FESTIVAL UNIVERSO SPANTA
Daniela Mercury defende novo axé: “Mesmo que não gostem, a gente faz"
Artista foi a segunda atração a subir no palco do Festival Universo Spanta, que recebe exposição fotográfica do Grupo A TARDE
Por Priscila Melo | Do Rio de Janeiro
Já pintou verão pelas bandas da cidade maravilhosa! Logo cedo, o som que conseguiu atravessar o silêncio do quarto do hotel já avisava o tom do dia: em alguma caixinha de som, provavelmente um outro hóspede ouvia Ivete Sangalo. Mas a axé music, tipicamente baiana, não ficou só naquele recinto. O Carnaval de Salvador foi transportado e comandou o palco no penúltimo dia do Festival Universo Spanta neste domingo, 19, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro.
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Neste último dia de festa, o Universo Spanta presta homenagem aos 75 anos do trio elétrico e aos 40 anos da axé music. Ilustre, a grade contou com uma verdadeira constelação de estrelas da Bahia: Ivete Sangalo, Bell Marques, Daniela Mercury, É O Tchan, Armandinho, Dodô e Osmar, com participação de Carla Visi, Gerônimo Santana e Márcia Short e o bloco afro Ilê Aiyê.
O início dos trabalhos ficou com os precursores. Armandinho, Dodô e Osmar abriram entoando o hinário do axé. Para contar essa história em forma de show, receberam no palco Carla Visi, uma das maiores lendas da Cheiro de Amor, Márcia Short, a voz potente do samba reggae e da Banda Mel, e Gerônimo Santana, o pagador de promessas que entoou que “nessa cidade, todo mundo é d' Oxum”.
A segunda atração da noite, Daniela Mercury abriu sua apresentação com “O axé é Salvador", sua nova música que exalta os orixás, e deu sequência a um desfile de clássicos que fizeram o público cantar em coro do início ao fim. “O Canto da Cidade”, “O Amor de Julieta e Romeu” – momento em que a plateia foi à loucura –, “Rapunzel”, “Ilê Pérola Negra”, “Maimbê” e “Nobre Vagabundo” foram alguns dos sucessos que marcaram a apresentação.
Em entrevista exclusiva, Daniela trouxe sua perspectiva sobre os caminhos percorridos pela axé music e sua constante transformação. “Dentro do axé, temos vários ritmos, são variações, são diálogos: frevo, samba de roda, e até uma influência muito grande da música latina. O samba de roda, por exemplo, virou o samba do É o Tchan. No início dos anos 2000, a gente ficava se perguntando: é pagode ou é axé? E o É o Tchan! está aqui hoje comemorando os 40 anos do axé. Deixa a turma se divertir, inventar outros nomes, está tudo certo. Eu também acho que esses nomes são importantes para mostrar que construímos uma história conjunta, coletiva, com contribuições distintas”, afirmou ela ao A TARDE.
Daniela destacou a capacidade única dos músicos baianos de absorverem e reinventarem ritmos. Para ela, essa habilidade é um reflexo das micaretas e dos carnavais da Bahia, que funcionam como grandes laboratórios musicais.
“Nós aprendemos a dominar a música dançante brasileira de uma forma única. Ninguém teve tanta oportunidade de fazer isso quanto a gente, dentro do contexto das micaretas e carnavais da Bahia, que são grandes festivais de música, com apresentações de horas seguidas. Acabamos tendo uma experiência notável, infinita, e os músicos baianos aprendem a tocar todo tipo de música. Não é difícil identificar qual é a fusão. Hoje estamos aqui tentando entender tudo o que fizemos. Viva toda a música feita por nós, com autenticidade, coragem, novidade e originalidade. Isso é o mais importante: não ficar repetindo o que já existe, mas fazer outras coisas, refrescar, trazer prazer. Mesmo que os mais velhos não gostem do que a gente faz de novo, a gente faz assim mesmo”, defendeu.
Ao comentar sobre a renovação do Axé, Daniela celebrou o frescor trazido pelas novas gerações. "Se a turma quer inventar outros nomes ou trazer novos elementos, está tudo certo. Isso é parte do ciclo. O importante é fazermos música com autenticidade, coragem e originalidade".
Diretor artístico do Universo Spanta, Max Viana celebrou a forte conexão entre o Rio de Janeiro e a música baiana. "O Rio sempre abraçou a música e os artistas baianos. Encerrar o Spanta com essa celebração é muito especial, reforçando o papel do festival como uma verdadeira casa da música brasileira", disse ele, em entrevista ao A TARDE.
Passado presente
Para ilustrar ainda mais as homenagens ao axé, o Universo Spanta recebeu a exposição "75 anos do Trio Elétrico – A Nossa Música é Movimento", com 28 imagens do Centro de Documentação e Memória (Cedoc) de A TARDE e da Agência A TARDE, que contam a história desse veículo que transportou a cultura baiana para todo o mundo.
A intenção é que o projeto seja itinerante e, após a temporada no Rio, percorra outras cidades do país. Posicionada ao lado do Palco Lapa durante a realização do festival, a mostra conversou e provocou reflexões sobre passado e presente, história e evolução, mas principalmente, sobre legado cultural.
Para Max, essa conexão entre história e música enriquece ainda mais a experiência do público. "É incrível contar essa história tão rica e culturalmente importante. Muitas pessoas se surpreendem com informações que não sabiam sobre a origem do axé, os artistas e as músicas. Isso faz parte do DNA do Universo Spanta, que não é apenas um festival de música, mas também um espaço para celebrar e preservar a história da música brasileira", afirmou.
Encerrando os trabalhos, na segunda, 20, feriado de São Sebastião no Rio, o Beco do Spanta terá o Grupo Arruda que, em 2025, completa 20 anos de existência, além do cantor e compositor Moyseis Marques, autor e intérprete do samba-enredo no Bloco Spanta Neném no carnaval de 2008.
Veja como foram os shows no Universo Spanta
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