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Detalhe Tático: Esse aí Rend

Publicado terça-feira, 04 de fevereiro de 2020 às 20:37 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Daniel Dórea | Jornalista | [email protected]

Dos 11 jogadores que começaram a partida de sábado, em Recife, frente ao Sport, apenas dois eram titulares do Vitória em 2019. Ou seja, o trabalho do técnico Geninho teve de ser iniciado praticamente do zero e, levando em conta inúmeros fatores, como o tempo de menos de um mês de preparação, o caos administrativo e financeiro no qual o clube está imerso, além das contratações modestas para 2020, dá para dizer que o Leão, até aqui, surpreende positivamente.

Na verdade, a equipe está a anos-luz do que se deve considerar o ideal no futebol. Ainda não há estilo de jogo claro, falta um equilíbrio que evite dar tantas oportunidades de gol ao adversário, o trabalho de troca de passes com a bola no chão só acontece em momentos bem esporádicos. Mas nenhuma pessoa em sã consciência poderia esperar muito mais do que o que está sendo apresentado.

No empate por 1 a 1 contra o Leão da Ilha, o Vitória teve um ótimo momento, no miolo da segunda etapa, após abrir o placar. Com a vantagem e o descontrole do rival, o time de Geninho conseguiu se impor por cerca de 15 minutos e contar com o despertar até mesmo de seus pontas, Alisson Farias e Vico, que no primeiro tempo estavam adormecidos. Nesse breve período da partida, o Rubro-Negro baiano chegou a criar boas jogadas de transição com passes curtos.

Mas não avaliarei pela exceção. No restante do embate, mesmo tendo sido inferior ao Sport, uma equipe da Primeira Divisão nacional, o Vitória apresentou qualidades. Na parte coletiva, a maior virtude foi a eficiência da marcação no campo de ataque, nos momentos em que o time se propôs a fazer isso. Chegando a executar pressão com cinco a sete jogadores – na maioria das vezes quando perdia a posse e, ao invés de partir para a recomposição defensiva, decidia atacar o adversário para retomar a bola em zona perigosa – o Leão baiano conseguiu ter suas duas únicas investidas mais agudas na etapa inicial.

Porém, era muito pouco. E essa marcação avançada, quando não efetiva, por vezes concedia espaço grande para o Sport caminhar com a bola apenas com a última linha de defesa à frente. A velha e batida história do cobertor curto. Aproveitando-se também desses clarões, os pernambucanos criaram cinco chances claras de gol só no primeiro tempo. Era, no entanto, o máximo que o Vitória parecia ser capaz de fazer, coletivamente.

Só que, na parte individual (aliado a um posicionamento inteligente de acordo com a organização da equipe), um destaque fez o Rubro-Negro ter um diferencial em campo. No meio-campista Guilherme Rend, de somente 21 anos, o Vitória ganhou a possibilidade de escapar de problemas e ganhar o campo ofensivo em jogadas promissoras. Designado inicialmente para a função de primeiro volante, Rend, naturalmente, passou a ter um papel mais de ligação, enquanto Fernando Neto – menos ousado e mais consciente taticamente – postou-se com maior frequência à frente dos zagueiros.

Hábil nas transições em velocidade, Guilherme Rend fez lances progredirem por iniciativas que fugiram do óbvio, do toquinho para o lado que contamina a maioria dos meio-campistas por aí. Destaquei no infográfico os lugares do campo em que ele conseguiu desenrolar jogadas aparentemente despretensiosas. Foram nove participações relevantes, com cinco passes verticais pelo chão – dois deles precedidos por arrancada e um outro para companheiro dentro da área ofensiva – além de duas viradas de jogo, uma falta sofrida na intermediária de ataque após bom drible e a finalização do meio da rua para marcar o único gol da equipe no confronto.

Imagem ilustrativa da imagem Detalhe Tático: Esse aí Rend
 

O garoto de Salvador, mas formado na base do Athletico-PR, carrega muito do que se trabalha no time de Curitiba. O apreço pela bola, mas também pela objetividade e agressividade no ataque. Afora as contribuições para o desenvolvimento do jogo ofensivo do Vitória, ele também apareceu bem com cinco desarmes completos e não errou nenhum passe curto durante toda a partida – teve como falhas apenas uma virada de bola equivocada e duas ocasiões em que acabou desarmado. Guilherme Rend é um achado tão importante e preciso que até o trocadilho infame do título desta coluna pode ser perdoado.

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