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MANIFESTAÇÃO CULTURAL

Forró pode virar Patrimônio da Humanidade e mudar futuro de artistas; entenda

Saiba o que muda para músicos, festas e tradições se título da Unesco for aprovado

Bianca Carneiro

Por Bianca Carneiro

29/09/2025 - 6:16 h | Atualizada em 29/09/2025 - 11:43
Forrozeiro Del Feliz
Forrozeiro Del Feliz -

"Eu sou um povo, sou plural num só, sou forró”, canta Del Feliz em 'Eu Sou o São João'. Da poeira do sertão à pista de dança de Paris, o ritmo que embala o Brasil e tem o peso de uma sanfona histórica está a um passo de alcançar o topo do reconhecimento global.

Após ser consagrado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2021, o forró agora dança em passos de diplomacia e cultura, pleiteando junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

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A mobilização, que uniu os nove estados nordestinos no início do mês para a elaboração de um protocolo de cooperação, prova que o baião, o xote e o xaxado são mais que música: são a identidade e a resiliência de um povo. A assinatura do documento aconteceu durante a abertura do Festival Internacional do Forró de Raiz, realizado na cidade de Lille, na França, como parte da Temporada Brasil – França 2025. A iniciativa conta com a articulação do Consórcio Nordeste e a participação de instituições culturais francesas, como a associação Lille3000, o Museu de Belas-Artes de Lille e a Prefeitura de Lille.

O secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, representou o Estado. Em entrevista ao Portal A TARDE, ele destacou a profundidade do forró como um movimento cultural. "O forró é mais que música, é um movimento cultural da identidade do povo nordestino. É a música, é o artesanato, é a xilogravura, é a literatura de cordel, são as vestimentas… Tudo isso compõe esse movimento cultural tão único da identidade nordestina", afirma.

Para Monteiro, essa candidatura tem um significado simbólico enorme:

Onde quer que o forró se apresente, em qualquer lugar do mundo, é o Nordeste brasileiro que está sendo exaltado. Então, essa caminhada para fazer o forró ser reconhecido como patrimônio da humanidade tem esse sentido de que, onde quer que ele vá, ele leve consigo a força das raízes da cultura nordestina
Bruno Monteiro - secretário de Cultura da Bahia
O secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro
O secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro | Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

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Eu voto no forró!

Imagem ilustrativa da imagem Forró pode virar Patrimônio da Humanidade e mudar futuro de artistas; entenda
| Foto: Divulgação

A candidatura do forró a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade é resultado de um movimento articulado desde 2019, e o resultado deverá sair em março do próximo ano, ainda sem uma data definida. Mas o que este reconhecimento internacional representa para a preservação e a difusão da mais brasileira das quadrilhas?

O cantor e compositor baiano Del Feliz foi o embaixador baiano da candidatura na França, e esteve ao lado de outros ícones forrozeiros como Elba Rabalho, Sandrinho do Acordeon, Mestrinho, Anderson Fidélis, Santanna, o Cantador e Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste. Para o artista, embora a Bahia seja gigante em diversas manifestações culturais, do axé ao samba, o estado também é um berço fundamental para o forró.

A Bahia faz o maior São João do mundo. Existem algumas cidades que buscam para si esse título como Caruaru e Campina Grande, e com todo respeito fazem uma grande festa… mas a existência dessas festas não leva para Pernambuco, nem para Paraíba o título de melhor São João do Mundo, porque a Bahia tem 417 municípios
Del Feliz - embaixador do forró

O cantor, que também foi padrinho da campanha que registrou o forró como Patrimônio Cultural do Brasil em 2021, com a icônica canção 'Eu Sou o São João', que abre esta matéria, destacou o simbolismo do reconhecimento da Unesco:

"O reconhecimento é fundamental exatamente por legitimar e reforçar a autenticidade, a legitimidade nas políticas públicas, porque isso exige dos governantes a atenção com aquilo que passa a ser um patrimônio. [...] A gente exige da política que tenha esse olhar cuidadoso", explicou, complementando que o título mundial abrirá "portas enormes para que a gente continue, como, falando por mim, rodando o mundo".

