Busca interna do iBahia
HOME > MUITO
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

CRÔNICA

Há histórias que só seguem quando a gente vira a página

Confira a crônica deste domingo, 28

Luisa Sá Lasserre *

Por Luisa Sá Lasserre *

28/12/2025 - 5:30 h
Imagem ilustrativa da imagem Há histórias que só seguem quando a gente vira a página
-

Nas últimas semanas, algo se deu… parece que o ano acelerou o ritmo, enquanto o das minhas leituras diminuiu. Peguei dois livros para reler e, sei lá por que, passei a andar com o freio de mão puxado, leitura arrastada. Alguns títulos se acumulam na minha cabeceira, minha lista de desejos só aumenta, então, não tem jeito, é preciso seguir adiante, folha por folha. Não é que eu tenha enchido o saco de ler. Eu só quero ter lido. E, para isso, uma coisa preciso fazer: virar a página.

Se a leitura não flui, a história não pega, os personagens são uns chatos, é hora de virar a página. Ou talvez seja o contrário. A leitura está boa, a história, envolvente, os personagens, cativantes. Seja como for, só virando a página a gente pode descobrir o que vem a seguir, qual o próximo plot, a próxima cena, o desfecho de um conflito, a transformação do protagonista. Até para encerrar uma leitura é preciso virar a página. E fechar o livro. Ler é um virar de páginas seguido do outro.

Tudo sobre Muito em primeira mão!
Entre no canal do WhatsApp.

Na vida também é assim. A gente vira a página quando sai de um emprego, quando começa outro. Vira a página quando desiste de uma ideia ou quando abraça uma nova. Quando se livra de um mau hábito, quando põe um melhor no lugar. A gente está sempre virando a página de um dia para viver outro. Às vezes a gente erra no texto e a narrativa escorrega, é hora de virar a página. De reler, reescrever, refazer o que foi feito até então. Haverá sempre uma nova página em branco para recomeçar.

Leia Também:

Tem quem ache que vira a página anunciando isso em alto e bom tom… talvez postando nas redes sociais, comentando com um e outro. Será mesmo? Fico com a impressão de que quem tem a necessidade de alardear por aí é porque ainda está com a página bem aberta… segurando entre os dedos, tentando até dobrá-la, fechá-la, mas ainda não. Quem vira mesmo a página já não tem muito o que dizer. Já não pode ler o mesmo texto, está com outro posicionado bem à frente.

Não costuma ser fácil virar a página. A gente se apega às histórias, aos livros, aos personagens, às vezes até aos chatos. Não precisa fingir que é fácil virar a página, saltar de um capítulo para o outro. Está tudo bem se demorar mais um pouco naquele trecho, naquele parágrafo, naquele diálogo, naquela frase que ficou em aberto. Ninguém é obrigado a ler um livro no mesmo ritmo que o outro. Ler a vida também não.

Pode ser necessário um ano inteiro para virar a página. Ou talvez baste uma semana, um mês. Ah os meses… doze deles espremidos em um calendário, servindo de recheio para o ano. Em cada um deles, tantas oportunidades, chances e páginas a serem escritas, bem como viradas. Deixar para trás é também saber seguir. Mas, veja bem, deixar para trás não quer dizer terminar alguma coisa de vez. Pode ser apenas mudar um comportamento, abandonar uma posição para assumir outra, corrigir um erro, renovar um compromisso.

Viver é virar muitas páginas ao longo da caminhada. Um ano também. Com seus ciclos, suas estações, seus pequenos rituais, a gente vai virando uma página depois da outra. Quando vê, mais um capítulo chega ao fim. É hora de começar um novo. A trama ainda está se desenvolvendo. O que vem a seguir? Não sei. Mas certamente é preciso virar a página para descobrir.

*Luisa Sá Lasserre é autora do livro “Pensei, mas não disse” (Ed. Patuá)

Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.

Participe também do nosso canal no WhatsApp.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

crônica da muito

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Play

Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia

Play

A vitrine dos festivais de música para artistas baianos

Play

Estreia do A TARDE Talks dinamiza produções do A TARDE Play

Play

Rir ou não rir: como a pandemia afeta artistas que trabalham com o humor

x