Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > MUITO
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email
04/08/2024 às 12:00 - há XX semanas | Autor: Antonia Damásio*

CRÔNICA

Nos braços de Morfeu

Confira a Crônica deste domingo

Imagem ilustrativa da imagem Nos braços de Morfeu
-

A vida oferta uma série de prazeres que assumem diferentes posições na pirâmide de Maslow. Classificado como necessidade básica, o sono é, regularmente, um componente importante da vida anímica. Mutatis mutandis, podemos sustentar uma vida anêmica, do ponto de vista do ciclo circadiano. Já encomendei até o meu nariz de palhaço.

Sempre prezei pela regularidade do sono. Entendo que ele garante a manutenção do meu humor num nível desejável. Ocorre que, a certa altura, o ritmo da noite se desorienta. Até o galo cantou às duas da matina, essa madrugada.

Estabelecido o novo fuso, voltei ao ritmo da oscilação do estrogênio. Menopausa a parte, nesse latifúndio da zona da mata, o sol castiga a terra, a terra devora a água. Se até as bananas da terra perdem seu formato majestoso, resta aos humanos aceitar as alterações climáticas, ainda que não lhes doa menos. Assim como os agricultores driblam as rachaduras do solo quando podem, encarei a reposição como uma forma de irrigar a terra seca.

De picotado, o sono evoluiu para bipartido. Em defesa da regularidade, descobri que antes da revolução industrial, o normal era dormir, acordar, trabalhar, e dormir mais um tanto. O sono linear seria uma invenção do capitalismo. Essa versão me animou. Mas parece que não deu certo com os espanhóis. Particularmente, se me enfiam um intervalo de horas depois do primeiro turno de trabalho, meu corpo não volta nunca mais. É um tipo de compromisso que assumo com minha paz interior. Quando fazemos as pazes, nada me separa desse amor.

A reposição hormonal me trouxe de volta à vida social, mas nem tanto. Foi preciso estabelecer novas regras de convivência. Ninguém me ligue depois das cinco. Oficialmente, estou em Nárnia.

Leia também:

>>> Nem tudo é espuma

>>> A poesia de Itaparica

>>> Meus parabéns agora

O período de permanência é até às 22 horas, quando bebo água e atualizo o feed. Retorno pela via Ápia e sigo varando a madrugada, até que os rins completem seu trabalho. Às quatro da manhã, segundo o fuso dos galos saudáveis, desperto com os miados impacientes dos meus gatos.

O feitiço de Áquila. O filme de quem pretende se relacionar com uma pessoa de sono bipartido. Há uma pausa de cinco minutos entre as trocas de turno (e de tiros), tempo insuficiente para uma D.R. (upgrade do aplicativo de relacionamento), mas tempo de sobra para um chamego precoce. Ativando a ira masculina.

Este é o ponto em que os homens entram no modo exibicionista. Quantos gols na mesma partida? E teve prorrogação, replay, disputa de pênaltis, gol de placa, voleio. Na apuração do WAR, foi morte súbita.

Estamos numa altura da vida em que já não precisamos entrar em bola dividida. É possível estabelecer termos mais justos para os contratos. Não deve ser fácil ser o rei da performance na corrida maluca contra o tempo. Não sei se vem de deus o céu ficar azul, mas a cor que azuleja a noite coloriu a vida dos homens.

O vigor ressurge das cinzas e testemunhamos os adultos maduros mais animados e dispostos a estabelecer parcerias. Umas mais açucaradas, outras mais meladinhas. É possível assumir uma relação de sugar daddy sem julgamentos. Se a fome é amarela no Quarto de despejo, a bonança é azul no aposento do desejo.

Sobre a dor e a delícia de ser quem somos, no caminho da justiça e da paz, não há verdades imutáveis. Cada corpo é único, cada toque singular, cada um beija a sua maneira. Da ligação química que acontece no ar, pouco antes de cada corpo se entrelaçar, quase nada sabemos. Os nossos sentidos claudicam. O que aparentemente detestamos, pode esconder um desejo irresistível. Aquilo que julgamos ter nos atraído, é precisamente o que nos trai.

Ao cabo, tudo se torna um recorte temporal. Vamos atualizando as versões dos acontecimentos, apagando os afetos, minimizando os efeitos. Aquela pegada boa, pode arrebatar um suspiro, sem despertar a saudade. Já uma treta interminável, que nunca se revelou em concupiscência, pode incendiar a Zona da Mata, o Recôncavo e o reconvexo.

*Psicanalista

Assuntos relacionados

crônica Morfeu muito sono

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

crônica Morfeu muito sono

Cidadão Repórter

Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro

ACESSAR

Assuntos relacionados

crônica Morfeu muito sono

Publicações Relacionadas

A tarde play
Play

Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia

Play

A vitrine dos festivais de música para artistas baianos

Play

Estreia do A TARDE Talks dinamiza produções do A TARDE Play

Play

Rir ou não rir: como a pandemia afeta artistas que trabalham com o humor

x

Assine nossa newsletter e receba conteúdos especiais sobre a Bahia

Selecione abaixo temas de sua preferência e receba notificações personalizadas

BAHIA BBB 2024 CULTURA ECONOMIA ENTRETENIMENTO ESPORTES MUNICÍPIOS MÚSICA O CARRASCO POLÍTICA