas coisas que eu tive forças para fazer foram: tomar pílula do dia seguinte e fazer alguns exames. Somente a minha família sabia o que tinha acontecido."
Ela reafirma que todo o processo de adoção foi realizado dentro dos trâmites legais. "Tudo que eu fiz foi pensando em resguardar a vida e o futuro da criança. Cada passo está documentado e de acordo com a lei", afirma. Pela lei brasileira, Klara teria direito a fazer um aborto legal.
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