RELATO
Avó de crianças encontradas mortas em Valéria não acredita em envenenamento
Mãe diz que filhos passaram mal após comer gelatina
Por Andrêzza Moura
Alexandra de Jesus Fonseca, mãe da estudante Iasmim Conceição Fonseca, 23 anos, e avó de Benjamim Fonseca de Souza, de 7, e Maria Valentina Fonseca, de 5, crianças encontradas mortas dentro de casa, na manhã da quinta-feira,6, no bairro Valéria, Subúrbio de Salvador, não acredita que a filha e o genro, Jean Silva da Hora, tenham envenenado os netos. O casal está junto, há cinco anos, e Jean passou a criar as crianças, quando Benjamim tinha 2 anos, e Valentina 2 meses.
Não acredito que eles tenham feito isso, não. "Eu acredito em minha filha. Ela me disse: 'mãe, lá em casa não tem nada, nenhum veneno. Nem os remédios eu deixo fácil para eles [as crianças] pegarem. Foi depois que a gente comeu a gelatina. Jean sempre cuidou bem deles [netos], a menina era muito apegada a ele. Chamavam ele de pai", contou a senhora, muito abalada.
Ainda conforme ela, desde a segunda-feira, 3, Iasmim vinha reclamando de dores abdominais e apontava que o mal-estar aparecia todas as vezes que bebia água do tanque, do apartamento onde a família mora, no Residencial Lagoa da Paixão, na Rua Morada da Lagoa. Mãe, pai e filhos começaram a apresentar dor abdominal, diárreia, naúseas e vômito, na quarta-feira, 5. Alexandra acredita que eles foram contaminados pela água do tanque do prédio.
"Está todo mundo falando um monte de coisa. Mas, não foi averiguado a água. Acho que deveriam olhar a água, ela pode estar contaminada. Minha filha até estava achando que podia ser o filtro que estava vencido. Ela já ia trocar. O tanque é aberto, há anos, ninguém limpa, o povo bagunça. E a gelatina foi feita com essa água", reafirmou a mulher.
Alexandra revelou que a filha era tão cuidadosa com os filhos que deixou de trabalhar para dar mais atenção a deles, principalmente, porque Benjamim era autista. "Ela não deixava eles com ninguém, só comigo, quando eu podia ficar, com a mãe de Jean, e a tia deles. Benjamim ficava muito nervoso. Ela levou ele no médico, o médico passou até remédio, e ia começar o tratamento", defendeu ela.
Até à noite dessa sexta-feira, Iasmim seguia internada no Hospital do Subúrbio. Conforme Alexandra, a filha segue em estado grave. "A última vez que a vi, foi ontem. Minha outra filha está com ela. Hoje, não fui porque tinha que liberar os corpos porque estavam sem documento. Quando minha filha saiu de casa, não pegou as certidões", explicou a senhora.
Os corpos de Benjamim e Valentina foram liberado, na tarde dessa sexta-feira, após a avó ir ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para solicitar um auto de reconhecimento. O pai biológico das crianças já tinha tentado fazer a liberação no dia anterior, mas não o conseguiu por falta de documentação. "Ele não era um pai presente, não convivia com eles. No dia, não conseguiu porque estava sem os documentos", revelou Alexandra.
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As crianças serão enterradas, na manhã deste sábado, 8, entre às 10h30 e 11h, no Cemitério Municipal de Periperi, no Subúrbio Ferroviário. Alexandra contou que, por conta da gravidade, Iasmim não foi liberada pela equipe médica para ir ao sepultamento dos filhos. "Ela sabe que eles morreram, só não sabe que não vai para o enterro. Os médicos não liberaram porque ela está em estado grave, não consegue ficar em pé, não está conseguindo se alimentar, está usando fralda porque ainda está com diárreia", concluiu a mãe da jovem.
A Escola Municipal Professor Ítalo Gaudenzi, onde Benjamim estudava, emitiu uma nota de pesar aos pais dos demais alunos lamentando a morte do garoto. "É com extremo pesar que informamos o falecimento do nosso querido aluno Benjamim Fonseca. Nosso aluno faleceu hoje, 06/02/2025. Fica o registro de um aluno carinhoso, alegre, bricalhão e sorridente. Sem dúvida, ele deixará uma grande saudade em nossos corações". As escola decretou luto e suspendeu as nesta quinta e sexta-feira.
Exames periciais
Sob anonimato, uma fonte do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), revelou que a autópsia nos corpos das crianças durou três horas. Dois médicos realizaram os procedimentos. Amostra de sangue, urina e fragmento de alguns órgão foram encaminhados para exames periciais.
Polícia Civil
Segundo informações da assessoria de comunicação da Polícia Civil, até essa sexta-feira, 7, cinco pessoas já tinham sido ouvidas por agentes da 3ª Delegacia de Homicídios Baía de Todos-os-Santos (DH/BTS). Entre estas, Jean, padrastro das crianças, Iasmim, a mãe, e Alexandra, a avó. A polícia solicitou também a coleta de materiais para a realização de exames no casal.
"Cinco pessoas já foram ouvidas no inquérito que investiga a morte de dois irmãos no bairro de Valéria, com suspeita de envenenamento. A mãe das crianças permanece internada, mas já prestou depoimento. Foi coletado sangue do padrasto para realização de exames periciais e solicitado o mesmo material da mãe do menino de sete anos e da menina de cinco anos. O resultado dos laudos é aguardado para esclarecer a causa das mortes. Outras diligências e novas oitivas serão realizadas por equipes da 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS), unidade que apura o casal", diz nota da Polícia Civil.
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