CRIME ORGANIZADO!
ADA: ascensão e queda da facção que surgiu do racha do Comando Vermelho
Investigações revelam atuação coordenada da ADA em áreas antes dominadas por milicianos

Por Luan Julião

A facção Amigos dos Amigos (ADA) surgiu no cenário do crime organizado do Rio de Janeiro no final da década de 1990, resultado de uma cisão dentro do Comando Vermelho (CV). A origem da ADA está ligada a Ernaldo Pinto de Medeiros, conhecido como Uê, que ganhou notoriedade após coordenar a morte de Orlando Jogador, então aliado do CV.
A ação provocou um racha dentro da facção, colocando Uê em confronto com parte dos antigos companheiros. Com sua prisão em 1996, Uê estabeleceu uma aliança com Celso Luiz Rodrigues, mais conhecido como Celsinho da Vila Vintém, consolidando os primeiros passos da ADA.
O nome “Amigos dos Amigos” nasceu nos presídios: presos que apoiavam Uê e Celsinho pediam para ficar na mesma galeria para evitar retaliações de adversários. A expressão rapidamente se transformou em marca da nova facção, que passou a ocupar territórios estratégicos do Rio ao longo dos anos 2000.
Apesar disso, os dados mais recentes mostram que a ADA perdeu presença significativa: segundo o Mapa Histórico dos Grupos Armados da UFF, publicado em 2024, a facção detém atualmente apenas 0,8% do território do Grande Rio, em queda de 75,8% nas últimas duas décadas. Hoje, a ADA busca se manter por meio de alianças com outras facções e milicianos, mantendo operações em áreas antes dominadas por grupos rivais.
Uê: da Favela do Adeus à liderança do tráfico
O perfil de Uê explica grande parte da trajetória da facção. Nascido na Favela do Adeus, em 1968, ele começou no crime ainda criança, influenciado pelo ambiente ao seu redor. Aos 12 anos, já se envolvia em pequenos delitos, e aos 17, teve a primeira prisão por assalto. A relação com José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, um dos líderes do CV, impulsionou sua ascensão e garantiu proteção mesmo após o assassinato de Orlando Jogador. A consequência foi uma onda de conflitos que se estendeu por favelas e presídios, alimentando a fragmentação do Comando Vermelho.
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Celsinho da Vila Vintém e as alianças estratégicas
O histórico de Celsinho da Vila Vintém, por sua vez, reforça o papel estratégico da ADA. Preso em maio de 2025 na Vila Vintém, ele já havia se aliado ao CV temporariamente e negociado com grupos paramilitares para ampliar o controle da Vila Sapê, em Curicica. O PCC (Primeiro Comando da Capital) também aparece em seu histórico de conexões, revelando o caráter interestadual de suas operações.
A prisão de Celsinho, baseada em investigação da 32ª DP (Taquara), mostrou o funcionamento das alianças entre ADA, CV e milicianos, incluindo a venda de drogas em áreas tradicionalmente controladas por outros grupos. De acordo com a Polícia Civil, documentos e depoimentos confirmam que a facção distribuía entorpecentes ostentando símbolos da ADA, enquanto crimes contra milicianos que se opunham à aliança eram executados por integrantes do CV.
Recentemente, a Justiça autorizou a liberdade de Celsinho por razões humanitárias, devido a problemas de saúde como hipertensão, diabetes e diverticulite aguda. Ele cumpre agora prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, podendo acompanhar a esposa em consultas médicas, que enfrenta um câncer metastático.
A decisão judicial ressaltou que a prisão preventiva deve ser aplicada apenas quando estritamente necessária, destacando a possibilidade de medidas alternativas ao encarceramento.
O percurso da ADA, desde os conflitos internos do CV até sua presença reduzida nos dias atuais, ilustra não apenas a fragmentação do crime organizado no Rio de Janeiro, mas também a adaptação das facções diante de pressões policiais, rivalidades históricas e alianças estratégicas.
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