Mas onde a França, palco dessa candidatura entra nessa história toda? Del Feliz explica. O artista, que mantém contato com o país há 16 anos, descreveu a afinidade dos europeus com o ritmo brasileiro: "A gente sente essa sintonia do francês com a música que se dança junto, ensemble, como se fala em francês [...] O forró caiu no gosto do francês já há muito tempo. Muita gente na França é apaixonada".

Enquanto o resultado não sai, Del Feliz segue na missão de representar o forró mundo afora. Lille, na França, e Rio de Contas estão separadas por aproximadamente 8.362 km em linha reta. Foi na cidade baiana que o artista presidiu o III Encontro de Sanfoneiros, que reuniu músicos, pesquisadores e público em torno da sanfona, instrumento central do forró. A programação, que aconteceu no último fim de semana, contou com nomes como Jairo Barboza, Jeanne Lima, Reynaldo Barbosa, Marquinhos Café, Zeu Azevedo, Waldonys, Trio Nordestino, Flor Serena e Adelmaro.

Reconhecer para salvar

O título da Unesco, caso seja conquistado, garantirá maior proteção e visibilidade ao forró. O secretário Bruno Monteiro destacou a importância dessa preservação em tempos de globalização cultural e explicou o que muda em termos de política cultural:

“O reconhecimento tem um papel especialmente de salvaguarda. Quando nós falamos de salvaguarda, falamos de preservação, mas, sobretudo, da garantia que as próximas gerações tenham contato e valorizem o forró, especialmente nos ambientes escolares e ligados à educação. Então, para nós, a luta pelo reconhecimento vem com esse propósito, especialmente no momento em que a inteligência artificial, as big techs e os algoritmos, muitas vezes, atuam numa padronização de tendências e de gostos musicais. Nós garantimos que o forró continuará tendo a sua força preservada e sendo apreciado e fortalecido pelas diferentes gerações”.

É com o futuro do ritmo que o sanfoneiro Henrique Badermann também se preocupa. Ele, que já teve banda de forró e hoje atua de forma independente, vê no possível título da Unesco uma esperança de reconhecimento do seu trabalho e de tantas outras referências.

“O forró carrega a alma do povo nordestino, mas também já se tornou um patrimônio de todo o Brasil. Vê-lo próximo de ser reconhecido pela Unesco é a confirmação de que nossa cultura tem um valor universal, que ultrapassa fronteiras. É como ver a história e a luta de tantos mestres sendo respeitadas no mundo inteiro”, afirma.

Henrique, que também é professor e proprietário da Badermann Academia de Música, em Lauro de Freitas, destaca a dificuldade do forró em penetrar as redes sociais para atingir as novas gerações e aponta a educação musical como essencial para formar músicos forrozeiros, especialmente, na sanfona, instrumento que ele define como sendo o “coração do forró”, responsável por dar “a cor, emoção e identidade sonora que tornam o estilo único”.

Acredito que o papel do pai e da mãe na educação musical é fundamental. Quando uma criança tem contato com o forró desde cedo, dentro de casa, ela cria um vínculo afetivo com essa música antes mesmo de se abrir para outros estilos. A sanfona, a zabumba e o triângulo passam a ser sons familiares, ligados a memórias de infância e a momentos em família. Também é essencial investir em educação musical e em projetos culturais que aproximem crianças e jovens da sanfona. Oficinas, festivais, escolas de música e programas sociais podem despertar esse interesse. Além disso, precisamos mostrar que tocar sanfona é atual, bonito e valorizado, para que a juventude se sinta motivada a dar continuidade a essa tradição
Henrique Badermann - sanfoneiro e diretor da Badermann Academia de Música
O sanfoneiro Henrique Badermann
O sanfoneiro Henrique Badermann | Foto: Géssica Trindade | Divulgação

Um dos mestres citados por Henrique, Del Feliz diz que o forró é a manifestação cultural mais completa, representando a própria identidade do nordestino. Ele espera garantir mais valorização e políticas públicas. “O título de Patrimônio da Humanidade abre portas enormes. Exige dos governantes atenção redobrada, porque passa a ser um bem da humanidade".

A gente está falando da festa cultural mais completa do Brasil e talvez do mundo. Porque a gente está falando de uma festa que envolve o cheiro das fogueiras, dos fogos, envolve o toque na dança, nas quadrilhas juninas, nas brincadeiras. Talvez o forró seja o maior emblema, sem dúvida, do nordestino e talvez do brasileiro
Del Feliz - embaixador do forró

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