VEJA HISTÓRIA
Conheça projeto que transforma vida de jovens da Bahia através da moda
Empresária Monica Mota realiza projeto de captação de talentos no interior da Bahia
Por Felipe Sena
Um sonho de criança de muitas meninas do Brasil e do mundo é de serem modelos. Algumas são incentivadas desde a infância, outras, não encontram oportunidades, e muitas vezes, não têm consciência da magnitude da própria beleza.
Em um mercado competitivo e acirrado para despontar uma carreira nas passarelas, Monica Mota, dona da Model Club Agency, ao lado do esposo, Acácio Santos, viu no mundo da moda, uma forma de transformar a vida de jovens do interior da Bahia rumo as Fashion Weeks e grandes eventos da moda.
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Não é ser um modelo de passarela, é ser um modelo de pessoa
Scouter ou popularmente conhecida como “olheira”, Monica Mota realiza um projeto de captação de talentos em cidades do interior da Bahia e em Salvador, o “Model Beauty Experience". “Eu consigo ajudar os jovens a realizar aquele sonho de ser modelo, e muitas vezes não é ser um modelo de passarela, é ser um modelo de pessoa”, diz Monica, em entrevista ao Portal A TARDE.
É uma profissão como jogador de futebol, que se a pessoa deslanchar, vai acabar virando o jogo da vida.
Para Monica, a Model Club, forma modelos para a vida, através de uma formação social que vai além do glamour das passarelas. “A pessoa sai daqui transformada de alguma forma, eu conseguindo plantar uma sementinha nela, através das consultorias, quando eu vou pontuando, elas também vão se abrindo e cabe muito ao jovem definir o que ele quer da vida, e que precisam só de pessoas que queiram fazer um trabalho honesto, com amor, e que leve aquele jovem a ter uma profissão regulamentada pelo governo federal. Então é uma profissão como jogador de futebol, que se a pessoa deslanchar, vai acabar virando o jogo da vida”, ressalta Monica.
A scouter realiza consultorias, que realiza gratuitamente para jovens descobertos no interior da Bahia, que não têm condições financeiras de arcar com os custos. A consultoria é realizada de forma diferente do convencional, com perguntas mais reflexivas e que faz com que o jovem pense sobre seu futuro e suas perspectivas de vida.
Os "meninos" e as "meninas" que circulam para lá e pra cá na agência, localizada na Barra, leva Monica a ter certeza de que seu propósito é trabalhar com jovens. Por isso, quando visita cidades da Bahia, como Feira de Santana, Ribeira do Pombal, entre outras, faz questão de ir nas escolas e mostrar o seu projeto. No entanto, pontua, que tudo é feito após uma conversa com os gestores das instituições de ensino, mostrando a credibilidade e seriedade do projeto.
Entre os cases de sucesso da agência estão modelos como Sophia Lisboa, Anita Pozzo, Amanda Nascimento e Josefa, uma recém-descoberta feita numa escola pública, na cidade de Ribeira do Pombal, a cerca de 279 km de Salvador, que despontou carreira na moda e fez vários desfiles em São Paulo, como no evento de moda mais importante do Brasil, a São Paulo Fashion Week.
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“Eu fui à cidade com André Joau [booker internacional da Model Club]. Vimos aquela menina na hora da merenda, toda encolhida, porque geralmente as meninas que são altas e magras, com cabelos grandes se sentem diferentes, sofrem muito bullying, algumas não tem expectativa profissional na cidade, que são cidades menores”, diz Monica.
Apesar do aconchego e união familiar, Josefa teve que vir para Salvador para ter a consultoria e participar das aulas, mas Monica explicou todos os detalhes para os pais da jovem. “A carreira de modelo acaba sendo uma interrogação na cabeça de muitas pessoas, principalmente no interior, e eu explico que vamos trabalhar com moda e publicidade, o que é uma grande expectativa, não só para a menina, mas para a família, pois vai mudar a vida de todos”, afirma Monica, que esteve na casa de Josefa. A modelo já chegou a comprar um carro para o pai, e diz que o próximo passo é comprar a casa, segundo Mônica.
“Com Josefa, fizemos o trabalho de construção de imagem, dermatologista, corte de cabelo, aprendizado de técnicas, conversa, a levei para restaurante para aprender a se alimentar melhor. É todo um trabalho, muitas pessoas acreditam que é apenas descobrir, fazer um curso e pronto, mas não é bem isso. Nós entendemos que por trás de uma pessoa existem vários conflitos, crenças limitantes”.
