ENTREVISTAS
A Bahia vive um ciclo robusto de investimentos, diz Afonso Florence
Entrevista – Afonso Florence, secretário de Casa Civil da Bahia

Por Divo Araújo

A Bahia vive um momento decisivo, em que políticas sociais e grandes obras avançam em meio a desafios fiscais, contratuais e políticos. Nesta entrevista exclusiva ao A TARDE, o secretário da Casa Civil, Afonso Florence, responsável por monitorar as ações prioritárias do Estado, detalha o conjunto de projetos em andamento nas áreas de infraestrutura, mobilidade e logística.
Ao falar sobre a Ponte Salvador–Itaparica, Florence afirma que a modernização do contrato de PPP foi essencial para reduzir riscos e garantir segurança jurídica ao empreendimento. Segundo ele, mantidos o valor do pedágio e a ausência de riscos extraordinários, as obras devem começar em junho de 2026, seguindo o cronograma previsto.
Sobre ativos estratégicos em Salvador, o secretário informa que o governo avalia a alienação de imóveis como o Detran, o antigo Centro de Convenções, o Colégio Odorico Tavares e a Rodoviária, que será transferida para Águas Claras. Na entrevista, Florence também faz um balanço do VLT, das ferrovias Oeste-Leste (Fiol) e Centro-Atlântica (FCA), entre outros temas.
Confira a entrevista completa
O governo transformou o Bahia Sem Fome em uma política permanente. Na prática, o que muda no combate à fome quando se passa de um programa de governo para uma política de Estado?
O propósito é a perenidade do programa. A perenidade do programa é a garantia de que, havendo descontinuidade de interesse político dos gestores, a sociedade dispõe de instrumentos para, reivindicando, viabilizar a prestação desse serviço público fundamental, que é o combate à fome. O Brasil tinha saído do mapa da fome, a Bahia tinha saído do mapa da fome. Mas, tanto no âmbito federal como no estadual, houve descontinuidade, e voltamos ao mapa da fome. Quando o governador Jerônimo Rodrigues assume, em 2023, a Bahia se antecipa. Havia ainda uma instabilidade econômica. Não tinha sido aprovado o novo arcabouço fiscal, não tinha sido aprovada a Reforma Tributária, nem a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Havia uma expectativa de medidas, mas elas ainda não haviam ocorrido. E nós ainda não tínhamos realizado a receita do primeiro quadrimestre. Recorremos, então, a uma campanha de doação de cestas básicas. Quando chegamos, a Bahia tinha 2 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave. Agora temos 1 milhão e 200 mil, aproximadamente. Portanto, retiramos 800 mil. Oito meses depois do governador Jerônimo lançar o programa, o governo Lula também lançou o seu programa.
Mas ainda temos muita gente em situação de insegurança alimentar grave. Temos o programa de cesta básica, e temos também o restaurante popular, o Segunda Água, programa de assistência técnica, o Quintal Produtivo, em parceria com as prefeituras. Nós hoje temos um programa muito robusto. Os resultados são bastante expressivos numericamente, mas os desafios continuam de grande envergadura. Mas esse programa é uma marca do governador Jerônimo. É uma iniciativa pessoal e mostra como o governo dele tem essa ênfase social.
Com a previsão de início das obras da Ponte Salvador–Itaparica em junho de 2026, o que a modernização do contrato da PPP (parceria público-privada) mudou, na prática, para reduzir riscos de novos atrasos e garantir que o cronograma agora seja cumprido?
Um contrato de PPP patrocinada, como é o da Ponte Salvador-Itaparica, tem o investimento para a construção do equipamento, o chamado Capex. E tem o custo operacional, o Opex. Parte desse custo é suprido com o pedágio. E parte pode ser suprida com as chamadas receitas acessórias ou com contraprestações. Aquele contrato anterior, assinado em 2020, tinha sido inviabilizado em decorrência da pandemia da Covid, que paralisou a metalurgia global, a indústria da construção, o tráfego.
O contrato de PPP tem um plano de negócios que prevê uma receita e dentro dela se busca o equilíbrio econômico-financeiro, realizando a taxa de retorno prevista no contrato. O contrato assinado em 4 de junho de 2025 prevê um equilíbrio econômico-financeiro com o mesmo pedágio. Ou seja, mantivemos o valor inicial do pedágio previsto no plano de negócios de 2019.
