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DIA DOS PAIS

Pai solo cria duas filhas após perder as mães: “O pai também pode fazer"

Experiências e lições de um pai sobre criar filhas em um cenário de luto e desafios

Por Isabela Cardoso

10/08/2025 - 6:01 h | Atualizada em 10/08/2025 - 7:32
Lúthien, de 10 anos, o pai Giovani e a caçula Mei-li
Lúthien, de 10 anos, o pai Giovani e a caçula Mei-li -

Ser pai, para Giovani Damico, de 33 anos, é mais do que um papel. É um compromisso assumido antes mesmo de suas filhas nascerem: estar presente em cada detalhe, da hora de acordar ao beijo de boa noite. Ele decidiu cedo que não repetiria a ausência que marcou a sua infância.

“Eu, como muitos brasileiros, fui criado sem pai. [...] Eu acho que isso certamente foi uma coisa que sempre me motivou no sentido de que, quando chegasse a hora, eu gostaria de ser para meus filhos ou filhas aquilo que ele não tinha sido pra mim", conta, em entrevista ao Portal A TARDE.

Hoje, essa presença é diária, constante e inegociável. Professor e ex-candidato a prefeito de Salvador, Giovani é pai solo de Lúthien, 10 anos, e Mei-li, 2 anos. Duas meninas que, em comum, têm um pai que se recusa a falhar na tarefa de cuidar e, infelizmente, a ausência das mães.

Duas histórias de amor e perda

Sua primeira filha chegou de forma inesperada, aos 21 anos, e enfrentou a perda precoce da mãe, vítima de câncer, quando Lu tinha pouco mais de 1 ano. Já Mei-li, sua filha caçula, nasceu dentro de um relacionamento mais maduro e planejado, mas trouxe consigo um desafio ainda maior: a perda da mãe, Lude Montalvão, em maio de 2024.

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“O nascimento de Mei já veio de cara com o adoecimento de minha esposa, não se tem uma interpretação muito clara, foram muitos médicos que acompanharam a Lude, assim exaustivamente. [...] No meio do ano passado, dali em diante, eu fiquei com essa missão, de cuidar das duas", conta.

Educação pelo diálogo e dedicação de tempo

As duas filhas de Giovani são de mães diferentes
As duas filhas de Giovani são de mães diferentes | Foto: Arquivo Pessoal

A forma como Giovani educa suas filhas é marcada pelo diálogo e pela confiança, buscando construir um espaço onde elas possam crescer com autonomia e segurança.

“Eu acho que eu sempre pensei uma forma de educação desde que fui colocado nesse trabalho de pai. Sempre pensei a educação de uma forma muito construída por muita conversa, muito convencimento, muito mais do que o pai necessariamente ter todas as razões ou coisa do tipo. [...] Isso ajuda a criar laços de confiança", explica.

Além da dedicação, o pai solo enfrenta os desafios cotidianos da presença e do tempo. A qualidade, para ele, está no momento de atenção e no vínculo que cria, mesmo em meio ao cansaço e às dificuldades emocionais.

“Acho que não só minha, acho que essa é uma dificuldade de todo pai, toda mãe, trabalhador, se fazer presente na vida de seus filhos. [...] A solução acaba sendo menos sobre quantidade e mais sobre qualidade. Se eu tiver um dia muito corrido, mais vale eu ter ali uma meia hora onde a gente conversa, tem um momento ali pra dar risada, às vezes pra assistir alguma coisa ou pra jogar algum jogo juntos", conta.

Criar meninas no Brasil

Em sua rotina, Giovani também traz à filha mais velha reflexões sobre a realidade social e os perigos da cidade, com um olhar que mistura proteção e direcionamento.

“Criar crianças é particularmente difícil, criar meninas eu acho que é ainda mais desafiador num país com uma realidade de muita violência de gênero. [...] Eu tento trabalhar isso muito principalmente com minha filha mais velha, o que é assédio, o que é uma violência sexual”, ressalta.

Giovani Damico é ex-candidato a prefeito de Salvador
Giovani Damico é ex-candidato a prefeito de Salvador | Foto: Arquivo Pessoal

Giovani defende que o diálogo com os filhos seja frequente e progressivo, e não uma conversa única com grande pressão. “Na minha experiência eu fui percebendo que uma certa dose homeopática, mas associada com a frequência, acabou servindo melhor do que achar que um dia vai ter uma grande conversa dramática", diz.

Apesar das dores, ele busca a esperança e a resistência: ensinar as suas filhas a brincar na rua e a encarar o mundo com coragem, sem deixar os cuidados de lado.

“Eu gosto de trazer essa ideia para a minha vida de que a gente também precisa resistir um pouco a certos processos que estão colocados de ninguém sair na rua. Se eu passo a ensinar isso para minhas filhas, a gente legitima uma realidade que a gente não quer. [...] Eu não acho que pode ser nenhum movimento de tapar o sal com a peneira, de fantasiar que a realidade social que está colocada não existe, mas é um esforço de também não se render a essa realidade", comenta.

O professor reforça ainda a importância de estimular nas crianças a confiança em referências além dos pais, ampliando a rede de apoio e troca.

“Eu percebo que às vezes a minha filha tem essa necessidade [...] Para acessar também diferentes perspectivas, isso também vai criando a visão de mundo da criança. Ter o olhar de confiança nos pais é muito importante, mas é ter também algumas outras figuras de referência a quem elas possam também recorrer", pontua.

Preconceitos na paternidade

Giovani e a filha mais velha Lúthien
Giovani e a filha mais velha Lúthien | Foto: Arquivo Pessoal

Sobre o papel do pai solo na criação, Giovani relata os desafios e os preconceitos que ainda enfrentam pais à frente do cuidado com os filhos.

“Muitas coisas foram se ajeitando com o tempo, mas eu tive momentos de sentir que uma certa resistência, a ideia de que o pai também pode fazer certas coisas, que o pai também tem certas responsabilidades, e que ele também não nasce sabendo. [...] Muitas vezes eu percebi olhares um pouco como se eu não soubesse o que eu estava fazendo. Várias vezes eu fui confrontado, em clínicas, em espaços públicos. Isso acontece para as mães também, especialmente para as mães mais novas", relata.

Para o professor, a maior presença dos pais tende a naturalizar essa participação e diminuir preconceitos. “Acredito que a partir do momento em que a gente começa a demandar que mais pais estejam presentes e que a gente deixe de estranhar e de achar que é uma coisa fora da curva, esse tipo de preconceito tende também a se diluir", conclui.

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Tags:

Dia dos Pais Giovani Damico paternidade solo

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