“Hoje a prospeção dela é Milão, já tem uma agência internacional”, diz Monica se referindo ao Milão Fashion Week. A modelo ainda não foi neste ano, pois está aprendendo inglês, mas já viajou para Rio de Janeiro, Chile e Buenos Aires.
Além de Josefa, Monica descobriu Amanda, da cidade de Irecê, além de Alice, Giovana e Bruna. “Muitas vezes aquela menina não imagina que tem aquela potencialidade toda, e acho que o céu é o limite. Hoje, Maiara [outra modelo] está em crescimento [no mercado da moda], hoje com 24 anos, mas está comigo desde os 13 anos. Ela engravidou com 15 anos, mas hoje está faturando muito em São Paulo. Também viajou para Chile, Milão e Paris”, diz Monica.
Rumo ao sucesso
Foi o compromisso e responsabilidade com os modelos que levou Malu Cardoso, de 18 anos, que foi descoberta por Monica através do Instagram, a trocar de agência para seguir a carreira e sonho de ir para a Ásia através da Model Club. Contudo, o mercado de modelos, mesmo que tenha mudança ao longo dos anos, ainda tem exigências, como medidas corporais.
“Hoje em dia, eu quero muito ir para a Ásia, eu tenho vontade de perder medidas, eu preciso perder um pouco de quadril, e assim que eu perder, e estiver com o perfil correto para o mercado, eu pretendo ir para a Ásia”, diz Malu.
Incentivada pela mãe a ser modelo, Malu que mora em Vitória da Conquista, vem com frequência para a Model Club, em Salvador, para realizar as aulas. “Assinamos o contrato, e hoje, eu estou aqui assistindo aula, tendo curso, inglês, e me preparando, para se Deus quiser, uma carreira internacional. A Model Club realmente investe para que a gente possa 'pagar' com o nosso trabalho, o nosso cachê.”, diz.
Monica explica que é necessário ser sincero com as possibilidades de trabalho para os modelos. “Para o mercado existem características e a gente precisa ser honesto e falar a verdade”.
“Desde pequena falam que eu sou exótica por ter os cabelos cacheados volumosos e ser muito branquela e ter a boca carnuda e era alta quando criança. Hoje, não me sinto tão alta, porque tenho 1,70 m, tendo 18 anos, mas nada que me impeça. O limite eu que ponho, porque se eu quiser, eu conquisto, então eu penso muito na trajetória”, conta Malu.
Quem também está sendo lapidada e participa assiduamente das aulas é Kaylane Souza, de 21 anos, que foi descoberta quando andava com a mãe as irmãs em um brechó na Baixa dos Sapateiros, na capital baiana. Monica estava acompanhada de outra modelo, Bruna, para fazer compras, já que a modelo viajaria para Buenos Aires, quando viu Kaylane.
“Elas foram na frente e eu e Bruna fomos correndo atrás. Quando elas pararam, eu expliquei que era da Model Club, olheira e disse que ela tinha um grande potencial de ser modelo, mas a mãe dela disse: ‘não, minha sobrinha caiu em um golpe”.
A prima de Kaylane, a pouco tempo, tinha sido vítima de um golpe com promessa para ser modelo e pagou um book de R$ 2 mil para realizar um susposto trabalho para uma marca, mas não fez o trabalho e nem teve retorno da agência. Kaylane já tinha passado por uma seletiva em outra agência, que também cobrou o mesmo valor para realizar um book, mas a mãe da jovem, Ednalva, afirmou que não tinha condições de arcar com os custos.
No entanto, com mais calma, a família pesquisou sobre a Model Club e o trabalho feito por Monica. “Meu pai incentivou e a gente veio”, diz Kaylane.
“Eu não imaginava que eu tinha potencial, porque eu não sabia andar de salto, não tinha postura. Para mim, a modelo tinha que ser extremamente magra”, explica Kaylane. Contudo, após aulas dinâmicas, como descreve, vem se desenvolvendo. “Hoje, eu que abuso ela”, brinca Monica sobre a mãe de Kaylane.
Também há modelos homens na agência, como Jauan, de Feira de Santana, entre outros. “Alan, que está na China, cortou o cabelo, tinha questões familiares, que foram tratadas. A próxima temporada será na Coreia, e depois nos Estados Unidos, quando ele estiver com o portfólio maior [exigência do mercado de moda no país]”, cita Monica.