O que desequilibrou o contrato anterior foi a pandemia. No contrato tem risco ordinário e o risco extraordinário. O risco da pandemia é extraordinário. Quando é um risco ordinário, ou seja, é comum, está previsto, é risco da concessionária. Posso dizer com segurança que, não havendo risco extraordinário, outra pandemia por exemplo, a ponte seguirá o cronograma estabelecido. E a nossa expectativa é de que não haverá nesses próximos 5 anos uma nova pandemia. A pandemia é uma ocorrência muito eventual. Nossa expectativa é que o canteiro de obras, sendo instalado no início de 2026, até fevereiro, março, tenhamos até 4 de junho, o início das obras, que serão as fundações dos pilares.
Por que o governo considerou necessária a criação da Secretaria do Sistema Viário Oeste e como essa nova estrutura vai melhorar a gestão do contrato da Ponte Salvador–Itaparica em relação ao modelo anterior, dividido entre várias pastas?
Eu considero que foi uma decisão acertada do governador. A Secretaria do Sistema Viário Oeste, a SVO, será responsável por gerir o contrato de PPP - o que, por si só, já é bastante complexo. Será responsável por acompanhar a obra da ponte, e executar o cronograma físico-financeiro do aporte - o nome dado ao desembolso que a administração pública faz para construir o equipamento. Há uma previsão de desembolso do governo do Estado, e agora também há uma previsão de desembolso do governo federal. A obra foi incluída no PAC. São R$ 2,3 bilhões do governo estadual e R$ 3 bilhões do governo federal.
A medição da obra para pagar na hora certa é uma atribuição da SVO. A gestão do contrato e acompanhamento da obra para desembolso e cumprimento dos prazos, é outro. Dois motivos para a ponte ter uma secretaria própria. O terceiro motivo são os projetos das obras complementares ao sistema viário. Porque não é uma ponte somente. Tem uma nova estrada na ilha, tem o encaixe em Salvador, avenida, viaduto, túnel. Tem muitas obras em Salvador. E tem os projetos de natureza socioambiental, de mitigação do impacto ambiental, de melhoria da renda, de melhoria dos serviços públicos na ilha, com marisqueiras, pescadores, comunidades tradicionais.
São muitas atribuições e a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) já tem muitas responsabilidades com aeroportos, e rodovias, rodovias concedidas, rodovias geridas diretamente. A decisão do governador de criar a SVO foi uma imposição das circunstâncias de demanda robusta de trabalho no âmbito da administração pública.
O governador indicou para comandar a SVO Mateus Dias, que era o superintendente de planejamento e logística de transporte da Seinfra. É um funcionário de carreira, que vem prestando um serviço muito qualificado. Ele conhece profundamente o projeto e o contrato. Por isso, asseguro que todos nós podemos ficar muito tranquilos que o SVO está em boas mãos.

Este ano, o governo assumiu um custo anual estimado em R$ 70 milhões para evitar o aumento das tarifas do metrô e dos ônibus metropolitanos. O governo pretende garantir a sustentabilidade desse subsídio?
Essa discussão da tarifa zero é muito rica, porque de fato o serviço público de transporte urbano, no geral, é caro para a população, e de má qualidade. Nas cidades, os habitantes se queixam muito dos serviços, principalmente dos ônibus urbanos. Os trens às vezes também são muito criticados.
O metrô geralmente tem o melhor serviço, são equipamentos mais modernos. Esse é um desafio que o governo do Estado tem tentado contribuir com as prefeituras da região metropolitana. O metrô é metropolitano porque tem Lauro Freitas. O VLT, que está em obra, vai ter nessa primeira etapa, já na linha 1, em Simões Filho, na ilha de São João.
E nós estamos fazendo cálculos, buscando contribuir com esse subsídio do governo. Na verdade, é uma subvenção, tecnicamente não é um subsídio. O governo vem tentando contribuir com a subvenção com uma das regras de tarifa de serviço público, que é chamada modicidade tarifária, uma tarifa barata para a população. Mas são sistemas deficitários. Então, o governo da Bahia no metrô, no ferry-boat, sempre tem custos, e nós temos que fazer conta. O propósito é manter uma modicidade tarifária.
