Resistência recompensada
Confira a coluna do jornalista Leandro Silva

Não tem jeito. A imagem que marcou o triunfo no Ba-Vi de domingo foi Éverton Ribeiro, com o rosto machucado e o olho direito totalmente inchado, comemorando o primeiro gol do clássico, ao melhor estilo pirata.
O sorriso no momento da celebração contrastava com o semblante dele logo após o choque contra o joelho de um adversário, aos oito minutos. O camisa 10 poderia ter saído do jogo imediatamente, mas resistiu, no sacrifício, por mais nove minutos. Foi o bastante para ter a resistência recompensada com o terceiro gol dele em Ba-vis.
O time sentiu muito a ausência do capitão no restante do embate, mas pelo menos já estava em vantagem no placar. E soube sofrer e resistir durante o segundo tempo até a linda jogada de Rafael Ratão, com direito a drible da vaca, e a finalização de Juba.
Como torcedor, inegavelmente, sou fã de toda técnica, habilidade, elegância, inteligência e visão de jogo acima da média de Éverton, mas o que realmente me ganha é o nível de entrega do camisa 10, brilhantemente simbolizado pela imagem citada do domingo, mas exemplificada desde o início do ano, a cada desarme, a cada pique para recuperar bola praticamente perdida e também pela forma de se comportar. Isso faz com que nos sintamos representados e honrados em campo.

Hoje, acredito que Éverton Ribeiro seja praticamente uma unanimidade entre a nossa torcida. Justamente por isso é muito fácil exaltá-lo. Correrei o risco, porém, de enaltecer outro tipo de resistência, simbolizada no antigo capitão.
Kanu já foi bastante hostilizado e carregou o peso de alguns insucessos coletivos desde que chegou, no início do ano passado, mas não esmoreceu, perseverou e hoje parece ter um espaço muito mais consolidado.
Sei que o camisa 4 ainda atrai muita resistência. Na arquibancada, nas ruas ou redes, muitos se calam e aguardam qualquer falha, normal que seja, para voltar os ataques.

Pelo menos por enquanto, entretanto, parece haver uma trégua. Sem a concorrência de Gabriel Xavier, depois que ele também ganhou a titularidade com muitos méritos, a pressão contrária parece ter diminuído. E há de se reconhecer que ele também vem em clara evolução com o camisa 3 ao lado.
Contra o Botafogo, no jogo em que o Bahia estreou a linda terceira camisa, supostamente inspirada em um super herói - o nosso mascote Superman, o zagueiro ostentava um visual que parecia adaptado dos quadrinhos da DC ou da Marvel.
Com touca de natação e máscara, para estar em campo, após fratura no rosto e corte na cabeça, quase seria possível proteger a identidade secreta do nosso vigilante, caso ele ainda estivesse convivendo com tamanha rejeição.

Do primeiro time titular da era City, só ele, Marcos Felipe e Everaldo permanecem com o mesmo status, resistindo ao tempo e à bronca de muitos.
Não à toa, talvez sejam os três que mais convivem com o mesmo tipo de comportamento. Quando vão bem, as críticas dão um tempo, e os elogios, quando aparecem, são tímidos, mas basta uma oscilação, uma falha, um passe para trás, e a bronca chega, mais veloz do que Ademir em disparada.
Admiro a resiliência deles e torço para que a força mental, que os faz resistir, siga nos recompensando, como no domingo, quando Marcos Felipe foi fundamental para que o Esquadrão vencesse o clássico. Que a entrega de cada um, seja titular ou que entre nos acréscimos para decidir um triunfo, siga fazendo a diferença e que o momento de paz seja prolongado por bom resultado contra o Grêmio.