SANTO POPULAR
De concurso público a casório: fiéis contam milagres de Santo Antônio
Não são poucos os devotos que relatam ter recebido algum tipo de milagre ou inspiração divina do santo
Por Flávia Barreto*
As festas para Santo Antônio, celebrado nesta quinta-feira, 13, costumam reunir fiéis pelo Brasil. De aprovação no concurso público a casamento, na Bahia, não são poucos os devotos que relatam ter recebido algum tipo de milagre ou inspiração divina do santo.
>>> 'Antônios': casal tem o mesmo nome em homenagem a santo casamenteiro
>>> 430 anos de fé: Bahia foi pioneira na devoção a Santo Antônio
Conhecido como o padroeiro das causas impossíveis, Santo Antônio é venerado por muitos que buscam auxílio em momentos de dificuldade e desespero. Foi na infância que o advogado, professor universitário e compositor Enézio de Deus Silva Júnior, 43, começou a admirar o santo. Nascido em um lar católico na cidade de Retirolândia, ele acredita que a sua aprovação em um concurso público há 18 anos faz parte da fé em Santo Antônio.
Com 23 anos, recém-formado e ainda sem a carteira da OAB, Enézio contou com o apoio financeiro dos pais para elaborar um projeto em busca de patrocínios para lançar o CD "Inspirações e Louvores a Antônio". “Cresci cantando e tocando na Igreja Católica retirolandense e percebendo a ausência de um hino religioso especialmente voltado para a devoção antoniana em minha comunidade, assim como demais canções em homenagem ao padroeiro da minha terra”, explica.
Toda a renda com a venda dos CDs foi revertida para a Igreja Santo Antônio de Pádua, de Retirolândia, com o objetivo de custear as reformas necessárias no templo. Atualmente residente em Salvador, o fiel costuma frequentar missas na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo e na Igreja de Santo Antônio da Barra, mas sempre que possível assiste às missas na cidade natal, através dos canais virtuais.
Casamento
Santo Antônio também é conhecido pela ajuda na hora de encontrar objetos perdidos, sendo ainda patrono das mulheres estéreis, dos pobres, dos viajantes, dos pedreiros, dos padeiros, entre outros. Mas sem dúvida, o seu título mais conhecido é o de “casamenteiro”.
A servidora pública Ana Cristina, de 53 anos, tornou-se conhecida no ano de 2022 pelas frases ditas em um telejornal na Bahia, na igreja de Santo Antônio Além do Carmo, que a fizeram viralizar: “este corpo não sobrevive só de orações, tem que ter um dengo” e “todo mundo tem a sua gambiarra”.
Ela, que começou sua devoção ao santo na adolescência, costuma participar do trezenário sem interrupção durante todos os anos, tendo o seu momento favorito na celebração. “É a parte em que se incensa a imagem de Antônio, que nos faz entender que nossos pedidos estão sendo levados a Deus por intermédio de Santo Antônio”.
A servidora pública acredita que viver já é um milagre do santo casamenteiro, mas com base em sua fé, precisou interceder ao santo e algumas graças realizadas. ”Lembro com muita propriedade do meu trajeto profissional, complicado. Não conseguia me fixar em um emprego e, no ano de 2007, em uma promessa a Deus por intercessão do glorioso, passei em um concurso. Agora, devolvendo a ele, no formato de viralização o dengo dele, merecidamente”, completou.
Fé em família
No bairro de Cidade Nova, em Salvador, dez irmãs são responsáveis por dar continuidade a uma tradição de trezena em família de 35 anos. Tudo começou no ano de 1989, quando Marlene Santos precisou interceder com sua fé ao santo, pedindo cura para sua filha Celice, que estava doente, e um emprego para que pudesse se sustentar. Sua prece não demorou para ser atendida: além da melhora na saúde, ela foi contratada no dia de Santo Antônio. Em forma de agradecimento, iniciou três dias de preces sozinha de joelhos.