Mas temos que nos aproximar do período em que há contratualmente previsão de reajuste. Fazer as contas, analisar os indicadores de inflação, de renda média, massa salarial. Pegar todas essas variáveis macroeconômicas, botar na mesa para o governador tomar uma decisão. E aí também entra a saúde fiscal do governo do Estado. Como a receita tem evoluído, a arrecadação de impostos. Nós temos conseguido manter tarifas bem baratas, tanto no metrô como no ônibus metropolitano.
O senhor mencionou o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). A obra será entregue dentro do cronograma previsto?
Vale lembrar primeiro que tínhamos também para o VLT uma PPP que foi afetada pela pandemia. Era um monotrilho elevado e era somente a linha do Subúrbio Ferroviário. Ele ia até Paripe. Em 2023, nós constatamos que o projeto e o contrato da PPP estavam em situação muito difícil. E nós estávamos negociando com a BYD, que tinha uma previsão de trazer à fábrica para Camaçari.
Tivemos que conduzir isso com muito cuidado para não ter como repercussão de uma rescisão de contrato, a desistência da BYD de investir na Bahia. Conduzimos a negociação até um ponto em que a rescisão decorreu de uma posição por eles adotada. Mas nós já tínhamos providenciado um novo projeto pela CTB (Companhia de Transportes do Estado da Bahia), hoje presidida por Eracy Lafuente. Nós rescindimos em outubro de 2024 o contrato do antigo monotrilho em outubro e licitamos o novo projeto em dezembro do mesmo ano.
A linha 1 que vai da Calçada até a Ilha de São João, em Simões Filho, já tem 50% das obras concluídas. Compramos em Cuiabá trens que estavam parados, mas novos, nunca tinham sido usados, e levamos para Hortolândia (SP) para fazer uma revisão geral.
Podemos dizer que compramos um seminovo que não tinha sido usado, só estava parado. O problema dele talvez fosse o não uso. Mas constatamos que a manutenção tinha sido bem-feita. Sempre há, óbvio, uma reposição de borracha e tal, porque tem uma tendência de ressecamento por precaução.
Compramos os trilhos como sucata, aproveitamos todos. Não tem um trilho que não tenha sido aproveitado. Fizemos uma boa economia. Além de que se fôssemos encomendar em licitação internacional, teríamos que entrar na fila. Esses trilhos e trens só chegariam daqui a dois, três, quatro anos. Já chegou a primeira composição e a outra já está a caminho. E nós já vamos iniciar testes dinâmicos este ano. Neste mês de dezembro, brevemente vocês terão um anúncio do governador, do ministro Rui Costa e outros convidados acompanhando o teste dinâmico. Tem teste estático e dinâmico, tem comissionamento de energia para ver se a energia funciona, e o teste dinâmico o trem começa a andar.
E por precaução, óbvio, em sistemas metroferroviários esse teste é feito várias vezes antes de os passageiros usarem. A nossa licitação agora não era mais só a linha do Subúrbio, que está presente. Agora a gente chama de linha 1. Tem a linha 2, que vai de Paripe até Águas Claras. Tem a linha 3, de Águas Claras até Piatã. Portanto, de uma obra que anteriormente uma PPP previa R$ 700 milhões de investimento, nós estamos com uma obra de R$ 5 bilhões. Esse ponto final da linha 1, na Ilha de São João, em Simões Filho, nós já captamos recursos no PAC.
Vocês estão desenvolvendo estudos para que o VLT chegue até Alagoinhas?
Uma hipótese de trabalho é que essa linha até Alagoinhas saia da Ilha de São João. Aí são estudos que dirão se da Ilha de São João ou se da estação da rodoviária de Águas Claras. Além disso, nós desenvolvemos projetos, apresentamos no PAC e brevemente teremos licitação concluída com anúncio de empresa vencedora para construir da Baixa do Fiscal até o Retiro. Nós vamos, digamos assim, circundar a cidade com o sistema metroferroviário. Se der certo a linha Alagoinhas-Ilha de São João, a pessoa vai poder pegar um VLT em Alagoinhas, assistir a um jogo na Fonte Nova ou em Pituaçu, um espetáculo no Teatro Castro Alves e voltar para casa de trem.
