O julgamento de Bolsonaro
Confira a coluna Conjuntura Política

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro marcado para começar amanhã (2) no Supremo Tribunal Federal (STF) será um marco político importante para a nossa democracia. Se tivesse conseguido efetivar seu plano golpista, Bolsonaro teria mergulhado o Brasil em mais um regime de exceção e não temos dúvida que seus adversários estariam presos, a imprensa acuada e os tribunais ocupados e constrangidos em demonstrar lealdades políticas. Neste sentido, o julgamento do ex-presidente não diz respeito apenas ao passado, mas ganha contornos sobre limites institucionais impostos a projetos autoritários que visam desmantelar a democracia.
A reação internacional ao julgamento mostra que o Brasil acena disposição e compromisso com a batalha institucional da democracia contra o autoritarismo. A capa da revista The Economist publicou na semana passada que o país cumpre agora um papel de “adulto democrático” no hemisfério sul com a extrema direita internacional, seguindo uma narrativa frágil de perseguição política, algo testado no tarifaço pelo presidente americano Donald Trump e aliados bolsonaristas.
A resposta institucional firme do Brasil contra os golpistas envolve dois fatores imediatos na conjuntura política nacional e internacional. O primeiro fator a ser observado é que o julgamento de Bolsonaro ultrapassa o mero debate jurídico.Há um protagonismo do Brasil no grupo de democracias que sabem punir seus próprios excessos, acenando para o mundo que a democracia brasileira pode sair fortalecida deste ciclo. A reação das forças econômicas e políticas contra o tarifaço é indicador de mobilização política que não embarcou o país em um jogo de chantagem de Trump de olho na desestabilização da nossa democracia e a ascensão de um caos social, econômico e político como pretendia com o cerco montado com cumplicidade da família Bolsonaro.
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O segundo fator é interno: punir Bolsonaro e seus asseclas pela tentativa de golpe levará a um impacto direto na lógica da polarização ao oferecer base probatória vasta e fundamentada de que havia um plano autoritário elaborado para criar uma ruptura com a democracia. O que isso quer dizer? O julgamento de Bolsonaro será um teste de representação política para a base social e ideológica que apoiou Bolsonaro nas urnas nos últimos sete anos, mas que ainda não desiste de viver em uma democracia. Estes eleitores moderados estarão sob o foco direto de impacto político pelo julgamento.
Nesse contexto, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já está “autorizado” por Bolsonaro a articular uma pré-candidatura que se pinte de moderada e independente para o eleitor mais pragmático, mas que acene ser aliado fiel de Bolsonaro frente os apoiadores radicais do ex-presidente. Missão impossível?
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