CONHEÇA
Hoje na Netflix: essa série tem uma das cenas de violência mais chocantes do ano
Essa produção que estreou agora vai te fazer refletir sobre os limites entre ficção e realidade
Por Bianca Carneiro

Vingança, ação e drama. É essa a mistura de gêneros que dá o tom a Pssica, a mais nova minissérie brasileira da Netflix. A produção, que chegou ao catálogo nesta quarta-feira, 20, é inspirada no romance homônimo de Edyr Augusto, conhecido por retratar com brutalidade e realismo a violência e o submundo criminal da região Norte. Entre Belém, Curralinho, Breves e até Caiena, na Guiana Francesa, a narrativa expõe rotas ilegais, fluxos de contrabando e dramas humanos escondidos nas margens da floresta.
A história é conduzida por três personagens que carregam destinos intensos. Janalice (Domithila Catete), arrancada da rotina em Belém, é empurrada para uma rede de exploração humana. Preá (Lucas Galvino), forjado entre os perigos das águas, assume a liderança de um grupo que vive à margem da lei. Já Mariangel (Marleyda Souto), marcada por uma tragédia familiar, transforma a dor em combustível para buscar justiça. Em comum, todos enfrentam a mesma sombra: a ‘pssica’, termo regional que designa um peso invisível, quase como uma maldição.
Com quatro episódios, Pssica tem direção de Fernando Meirelles, indicado ao Oscar por Cidade de Deus, e Quico Meirelles. O roteiro é assinado por Bráulio Mantovani, Fernando Garrido e Stephanie Degreas, enquanto a produção fica a cargo de Andrea Barata Ribeiro, com coprodução de Cristina Abi, da O2 Filmes.

Mas os fãs da obra de Edyr tiveram que esperar um pouco pela adaptação. Em uma entrevista concedida há 10 anos ao editor de A TARDE, Chico Castro, o autor de Pssica comentou as frequentes comparações entre seus livros e o cinema. Embora temesse ter o livro subjugado ao cinema, ele confirmou o interesse de Meirelles, hoje um dos responsáveis por levar a trama às telas em formato seriado.
“Fico incomodado quando dizem que meus livros dariam grandes filmes. Ouço isso como se dissessem que a grande arte é o Cinema. Meus livros são Literatura e pronto. Se forem filmados, é outra coisa, outro gênero, roteiros, enfim, tudo diferente. Sim, aqui em Belém há várias pessoas planejando isso, mas nada concreto. Há também solicitações de empresas grandes. Beto Brant [diretor de cinema] me disse que queria ler meus livros. Fernando Meirelles esteve na cidade há pouco tempo e gostou de Pssica. Ia ler Os Éguas”, afirmou na época.
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Adultização infantil
O Cineinsite A TARDE teve acesso prévio aos dois primeiros episódios. Por coincidência (ou por uma incômoda sintonia com a realidade), Pssica estreia em um momento em que o Brasil debate a adultização e a violência sexual contra menores. A prisão do influenciador Hytalo Santos, acusado de tráfico humano e exploração sexual infantil, expôs não apenas um caso isolado, mas a normalização de práticas que atravessam diferentes esferas da sociedade, muitas vezes silenciadas pelo machismo estrutural e pela impunidade.
Nesse cenário, a trama de Janalice não soa como ficção distante: é um espelho cruel da vida de muitas meninas brasileiras. Embora a série se preocupe em avisar aos espectadores sobre gatilhos sexuais, as cenas envolvendo a adolescente e o cafetão Zé Elídio (Cláudio Jaborandy) causam repulsa. Não porque sejam gráficas, mas porque expõem, sem rodeios, o lado mais nojento da pedofilia. As dores e os sentimentos da personagem são traduzidas pelos trechos do livro de Edyr Augusto.
A escolha da Ilha de Marajó como cenário torna a crítica ainda mais contundente. Trata-se de um território já marcado por denúncias e investigações de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, e que segue sendo negligenciado pelo Estado.

É impossível assistir à série sem refletir sobre o peso de ser mulher em um país que naturaliza o assédio, a pedofilia, a exploração e o estupro. O mais perturbador, no entanto, é constatar que as cenas não pertencem apenas ao universo da ficção: elas ecoam no cotidiano brasileiro e podem acontecer mais rápido do que um toque no controle remoto, sustentadas por um sistema que insiste em proteger os agressores e silenciar as vítimas.
Entrelaçadas à trajetória de Janalice, as histórias de Preá e Mariangel ampliam o alcance da narrativa ao revelar outras faces da violência que permeiam a região. Enquanto Preá é atravessado pela brutalidade do tráfico de drogas e pelas escolhas impostas pela marginalidade, Mariangel carrega as cicatrizes da homofobia e de uma tragédia familiar que a empurra para o desejo de justiça. Juntos, os três personagens formam um retrato coletivo de corpos e vidas marcados por opressões distintas, mas que se encontram na mesma lógica de exclusão e sobrevivência.
Mais Norte, por favor!

Em meio a intensidade de uma história com a de Pssica, há um aspecto que chama a atenção: a ambientação do Pará. A comida, a música, o povo - tudo isso compõe não apenas o cenário, mas um elemento vivo que pulsa junto com os personagens.
Ao assistir, o espectador é envolvido por cores, sabores e sons que transportam diretamente para o Norte do país. O Pará surge como personagem em si, revelando tradições, religiosidades e tensões sociais próprias, que atravessam a narrativa com força.
Justamente por isso, fica o desejo de ver ainda mais do Pará e do Norte retratados em tela. Uma cultura tão rica, diversa e ainda pouco explorada pela ficção televisiva brasileira merece espaço maior, com histórias que valorizem tanto a beleza quanto a sua complexidade. Mais do que pano de fundo, o Norte deve seguir sendo protagonista em narrativas que ampliem o olhar sobre o Brasil.
Pssica
Classificação etária: 18+
Gênero: Drama, Ação, Suspense
Criação: Bráulio Mantovani, Fernando Garrido e Stephanie Degreas
Elenco: Domithila Cattete, Lucas Galvino, Marleyda Soto, Sandro Guerra, Ricardo Teodoro, Welket Bungué, Andrés Castañeda, Fátima Macedo, entre outros
Lançamento: 20 de agosto de 2025
Temporadas: 1
Episódios: 4
Onde assistir: Netflix
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