E o VLT, por determinação do governador, é o primeiro no mundo que eu saiba que vai ter vagão para marisqueira, pescador, banhistas. A gente está fazendo um trabalho social muito interessante com as marisqueiras. Vamos inserir um apoio a organização econômica delas no circuito gastronômico de alta qualidade, na alta gastronomia. É compreensível que o governador esteja bem animado, porque é uma obra sensacional.
Diante dos problemas com a concessionária Bamin na Fiol-1 (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), trecho que liga Ilhéus a Caetité, qual é a posição do governo da Bahia sobre a rescisão do contrato e quais caminhos concretos estão sendo articulados com o governo federal para garantir a conclusão da ferrovia e sua integração com a Fico (Ferrovia de Integração Centro-oeste)?
O governador Jerônimo determinou a criação de um grupo de trabalho, de simulações não só econômicas e financeiras, mas de traçados da ferrovia. O coordenador desse grupo é o secretário de Planejamento, Cláudio Peixoto. Nós postulamos junto ao Ministério dos Transportes e à Infra S.A. - empresa estatal de ferrovias, rodovias, estrutura, concessões - estudos para integração com a Fico. E participamos das audiências públicas, dando subsídios.
Hoje há uma expectativa muito positiva de que ocorra essa integração com a Ferrovia do Centro-Oeste e que, eventualmente, com uma possível interoceânica. A concessão do trecho 1, que está com a obra bastante avançada, de fato foi afetada pela dinâmica de mercado que envolve a Bamim, o Porto Sul, e ocasionou uma postergação. Tem grandes players da mineração envolvidos nesse processo e isso repercute na ferrovia.
O governo federal licitou os trechos referentes à Fiol 2, que vai até Barreiras, para conclusão. Nós temos participado, inclusive, na mediação sobre a passagem em áreas ocupadas por comunidades tradicionais. Houve muita negociação no município de Serra do Ramalho e também em Correntina.
Nós temos tentado ajudar a resolver essas demandas. E iniciamos com a participação da Bahiainveste, presidida por Paulo de Maranhão, estudos para remodelar o Porto Sul, a parte pública. O objetivo é ter mais parcerias privadas. Teríamos o porto privado, vinculado à ferrovia e à mineradora Bamin, mas também o porto público com outros privados operando seus respectivos sistemas de exportação e importação.
Nós temos convicção de que haverá uma solução muito em breve. Foi posta em consulta pública uma derivação a partir de Correntina para Mara Rosa, e de Mara Rosa para Água Boa, completando a integração com a Fico. Esse é o traçado que está sendo considerado o mais economicamente viável.
E nós consideramos que a impedância, a obstrução é maior em decorrência da dinâmica de mercado de mineração, do que propriamente do potencial econômico do porto. Estamos trabalhando um prognóstico que, nos próximos poucos anos, em 2027, 28, tenhamos uma solução definitiva para esse desenho que terá um impacto de muitas décadas para a economia baiana.
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No processo de renovação da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica, que ainda está em análise na ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e no TCU (Tribunal de Contas do Estado), quais investimentos o governo da Bahia considera indispensáveis para recuperar a funcionalidade da malha no estado e evitar que a ferrovia volte a ser negligenciada pela concessionária?
Esse grupo de trabalho de especialistas em ferrovia desenhou uma leitura da proposta de renovação antecipada da FCA. Nós fomos várias vezes à Brasília, inclusive nessas investidas, o governador vai pessoalmente. Primeiro ele estuda, lê, reúne, discute, consulta e vamos fazer nossos empenhos, nossas injunções.
O desenho que havia não contemplava a Bahia. O governo do Estado tinha uma leitura que acabou prevalecendo na proposta que foi enviada ao TCU, de que deveria ser obrigatório o investimento na malha baiana, como compensação do desinvestimento das décadas anteriores.
Além disso, durante os últimos anos, tem havido uma atualização do prognóstico de carga para a FCA. Inclusive para o braço norte - o traçado Salvador-Juazeiro-Senhor do Bonfim, a província mineral de Santo Sé e de Campo Alegre de Lourdes.
