Ciência, arte e acaso
Confira a coluna de Tostão: cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970
A triste morte do jogador uruguaio Juan Izquierdo, 27 anos, decorrente de uma parada cardíaca por causa de uma arritmia, após passar mal durante o jogo no Morumbi entre Nacional e São Paulo, é um aviso, um alerta de que os clubes precisam ser rigorosos nas avaliações medicas dos atletas, embora alguns possam ter exames normais. A arritmia tem varias causas com gravidades diferentes.
Felizmente, Tite está ótimo após ter uma arritmia benigna por causa da altitude de La Paz. É um absurdo a Conmebol punir o Flamengo e Tite pela sua opinião científica de que é melhor chegar horas antes do jogo, contrariando a regra da Conmebol de que todos os times têm que chegar à véspera da partida por causa promoções protocolares do jogo.
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O jogador Ericksen teve uma parada cardíaca, anos atrás em um jogo da Dinamarca pela Eurocopa, foi ressuscitado imediatamente no gramado por meio de um desfibrilador. Ele continua jogando graças a um marca-passo e um desfibrilador portátil implantado no seu corpo.
A ciência esportiva trouxe grandes benefícios ao futebol, na parte médica, física, técnica, estratégica e emocional. Porém, no futebol, na política e no mundo existem sempre os negacionistas que não acreditam ou fingem que acreditam para não serem desacreditados. Há também o outro lado, os que acham que tudo é programado. Quando acontece uma jogada diferente, inesperada, falam que foi tudo ensaiado. A ciência não anula o acaso.
“Tudo parece fácil e concatenado quando ganhamos; tudo parece disperso e difícil quando perdemos. No entanto, é por tão pouco que se ganha ou se perde. O apito final estabiliza violentamente aquilo que, no transcorrer do jogo, parece um rio catastrófico de mil possibilidades, a nos arrastar com ele”. (Nuno Ramos, artista plástico).
Analistas costumam procurar uma única explicação sobre tudo que acontece no jogo. As muitas contusões musculares que tem acontecido no futebol brasileiro são, principalmente, por causa do excesso de jogos. Mas não é só isso. O futebol intenso, moderno, em que os jogadores não param de correr e ultrapassam os limites físicos, contribui também para os problemas musculares.
Dou grande importância que à ciência, à técnica, à estratégia e à arte de se jogar futebol sem ignorar o acaso. Com o passar do tempo, ficamos mais receosos, mais vulneráveis às armadilhas e surpresas do imponderável.
Com frequência, não há sincronia entre o resultado e a história de um jogo. Dezenas de imprevistos mudam as atuações e o placar. Depois da partida, tentamos explicar com detalhes técnicos e táticos o que não tem explicação.
No meio de semana, pela Copa do Brasil, tivemos quatro jogos equilibrados, com vitórias de dois mandantes e dois visitantes, com todas as partidas decididas nos detalhes. As estratégias usadas pelo Flamengo e Atlético-MG, foram corretas, cientificas, e funcionaram bem, por jogarem fora de casa, priorizando a marcação mais recuada e os contra-ataques.
O jogo é sempre planejado, ensaiado. Mas quando ele começa a ficar previsível, repetitivo, surge, ainda bem, com frequência o acaso, um craque, um artista para transgredir e reinventa-lo.