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DEBATE

"Ainda Estou Aqui": Salvador ainda tem colégio com nome de ditador

Sucesso do filme que concorre a três Oscar no próximo domingo, 2, reabre debate sobre ditadura na Bahia

Por Yan Inácio* | Portal Massa!

01/03/2025 - 13:49 h | Atualizada em 01/03/2025 - 14:47
O ex-presidente Arthur da Costa e Silva foi responsável por instituir o AI-5
O ex-presidente Arthur da Costa e Silva foi responsável por instituir o AI-5 -

É um fato que o sucesso de 'Ainda Estou Aqui' trouxe à tona os horrores da ditadura militar e a reacendeu debates sobre o período histórico no Brasil. Em fevereiro deste ano, por exemplo, por conta da repercussão do filme dirigido por Walter Salles, o Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a analisar a Lei da Anistia, que perdoou crimes cometidos pelos militares durante o regime.

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Mas não foi só na Justiça Federal que o debate fez com que as lembranças do regime fossem revisitadas. O longa de Walter Salles também está sendo usado como ferramenta pedagógica. Em Salvador, o professor do Departamento de História da Universidade Federal (UFBA) Carlos Zacarias tem promovido debates sobre a memória desse momento histórico nas escolas da capital soteropolitana.

Através do projeto de extensão "História e Memória da Ditadura Militar na Bahia a partir do nome de unidades escolares em Salvador" com estudantes da graduação, a exibição do filme que concorre a três prêmios do Oscar está colaborando para conscientizar estudantes e a população em geral sobre o último colégio com um nome que homenageia um líder do regime militar na Bahia.

Cinema e política

Em 1968, o então presidente Arthur da Costa e Silva foi responsável por instituir o AI-5, decreto que instaurou um dos períodos mais sombrios da ditadura militar. Além do fechamento do Congresso Nacional, da concessão de poderes totais ao mandatário e a censura indiscriminada de meios de comunicação, se espalhou no Brasil o modus operandi da tortura, desaparecimentos e assassinatos às pessoas que fossem contra o regime.

O ditador dá nome a um colégio estadual localizado na Ribeira, que é a última instituição de ensino a homenagear um líder autoritário no estado, de acordo com Carlos Zacarias. Uma das recomendações da Comissão Nacional da Verdade - instituída em 2012 com o intuito de promover o direito à memória e apurar violações aos direitos humanos durante o regime militar - é que governos federais, estaduais e municipais removam as homenagens a figuras que serviram à ditadura.

Zacarias conta que não tem o objetivo de levar a proposta de mudança de nome ao colégio, mas tem organizado ações para conscientizar os alunos em relação à memória do período autoritário. O lançamento de 'Ainda em Estou Aqui', em novembro do ano passado, foi a oportunidade perfeita para tratar da questão com os adolescentes do ensino médio.

Dentro da proposta do projeto de pesquisa com estudantes de licenciatura em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA), eles conseguiram dois ônibus para levar os alunos do Costa e Silva ao cinema Saladearte da UFBA.

"Esses alunos ficaram muito interessados com a possibilidade de conhecer essa história, a ideia é que a gente desenvolva esse projeto e reflita sobre esse significado e envolvendo não só estudantes, mas também professores e até a comunidade do entorno do colégio para saber o tipo de percepção que eles têm da ditadura e do nome que homenageia o ditador Costa e Silva", conta.

Além do aspecto pedagógico, levar os adolescentes do colégio na Ribeira também colaborou para democratizar o acesso deles a espaços antes desconhecidos: "Poder levar esse filme a estudantes da escola pública foi fantástico, eles sequer conheciam a sala de arte da UFBA, o que é também uma coisa incomum."

Lembrar para nunca mais esquecer

Em 1979, ainda durante o regime militar, foi promulgada a Lei da Anistia, que concedeu perdão aos condenados pelo regime autoritário e autorizou o retorno de figuras exiladas como Paulo Freire e Darcy Ribeiro ao Brasil. A legislatura também provocou controvérsias por dar liberdade àqueles que foram favoráveis à ditadura e cometeram torturas, assassinatos e perseguições.

Os 15 anos posteriores foram de silêncio em relação à violência da ditadura. "Para essas pessoas que foram perseguidos políticos, esquecer não é uma alternativa. Mas para quem não teve relação direta com esse processo de perseguição, ou não tem um familiar que foi desaparecido, é bola para frente, toca a vida", explica o professor do Departamento de História da UFBA Carlos Zacarias.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação da Bahia (SEC), para saber se há previsão de troca de nome do colégio, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.

*Sob supervisão de Bianca Carneiro e Jefferson Domingos

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