Irmã de Marlene, Maria Sueli também pediu intercessão ao santo quando o câncer acometeu a irmã delas, ngela Maria. “No momento de sofrimento, que eu vi minha irmã na cama, no leito de hospital, eu pedi a Santo Antônio que, se desse a cura dela, tirasse ela daquele leito, eu iria rezar 13 noites. Enquanto vida eu tiver, as 13 noites vão ser rezadas”, disse Maria Sueli.
Entre as 13 noites da trezena, a família aproveita para se reunir não somente para rezar, mas também para compartilhar memórias. Em cada noite, uma das irmãs é responsável por preparar um prato típico junino, fortalecendo o tempo de qualidade entre eles.
A fé em Santo Antônio na família é passada do mais velho ao mais novo. A filha de uma das irmãs também intercedeu ao santo. Milene Karina, assistente administrativa de 43 anos, viveu uma gravidez gemelar no ano de 2010, mas perdeu um dos fetos aos 6 meses. Em junho, ela passou por um sangramento e pediu a Santo Antônio que, se seu filho nascesse saudável, ele se chamaria Antônio. E assim aconteceu. Em 28 de julho daquele ano, seu filho nasceu. Hoje, Pedro Antônio tem 13 anos e participa ativamente da celebração.
“Eu me sinto abençoado e feliz, sentindo que minha mãe escolheu porque ela é devota de Santo Antônio e ela gosta e acredita muito. O exemplo é do mais velho para o mais novo, aí depois do novo para o que vem diante”, disse Pedro Antônio que recebeu seu nome em homenagem ao santo e que pensa em manter a tradição familiar para a futura geração.
Na família, Alisson Thiago, de 40 anos, profissional de logística e filho de Cecília Maria, é adepto da religião de matriz africana, o candomblé, e assemelha Santo Antônio ao orixá Ogum, conforme a tradição na Bahia. Entre as histórias inusitadas, a dele, que já foi vítima do desemprego em diversos momentos, se destaca. O que mais chama a atenção é que todos os seus contratos de trabalho acontecem no mês de junho, após a realização da trezena. Atualmente, ele se encontra desempregado, mas mantém a fé de que a trezena trará resultados.
O devoto também fez uma homenagem ao padroeiro, batizando seu filho como Thalisson Antônio. Após uma gestação complicada vivida por sua companheira, a criança nasceu durante a trezena, no dia 3 de junho.
Devido à idade avançada das irmãs, que já são idosas, elas já apontam a sucessora da tradição, que é Suelen Vitória, de 21 anos, recepcionista e filha de Maria Sueli. Ela se mostra interessada em manter a trezena e já planeja a construção de uma família para que possa manter os costumes familiares.
"Mas espero em Deus, até o dia que ele permitir, eu continuar com o Santo Antônio, o terço que a gente faz no mês de Maria e a novena de Natal em família", completa Suelen.
A família deixa uma mensagem para quem deseja viver a tradição religiosa, acreditando que escutar seus ancestrais é o melhor caminho para viver este legado.
“Peçam ajuda aos mais velhos. Principalmente, porque as coisas vão se perdendo ao longo dos anos. O mundo que vemos hoje já não é o mesmo que os mais velhos viram lá atrás. Então, ouvir as histórias e os costumes de antigamente para poder reproduzi-los é importante para não perdermos a tradição", aconselha uma das irmãs, Narriman Matos.
"E tenham fé. Fé, pelo menos para mim, não é apenas acreditar em milagres extraordinários, em curas impossíveis, mas também é ter fé de que você vai acordar outro dia e saber que está se movendo em direção ao seu trabalho, à sua faculdade, isso é um milagre. Esses pequenos milagres devem ser agradecidos e aclamados também. Então, se você tem qualquer vontade de fazer um gesto de fé a Santo Antônio, ou qualquer santo que seja, comece o quanto antes, porque realmente dá para sentir na pele o que a fé pode fazer”, completa.
*Sob supervisão de Bianca Carneiro
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes