BAHIA
Deputados veem “loucura” em atentado e apontam extremismo como culpado
Parlamentares baianos lamentam incidente e sinalizam discurso radical como responsável
Por Lula Bonfim
O atentado a bomba na Praça dos Três Poderes, em Brasília, foi o assunto da semana. O fato, que resultou na morte apenas de seu autor na noite desta quarta-feira, 13, foi comentado por parlamentares de todo o país, sendo que muitos deles puderam ouvir os sons dos estouros de seus gabinetes na Câmara dos Deputados.
Para Bacelar (PV-BA), o som dos explosivos lembrou “bomba de São João”. Inicialmente, não assustou. Porém, depois de revelado o fato, o deputado federal identificou a seriedade do problema. Segundo ele, apesar de aparentemente ter sido um atentado realizado por uma única pessoa, a responsabilidade é do discurso radical que tem sido feito pela extrema-direita no Brasil.
“É um maluco, que teve o ódio cultivado dentro do pensamento da extrema-direita. Não podemos continuar mais com isso. Tudo para eles é uma conspiração, tudo é comunismo, tudo é satânico. Uma loucura que precisa ter fim”, disse Bacelar, apontando o dedo para os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Câmara.
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O deputado baiano ainda lembrou os fatos ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores bolsonaristas invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, causando destruição nos principais prédios públicos da República brasileira. De acordo com Bacelar, a reincidência do fato mostra que os participantes daquele ato golpista não podem ser anistiados.
“Isso mostra que não podemos dar anistia. Crime contra a ordem democrática é crime hediondo, logo não pode ser anistiado. Precisamos dar uma resposta a isso. Senão vira bagunça. Eu temo isso. Lido com esses extremistas todos os dias na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] e volto para casa preocupado com o Brasil”, afirmou o parlamentar do PV.
“Precisamos de uma apuração rigorosa e uma punição exemplar, para que essas coisas não se repitam mais”, concluiu Bacelar.
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A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) mostrou precaução ao avaliar o caso desta quarta-feira, lembrando que as investigações estão apenas começando. No momento das explosões, ela estava em deslocamento entre a Câmara dos Deputados e o Aeroporto Internacional de Brasília, de modo que não chegou a perceber o atentado.
“Em princípio, não se aponta nenhum responsável, nenhuma organização. O que tem sido apontado como tendência principal é de uma ação individual, mas pensada, organizada e planejada. Há uma investigação em curso, que a gente ainda precisa aguardar”, ponderou a socialista.
Ao mesmo tempo, a presidente estadual do PSB na Bahia concordou com Bacelar, no sentido de que o discurso radical do bolsonarismo é o que alimenta atitudes tresloucadas, como a vista nesta quarta.
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“Sei também que sempre há pessoas perturbadas, mas é claro que certos discursos estimulam ódio, conspirações, clima de temor e tensionamento. Esses transtornos, mesmo que individuais, se desenvolvem assim. Então, certamente, nesse aspecto, há uma coisa que favorece isso, que é esse discurso de ódio, essas fake news”, acrescentou Lídice.
DO GABINETE
O deputado federal Félix Mendonça Jr. (PDT-BA) também estava em Brasília no momento do atentado. Do seu gabinete oficial, ouviu as explosões, que achou parecidas com as de fogos de artifício. Também de sua sala na Câmara, através da janela, viu a movimentação de policiais na Praça dos Três Poderes, para garantir que nenhuma bomba mais explodiria.
“É um caso isolado, de uma pessoa perturbada, doida, que tinha mais a intenção de tirar a própria vida do que outra coisa. Ele esteve internamente na Câmara e entrou também no STF. Então, se ele quisesse fazer algum atentado, ele teria machucado alguém. É a loucura. A gente fica com pena”, lamentou o parlamentar.
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Félix também descartou a possibilidade de Francisco Wanderley Luiz, autor do atentado, ter agido em grupo. Para o deputado, caso a ação tivesse sido organizada por mais pessoas, o número de vítimas poderia ter sido grande, já que o Brasil não estaria preparado para lidar com esse tipo de ameaça.
“Se fosse um algo pensado por algum grupo, não seria tão incompetente. A gente sabe que o sistema de segurança brasileiro, para atentados, é muito fraco. A gente não consegue dar segurança nem no dia-a-dia. Não temos também no STF, nem no Senado nem na Câmara”, analisou Mendonça.
Presente na COP 29 (Cúpula das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), realizada no Azerbaijão, o deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA) se encontrava dormindo quando as bombas explodiram em Brasília. Quando acordou, no continente asiático, se deparou com o atentado nos meios de comunicação brasileiros. Para ele, o fato é resultante do radicalismo.
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“É um fato que demonstra, mais uma vez, a preocupação que nós temos que ter com os excessos, com pessoas que radicalizam e vão para a violência. Ele mesmo tirou a vida dele. Não sei se isso foi um protesto, uma demonstração de insatisfação ou se ele estava querendo realmente tirar a própria vida. É até difícil julgar”, afirmou Cajado, que pediu ainda uma maior organização do Estado brasileiro para proteger as instituições democráticas.
“Precisamos ter uma preocupação maior com a segurança com as instituições e seus representantes. Graças a Deus, não houve nenhuma outra vítima além do próprio rapaz. Eu peço que a gente avalie esse episódio, como uma forma de reforçar e muito a segurança das instituições. Precisamos evitar a todo custo que atos como esses possam danificar a democracia brasileira”, concluiu Cajado.
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