"Quem chegar vai ter que botar para fora quem não fez nada" | A TARDE
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"Quem chegar vai ter que botar para fora quem não fez nada"

Publicado segunda-feira, 18 de junho de 2012 às 12:50 h | Atualizado em 18/06/2012, 13:11 | Autor: Biaggio Talento

Um dos deputados federais mais votados em Salvador, ligado à Igreja Universal, Márcio Marinho garante que a religião não terá qualquer influência na gestão caso seja eleito prefeito. Ele manifestou preocupação com o empreguismo que diz existir na atual administração e a aprovação da Lei de Ordenamento do Uso do Solo (Louos) sem a devida discussão com a sociedade civil organizada. Diz que o próximo prefeito tem a obrigação de rever a Louos, sob pena de o município continuar desrespeitando seus cidadãos.

A TARDE - O PRB vai disputar o primeiro turno da eleição de prefeito isolado, sem coligação? Como estão as negociações com outros partidos?
Márcio Marinho - Nossa intenção é sair do isolamento. A garantia da direção nacional do partido é o PRB disputar as eleições e estamos conversando com outros dois partidos na perspectiva de trazê-los para participar da chapa majoritária para nos permitir ter uma boa musculatura do ponto de vista eleitoral para o pleito de 7 de outubro. Não posso revelar por enquanto quais são esses partidos para não atropelar o processo. Posso dizer que são partidos da base (do governo Jaques Wagner).

A TARDE - Como deputado federal, o senhor disse ter obtido verbas para a prefeitura, mas elas não puderam ser usadas. O prefeito é incompetente ou desorganizado?
Márcio Marinho - Quando você não consegue captar recursos, algum problema de ordem técnica tem. Ou é desorganização ou é falta de uma boa equipe. Só de emendas parlamentares nossas, Salvador perdeu no ano passado quase R$ 10 milhões, em função de estar inadimplente no Calc (Cadastro Único de Convênio com a União). Há desorganização, talvez não do prefeito, mas da parte técnica, dos secretários.

A TARDE - Mas como o prefeito João Henrique dá a palavra final, ele é o chefe...
Márcio Marinho - Realmente, acaba caindo no colo dele, tanto é que qualquer pesquisa que se faça sobre a gestão dá cerca de 70% de rejeição, por conta dessas partes da prefeitura não estarem funcionando.

A TARDE - O que o senhor pretende fazer para melhorar a eficiência da máquina? Vai haver enxugamento?
Márcio Marinho - Tenho dito que a prefeitura é viável economicamente. Tem cerca de R$ 8 bilhões em dívidas a receber. É preciso que haja uma pessoa enérgica, que cobre esse dinheiro para que ele entre nos cofres municipais. A máquina da prefeitura é ineficiente. Hoje, o que tem de terceirizados na prefeitura para atender determinados segmentos, não está no gibi. As principais peças da administração estão sendo subutilizadas. A máquina pode ser enxugada (dos terceirizados), colocando concursados no lugar. A prefeitura foi utilizada com foco político, para eleger fulano e sicrano. Temos um monte de terceirizados fantasmas. Quem chegar vai ter que botar para fora muita gente que não está fazendo nada, tirando dinheiro da Prefeitura de Salvador.

A TARDE - Como vê esse atraso da Câmara Municipal em votar o parecer do TCM sobre a contas de 2010 do prefeito?
Márcio Marinho - Primeiro os vereadores têm de cumprir a responsabilidade constitucional deles. Segundo, eles têm de se dar ao respeito, porque isso vai refletir quando eles foram pedir o voto na eleição deste ano. Se vai aprovar ou não, isso tem que ser votado. As pessoas precisam saber como irá votar a Câmara de Vereadores antes das eleições. Defendo a votação logo. Agora, se existe alguma coisa nos subterrâneos somente os vereadores para dizer isso.

A TARDE - Preocupa o senhor esse crescimento desordenado da cidade? A própria Lei de Ordenamento do Uso do Solo aprovada pela Câmara que está sendo contestada por vários setores?
Márcio Marinho - A forma que essa lei (Louos) foi votada é um desrespeito à cidade. É uma responsabilidade grande para Salvador, pois terá reflexo para o resto da vida. Tem que ser discutida com a sociedade civil organizada. Imagine você, diante de um paredão impedindo a brisa do mar de circular  na cidade. O sombreamento na orla... As áreas verdes se acabando. Não é simples, não, de chegar o prefeito e sentar a caneta ou alguns vereadores da base dele, aprovar um negócio desses sem conversar com a sociedade. Qualquer prefeito que chegar ao Palácio Thomé de Souza e respeite o cidadão soteropolitano tem que rever essa Louos. Porque da forma que foi aprovada é inadmissível, é violentar o povo da cidade de Salvador, a população que não sabe ainda o que é isso, o impacto que terá no dia a dia das pessoas. Imagine, sua casa está aqui e depois aparece um prédio ao lado, sem procurar ouvir os vizinhos. O impacto que isso causa na mobilidade urbana. Acaba-se se usando o boom da construção civil, que gera emprego e renda, nessa discussão. Ninguém está contra isso. Agora é preciso analisar onde pode e não pode. O que adianta resolver um problema e criar outro?