Nós apresentamos o pleito ao ministro dos transportes e à ANTT, em audiência pública. Eu falei em nome do governo do Estado na mesa. O desenho que nós esperamos seja referendado, chancelado pelo TCU, é de que, para haver a renovação antecipada, a VLI, que é a empresa concessionária, será obrigada a afundar investimentos. Ou seja, ela não poderá renovar toda a malha que está no Sudeste e não fazer na Bahia. Ela tem que fazer na Bahia e nas duas vertentes, tanto na linha Minas-Salvador, como na linha Salvador-Juazeiro.
Nós consideramos que isso é uma vitória, porque temos uma demanda de oferta de transporte ferroviário para carga grande e reprimida. Nós temos portos muito competitivos e a ausência do modal ferroviário reduz a competitividade dos exportadores.
Muito brevemente o TCU vai se pronunciar e a nossa expectativa é de que confirme o condicionante e que a concessionária invista na Bahia. E, se ela não quiser operar, que terceirize a operação. O que ela fez foi não investir na Bahia e isso ocasionou um prejuízo à economia exportadora do estado muito grande.
Falando especificamente de Salvador, como estão os planos do governo para a venda de equipamentos estratégicos, como o Detran, o antigo Centro de Convenções e o Colégio Odorico Tavares?
O Estado tem vários, mas esses são os três com mais valor de mercado que nós estamos analisando a alienação, até para contribuir com a dinâmica urbana. O governador está prestes a tomar uma decisão sobre o Odorico. Chegamos a publicar e invalidamos a publicação do edital, porque há uma determinação de que o valor auferido seja destinado à construção de outro colégio. O governador está prestes a tomar a decisão sobre o local do colégio. Aí já temos um desenho bastante avançado e brevemente ele anunciará a tomada de decisão.
O Centro de Convenções surgiu uma situação inusitada: o imóvel tinha várias matrículas. Você tinha um prédio e vários terrenos, inclusive com uma rua dentro, aprovada na Câmara Municipal de Salvador. Isso ocasionou uma demanda de gestão de processo burocrático, em cartório, com juiz. Registrar que isso avançou depois da audiência do governador com o prefeito Bruno Reis e o secretário (da Casa Civil) Luiz Carreira, sempre muito solícito e tentando colaborar.
Considero que a gente resolveu essa parte, falta apenas detalhe burocrático para desafetar definitivamente o imóvel. O governador vai decidir, mas a hipótese de alienação era a que estava posta até então na mesa. Salvo alguma nova hipótese, será esse o destino.
Com relação ao Detran, o terreno está concluído, a solução também já está posta para ele tomar uma decisão. Temos feito estudos de possível destino de outros usos, mas considero que muito brevemente haverá um anúncio da parte do governo do Estado.
E ainda tem a rodoviária...
Isso, o outro imóvel de mais valor do Estado e com uma localização estratégica na cidade, é a atual rodoviária. A obra da nova rodoviária em Águas Claras está prestes a ser concluída. Mas ainda há alguns itens, porque um equipamento de rodoviária, tem as baias de ônibus, os guichês de bilhetes, as escadas rolantes... Há itens que a gente está comissionando, ligando, monitorando para checar. Porque uma coisa é terminar o prédio, outra coisa é transferir a operação.
Com a rodoviária vai ser assim: até as 24h de hoje funciona cá, a partir da 0h de amanhã funciona lá. Sempre pode acontecer alguma coisa, mas é um esforço enorme de mitigação de riscos. Nós já estamos nessa etapa de comissionamento, de detalhamento para receber a obra.
E depois será decidido o destino desse ativo ali no centro do Iguatemi. Aquela passarela do Iguatemi é uma das passarelas com maior fluxo, se não for a de maior fluxo em Salvador. E, claro, que com a saída da rodoviária, esse fluxo vai diminuir. Portanto, é uma mudança muito brusca na vida do centro do bairro Iguatemi
Para a gente encerrar falando um pouco de política, sempre surgem especulações em torno do seu nome. Diante da declaração do governador de que quem pretende ser candidato deve deixar o cargo ainda em dezembro, o senhor já definiu seu futuro político?
Sempre que tem especulação com meu nome, pressuponho que seja porque as pessoas desejam o melhor para mim. Eu sou deputado de quatro mandatos, atualmente licenciado.
Me honra ser subordinado do governador Jerônimo. Os dados de três anos de governo são impressionantes. A Bahia vive hoje um ciclo robusto de investimentos. Esse é o governo estadual que investe mais do que São Paulo até em números absolutos. E quando você vai ver, investe em que? Policlínica, hospital, escola de tempo integral...Nós vamos chegar a 20º ano de governo do PT.
