LIBERDADE PROVISÓRIA
Ferro-velho: após revogação, mãe de desaparecido diz que a "Justiça é vendida"
Justiça revogou o mandado de prisão do dono do ferro-velho, Marcelo Batista, principal suspeito de mandar matar funcionários em Salvador
Por Leilane Teixeira

A dor e o sentimento de impunidade que pareciam não ter como piorar, nesta terça-feira, 11, se tornaram ainda maiores para Mari Pereira, a mãe de Paulo Daniel Pereira, um dos jovens que desapareceu após ir trabalhar em um ferro-velho, em Salvador. O sofrimento de dona Mari triplicou após a Justiça decidir revogar o mandado de prisão contra o empresário Marcelo Batista, o principal suspeito de arquitetar e mandar matar os jovens.
“Eu fiquei destruída, porque a única coisa que eu estava esperando era que a Justiça fosse feita e encontrassem os restos mortais do meu filho e me entregassem para que eu pudesse enterrar. Nada disso foi feito e para piorar, recebi essa triste decisão hoje. Eu não esperava isso não, porque foi comprovado que ele assassinou meu filho. No carro dele tinha sangue, colheram o meu sangue para fazer a comparação e o resultado da perícia foi 99,9% compatível com o meu, ou seja, o sangue no carro dele era de Paulo Daniel. Eu só queria Justiça e achar os restos mortais do meu filho. Será que eu estava pedindo muito?, desabafou em entrevista ao Portal A TARDE.

Além de Marcelo, os dois suspeitos de envolvimento no desaparecimento, o soldado da Polícia Militar identificado como Maguila e o gerente do ferro-velho conhecido como Cabecinha, também tiveram a liberdade concedida com essa nova decisão judicial. Para a mãe Paulo Daniel e Justiça baiana é “vendida” e um exemplo de “impunidade”.
A Justiça da Bahia é o verdadeiro exemplo de impunidade! É vendida! A Justiça baiana vende por qualquer moeda. Hoje o dinheiro fala mais alto e eu, dona Mary, não tenho dinheiro
Para a mãe do jovem, a revogação da prisão de Marcelo Batista só reforça a suspeita de que o empresário tem fortes ligações com pessoas da Segurança Pública e da Justiça, que, segundo ela, o favoreceram.
“Numa situação dessa eu vou dizer o quê? Se estava comprovado o sangue do meu filho no carro dele. Tinham gravações, filmagens, tudo na mão da Justiça. Tudo comprova que ele tem envolvimento Justiça abre a mão assim? Abre as portas e solta todo mundo, até os que estavam presos? Você quer que eu pense o quê?”, questiona emocionada.
Paulo Daniel, de 24 anos, sumiu junto com o colega de trabalho Matusalém Silva Muniz, de 25 anos. Os dois trabalhadores sumiram no dia 4 de novembro de 2024, após saírem para o serviço. Antes de desaparecerem, foram acusados por Marcelo Batista de furtar alumínio. Assim como a mãe de Paulo Daniel, a esposa de Matusálem também buscou incessantemente por respostas sobre o paradeiro do esposo.

Juntos há 7 anos, ela conta ao Portal A TARDE, que o filho do casal, de apenas 5 anos, vive numa eterna espera pelo pai. “Nosso filho fica o tempo todo perguntando que dia o pai volta. Eu não tenho como explicar para ele o que aconteceu, então digo que ele está viajando a trabalho e em breve volta.
É muita dor. Ele [Marcelo] destruiu duas famílias. Deixar uma mulher sem o marido, o meu meu filho sem pai e deixou dona Mari sem filho. E mesmo assim teve o mandado de prisão revogado e pode andar livremente por aí. Eu nem consigo mais olhar a foto desse homem que me dá uma dor imensa
Justiça divina
Após a revogação da prisão de Marcelo - que até então estava foragido -, e soltura dos demais suspeitos, tanto a esposa de Matusalém, como também a mãe de Paulo Daniel, ambas acreditam que a “Justiça divina será feita”.
“Foi uma injustiça o que a Justiça fez hoje. Mas em relação a isso, eu entrego na mão de Deus, porque eu sei que um dia Deus vai cobrar. Eu só quero que ele fale em que local deixou os restos mortais dos meninos. Depois que acharam sangue deles no carro, eu não tenho mais esperança que estejam vivos. Queria que ele falasse onde está, para a gente tentar tentar ter um pouco de paz”, disse em entrevista ao Portal A TARDE.
Maria também compactua com o mesmo sentimento. “Eu vou lhe dizer uma coisa: a justiça do homem falha, mas a de Deus não. Olha que dia é hoje e olhe o que eu, Dona Mary, a mãe de Paulo Daniel, estou lhe dizendo: A justiça de Deus nunca falha. Eu ainda acredito que este caso ainda vai dar uma reviravolta, porque o Deus que eu acredito e o Deus que eu sirvo, não é um Deus de injustiça não, é um Deus de justiça”.
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