A TARDE - Qual o tipo de influência que a religião terá na sua administração? Deve pautar pelo menos sua conduta, não é?
Márcio Marinho - Não. A conduta quem faz é o meu coração e a minha consciência. A religião não vai opinar em absolutamente nada. Terei votos desde o evangélico até as pessoas de religiões de matriz africana. Tenho relação muito boa com eles, converso com todos. Serei candidato do povo de Salvador, não de um segmento. Vou administrar de forma equilibrada, atendendo a todos os anseios desta cidade que é multirracial, multirreligiosa, multicultural. Tanto o Carnaval e a Lavagem do  Bonfim como a Marcha para Jesus terão a atenção do prefeito. Sei dividir o homem religioso do homem público.

A TARDE - O senhor vai trabalhar, então, para diminuir as tensões entre a Igreja Universal e o candomblé, procurando uma convivência pacífica...
Márcio Marinho - Todo mundo tem que se respeitar. Tanto as igrejas evangélicas como as religiões de matriz africana, os centros espíritas. Vamos lutar para que haja respeito das religiões. Não vamos nos meter na forma litúrgica de cada segmento, mas iremos fazer com que haja respeito de todas as religiões. Salvador é uma cidade diferenciada. Hoje tem cidadão que é evangélico, mas na casa dele tem um espírita, outro de religião de matriz africana e convivem de forma pacífica e harmônica. Esse sentimento que, chegando à prefeitura, vai reinar em Salvador. Não quero discutir religião, mas os anseios da cidade, as propostas para melhorar Salvador.

A TARDE - O que o senhor está vendo nas ruas em termos de desgaste dos governos municipal e estadual? É o mesmo sentimento ou, no caso do Estado, se deve à greve dos professores?
Márcio Marinho - A pesquisa mostra muito o momento. No caso do governador, creio que (o desgaste) decorre da greve da polícia e, logo em seguida, a dos professores, que eu acho que as pessoas estão fazendo uma grande injustiça com o governador. Os professores têm de voltar às salas de aula, pois quem está sofrendo é o Estado inteiro. Sabemos da dificuldade de o governo dar o percentual de aumento pedido (22%), que é justo. Mas nem sempre o que é justo se dá para fazer. Vejo um fundo político atrás disso. Os professores da rede privada fizeram uma greve e logo chegaram a um acordo. Da rede estadual, não, por conta de algumas pessoas que estão à frente da APLB, com objetivos políticos e não estão se dando conta das pessoas prejudicadas. Os alunos que vão fazer o vestibular são os mais prejudicados. Sem falar que o segmento mais pobre é o mais afetado. Wagner está aberto ao diálogo, mas há pessoas radicais à frente da APLB com objetivos políticos.

A TARDE - O senhor identifica entre essas pessoas o presidente da APLB, Rui Oliveira, filiado ao PCdoB?
Márcio Marinho - Quando se fala em Rui, é porque ele está frente do movimento e não tem como separar essa situação. É explícito. Ele é candidato a vereador. Acho que a greve é justa para equilibrar a questão salarial dos professores, mas a greve só deve ocorrer quando se esvaziam todas as possibilidades de diálogo. O governador quer dialogar e quer o equilíbrio.

A TARDE - O senhor foi vice de ACM Neto na eleição de prefeito de 2008 e agora integra os partidos da base de Wagner. Como foi essa transição?
Márcio Marinho - Em 2008, eu ainda não estava no PRB. Era filiado ao PR, conduzido pelo senador César Borges. Na época, havia essa aproximação do PR com ACM Neto. E como o PR entrou na coligação, se procurou uma figura do partido que tivesse uma representação política no meio do eleitor. Na ocasião, o melhor nome era de Márcio Marinho.  Após a eleição, migrei para o PRB. Na eleição de 2010, fomos para a chapa proporcional com o PT quando conseguimos ser o sétimo deputado mais votado do Estado e o terceiro em Salvador.

A TARDE - Então, no segundo turno, se o senhor não passar e houver a disputa entre Pelegrino e Neto, estará com o PT.
Márcio Marinho - Na impossibilidade de chegar ao segundo turno, estarei apoiando o candidato da base do governo que disputará a prefeitura.

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