O déficit de oferta de serviços públicos de qualidade para a população era tão grande, que a gente ainda está investindo em escola, em policlínica, em hospital. E como a Bahia é um estado pobre - nós temos 16 milhões de habitantes e temos a 17ª receita do país - estamos lá embaixo na fila per capita de receita tributária. Para investir, a gente tem que fazer operação de crédito. Mas a saúde financeira do estado é muito boa.
É óbvio que investir em escola, em policlínica para fazer exame diagnóstico, precoce, hospital, é fundamental. Além disso, a gente, por exemplo, qualifica o acesso ao porto para escoar a produção industrial. A gente investe em infraestrutura para o aumento da competitividade da economia baiana.
Nós começamos a nossa conversa falando do Bahia Sem Fome. O Bahia Sem Fome, política de segurança, mas acima disso, investimento na educação pública, não só em escola. Temos o Bolsa Presença, que foi implantado quando Jerônimo era secretário de Rui Costa , que dá uma Bolsa para o garoto carente se manter na escola. Porque muitas vezes é a necessidade da família que faz a evasão escolar. O garoto tem que ir trabalhar, a vida está dura, apesar de termos uma situação macroeconômica, de aumento da massa salarial, de emprego, de contenção da inflação, há famílias que precisam. O Bolsa Presença, o Mais Estudos, que o garoto, a garota estudiosa, recebe uma bolsa para dar uma banca para o colega. E na faculdade, o menino e a menina carente, que passa em uma universidade estadual e que tem que viajar, recebe uma bolsa, é o mais futuro.
Olhe que fui ministro. Fui líder do PT, fui líder do governo na CPI da Petrobras, fui líder da oposição a Temer, da oposição a Bolsonaro na Câmara. Mas me realiza muito estar licenciado, participando aqui no centro do governo, sendo liderado pelo governador. Estou deputado licenciado há três anos. E o governo está voando. Meu eleitorado entende a importância histórica de estar aqui. Eu estou agradecido e trabalhando muito, ainda bem. Se tiver que sair, eu assumo o mandato e vou para a campanha.
Isso vai ser decidido ainda?
Convite do governador Jerônimo é convocação. Se ele disser, Afonso, eu quero que você fique até janeiro, fico até janeiro. Se ele quiser, fico até março. Eu sou deputado de quatro mandatos. Fui líder, tive projetos aprovados. Eu não sou uma pessoa arrogante, mas não tenho falsa modéstia. Acho que eu tenho uma tarefa ainda histórica a cumprir no parlamento. Mas vou dizer que, para quem é legislador, algumas coisas que acontecem ali não são gratificantes.
Essa semana, o presidente da Câmara mandou retirar o sistema de comunicação. Nunca aconteceu isso, nem na ditadura militar, proibir que jornalista entre no plenário. Infelizmente, a crise institucional virou rotina. E as pessoas estão provocando essa crise institucional. Mas tem o lado da disputa também. Eu represento um projeto. Então, estar ali também, sem modéstia, cumprindo uma tarefa histórica é uma opção minha de vida.
Assim como estou entusiasmado aqui, com a burocracia, por exemplo, para instalar a comissão de solução de controvérsia da nova rodoviária, se eu tiver a oportunidade de voltar para Câmara de Deputados, vou voltar e trabalhar. Nós já conseguimos aprovar a isenção na tabela do Imposto de Renda até R$ 5 mil. Mas temos que aprovar a tributação dos super-ricos. Quando era a oposição, fui eu quem construiu, quem coordenou pelo núcleo do PT e de economia a proposta de tributação dos super-ricos. Enfim, tem muita tarefa.
Raio-X

Atual secretário estadual da Casa Civil, Afonso Florence é mestre em História pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Militante histórico do PT, foi secretário de Desenvolvimento Urbano da Bahia no primeiro governo Jaques Wagner. Eleito deputado federal em 2010, cumpre atualmente o quarto mandato, do qual está licenciado. A convite da então presidente Dilma Rousseff, ocupou o cargo de ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA). Na Câmara dos Deputados, exerceu as funções de líder do PT, líder da bancada de oposição, entre outras posições de destaque.
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