De Pernambués para Nova York
Hoje com 23 anos, Luma Vitória conheceu Monica há anos atrás, quando tinha apenas 13 anos, quando deu o primeiro pontapé na vida de modelo. Foi através de uma “parente de consideração”, a modelo Agatha Borges, que trabalha para a Armani, que Luma decidiu iniciar a carreira como modelo.
A mãe de Agatha enviou o contato de Monica para sua responsável, e as duas foram até a agência. Foi nesse momento que Luma iniciou os cursos, dos 13 até os 16 anos. “Eu comecei a trabalhar em Salvador por um tempo, quando eu fiz 17 anos, viajei primeiro pela América Latina, para a Argentina, onde fiquei um mês, depois fui para o Peru, onde fiquei dois meses, assim como no Chile”, diz Luma.
Isso foi um chamado do universo, eu nunca imaginei que a menina de Pernambués ia viajar para Nova York.
Em seguida, trabalhou em Londres, Coreia do Sul. Já em 2021, durante a pandemia, realizou o seu sonho, trabalhar em Nova York. “Isso foi um chamado do universo, eu nunca imaginei que a menina de Pernambués ia viajar para Nova York”.
“Nos meus sonhos, eu sempre via vídeos, assistia, via no Google Maps”, lembra. Depois disso, Luma começou a tentar a carreira nas fashion weeks, quando fez o primeiro desfile na Semana de Moda de Londres. “Em 20 setembro de 2022, dia do meu aniversário, eu fiz o primeiro desfile na Milão Fashion Week para a Diesel. Depois desfilei para Carolina Herrera, Ralph Lauren e Dolce Gabbana. Trabalho muito para a Calvin Klein”, afirma.
Luma diz que hoje um dos seus maiores sonhos é fazer uma campanha muito grande em Nova York, onde mora, e fazer uma capa de revista como a Vogue. “É sempre um marco na vida da modelo”.
Apesar do sucesso, Luma diz que o mercado de moda ainda apresenta diversos desafios. “Quero continuar desfilando, mas é muito difícil, é muita pressão psicológica e estética, mas dá retorno para a carreira da modelo”.
Sonho de abrir uma fundação
Com mais de 30 anos de experiencia no mercado da moda, Monica ainda encontra barreiras para criação de uma fundação para que o projeto de captação de jovens para modelos continue, pois são envolvidos custos no processo de cuidado dessas pessoas.
Eu preciso de um investidor para fazer isso. Já fizemos o teste, dá certo, eu já consegui fazer um trabalho brilhante através de mim e da minha equipe.
“Eu preciso de um investidor para fazer isso. Já fizemos o teste, dá certo, eu e minha equipe já conseguimos fazer um trabalho brilhante. Eu quero me juntar com alguém forte e transformá-lo em realidade”, diz Monica.
Para ela, com ajuda de um investidor que abrace o projeto, não seria apenas a vida de uma Josefa transformada, mas de dez. “É um projeto muito grande, eu invisto em inglês, nas aulas, para elas irem e virem. Foi quase um ano fazendo isso para a pessoa ser introduzida no mercado”, Hoje, a scouter tem alguns parceiros, já o transporte para que os jovens possam vir para ter as aulas em Salvador, muitas vezes é custeado pela prefeitura da cidade.
Hoje, Monica administra a Model Club ao lado do esposo Acácio Santos, que se conheceram, quando Monica tinha apenas 18 anos, quando ele era dono de uma produtora artística, que trabalhava com modelos e tinha blocos de Carnaval. Assim nasceu, a Model Club, após a saída do sócio de Acácio, e com a entrada de Monica, que realizou diversos cursos administrativos no Senac para se aperfeiçoar.
Nascida em uma família pobre, sendo uma filha entre cinco irmãos, Monica também já teve o sonho de ser modelos, aos 15 anos, chegou a realizar alguns trabalhos, mas não continuou, principalmente por causa da altura. “Eu via a moda como algo superficial e eu busquei trazer na moda um propósito. Não é chegar aqui e transformar meninos e meninas em modelos, é uma consequência de que você fica tão empoderado e tão bonito, que você tem tudo. Eu, como empresária, absorvo as características do mercado para lançar no mundo inteiro, mas meu principal foco é trazer essas pessoas à autoestima, independente de gênero, para serem felizes e modelos na vida delas”, salienta.
No entanto, é necessário que a pessoa “precise querer, tenha talento e tenha principalmente fé e acreditar, eu procuro não brincar com os sentimentos das pessoas, porque quando você traz esperança em uma pessoa, acredita que você poderia ter uma profissão, é melhor orientá-las para essa vertente”.
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