ECONOMIA
Do Baianinho à Mapa Capital: como mudou o controle da Casas Bahia
Mapa Capital assume 85% da Casas Bahia e inicia reestruturação para reduzir dívidas
Por Isabela Cardoso

A Casas Bahia passou por uma virada histórica nesta quinta-feira, 7. A Mapa Capital assumiu o controle da empresa ao converter R$ 1,6 bilhão em dívidas em ações, passando a deter 85% do capital. A transação faz parte de um amplo plano de reestruturação financeira e societária para reduzir o endividamento e reposicionar a marca no varejo nacional.
Da charrete ao império do carnê
A história da Casas Bahia começa com Samuel Klein, polonês sobrevivente do Holocausto, que chegou ao Brasil em 1952 após passagem pela Bolívia. Instalado em São Caetano do Sul (SP), começou vendendo roupas de cama e banho em uma charrete, atendendo migrantes nordestinos. Deste povo, destaca-se em especial os baianos, que inspiraram o nome da primeira loja, aberta em 1957.
Focada na classe C e sem exigir histórico bancário, a rede se destacou pelo crediário e carnê, oferecendo parcelamentos acessíveis para bens duráveis. O mascote Baianinho e o slogan “Dedicação total a você” se tornaram símbolos da marca.
Com essa fórmula, o negócio se expandiu rapidamente. Klein passou a vender móveis, eletrodomésticos e outros bens duráveis, abrindo filiais em São Paulo e na Baixada Santista nos anos 1960. O crescimento levou a empresa a virar case de estudo em Harvard, além de suas lojas se transformarem em ícones da paisagem urbana de grandes cidades.
A marca também foi eternizada na cultura pop com a banda Mamonas Assassinas, em 1995, na música Chopis Centis, com o verso “A minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia”. Atualmente, a companhia mantém mais de 900 lojas espalhadas por todo o Brasil.
Fusão histórica e embates familiares
Em 2009, a família Klein vendeu o controle da varejista para o Grupo Pão de Açúcar (GPA). Pouco depois, em julho de 2010, a empresa protagonizou uma das maiores movimentações do varejo nacional ao se fundir com o Ponto Frio. Nascia assim a Via Varejo.
A operação, estruturada em cerca de quatro meses, foi liderada por Abilio Diniz, então presidente do Conselho do GPA, e envolveu um aporte de aproximadamente R$ 690 milhões. O objetivo era claro: reforçar a competitividade da nova holding diante do avanço de rivais como o Magazine Luiza (MGLU3).
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Desde a venda em 2009, a relação dos Klein com a Casas Bahia foi marcada por reaproximações e rupturas. Durante a fusão, Michael Klein inicialmente apoiou o movimento, mas logo depois passou a contestá-lo, alegando que os ativos da família haviam sido subavaliados.
A tensão levou a uma renegociação: os Klein ficaram com 47% da nova companhia, e Raphael Klein, filho de Michael, assumiu a presidência. Dois anos depois, com a saída de Raphael, Michael tentou recomprar a empresa, mas não obteve sucesso.
O retorno ao controle só aconteceria em 2019, quando Michael liderou um grupo de investidores na compra da fatia do GPA em um leilão na B3.
Últimas movimentações antes da troca de comando
Em março deste ano, Michael elevou sua participação individual na Casas Bahia para 10,42% do capital, aproveitando o momento em que as ações estavam bastante descontadas devido às dificuldades financeiras da varejista.
Na época, chegou a pedir formalmente para reassumir a presidência do conselho de administração, mas acabou desistindo da convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE).
A “última tacada” veio com a entrada da Mapa Capital, que agora é a nova controladora.
Quem é a Mapa Capital?
Criada em 2013 por Beda, ex-Itaú BBA, ao lado de André Helmeister e Paulo Silvestri (ex-Rio Bravo Investimentos), a Mapa Capital se apresenta como uma gestora especializada em soluções de capital, oferecendo serviços que vão de assessoria em fusões e aquisições até investimentos próprios.
Com a conversão das debêntures, a dívida da Casas Bahia deve cair de R$ 4,55 bilhões para R$ 2,98 bilhões, além de reduzir a alavancagem para 0,8 vez o Ebitda, segundo comunicado divulgado em junho.
O desafio do novo ciclo
Agora sob gestão da Mapa Capital, a Casas Bahia inicia um ciclo que promete ser de profissionalização, eficiência financeira e modernização. O desafio será equilibrar o peso de sua tradição no varejo popular com estratégias digitais e logísticas capazes de competir com gigantes do e-commerce e redes consolidadas.
O futuro dirá se essa reestruturação será suficiente para devolver à marca o protagonismo que marcou sua trajetória no consumo brasileiro.
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