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TRADIÇÃO

Tradicionais bonecos do 'Judas' já estão à venda para a Semana Santa

Prática foi herdada dos povos ibéricos e enraizada em várias regiões do Brasil

Por Marcela Magalhães*

12/04/2025 - 7:55 h | Atualizada em 12/04/2025 - 10:47
Semana Santa impulsiona vendas de bonecos de Judas
Semana Santa impulsiona vendas de bonecos de Judas -

Com a iminência da Semana Santa, uma tradição secular ressurge literalmente das cinzas: a queima dos bonecos de 'Judas'. A prática herdada dos povos ibéricos e enraizada em várias regiões do Brasil, tem movimentado as vendas dos bonecos que representarão personagens considerados “Judas”, que serão julgados e queimados em praças públicas como forma simbólica de punição pela traição ao Cristo ou por ser motivo de chacota para a população.

Se no passado os bonecos vinham com traços de políticos ou celebridades que protagonizaram escândalos, hoje o processo é mais discreto. De acordo com Fernando Dias, de 68 anos, que há cinco décadas confecciona os famosos bonecos ao lado do parceiro Jean Neiva.

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“A gente faz o boneco e entrega para o cliente. Ele é quem denomina quem ele quer tocar fogo. Não tomamos partido, porque o político também é nosso cliente”, explica. Hoje aposentado, o artesão aprendeu o ofício ainda criança e faz de tudo para manter viva a tradição.

Média de preço do boneco

Segundo ele, o valor de cada boneco gira em torno de R$450, já com roupas, estrutura de madeira e recheio de explosivos de baixo teor. Apesar da cautela ao retratar figuras públicas, Fernando relembra os tempos em que bonecos de personagens polêmicos eram comuns.

Fernando Dias confecciona bonecos há 50 anos
Fernando Dias confecciona bonecos há 50 anos | Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE

“Já apareceu boneco de Lula, de Fernando Collor... Eu faço Judas há muito tempo. Já fabriquei de todos os tipos. Mas, de uns 8 a 10 anos pra cá, paramos de colocar características específicas. Não era viável continuar, porque estávamos retratando nossos próprios clientes”, relata.

Rituais religiosos

A professora e pesquisadora Sálua Chequer, especialista em manifestações populares, explica que a tradição de queimar o Judas remonta a rituais de colheita trazidos por portugueses e espanhóis.

“Queimar algo tinha o sentido simbólico de afastar o mal. Depois, esse sentido foi reinterpretado com a figura do apóstolo traidor. A queima virou uma espécie de vingança coletiva contra a traição a Jesus, realizada no Sábado de Aleluia”, explica.

Queimar algo tinha o sentido simbólico de afastar o mal.
Sálua Chequer, - professora e pesquisadora

Com o tempo, a prática foi ganhando novas camadas de significado, transformando-se também numa ferramenta de crítica social e sátira política. Os bonecos passaram a ser usados para representar personalidades públicas que, de alguma forma, “pisaram na bola” ao longo do ano, sendo agredidos e até queimados como punição de suas ações.

Testamento de Judas

Além do espetáculo visual da queima, o ritual envolve a leitura do “testamento do Judas”, um texto cômico ou crítico que costuma ironizar os acontecimentos recentes da comunidade ou do país. A queima, geralmente realizada nas ruas, praças ou até mesmo em frente a igrejas e cemitérios, é acompanhada por fogos, gritos e aplausos.

Em algumas regiões, festividades maiores incluem jogos tradicionais como pau de sebo, corrida de saco e quebra-pote — atividades que, segundo os moradores mais antigos, têm desaparecido com o passar dos anos.

Tradição flerta com esquecimento

Apesar da tradição, a prática enfrenta dificuldades para se manter nos grandes centros. “Já tive época de vender 700 bonecos e não dar conta da demanda. Hoje a tradição parece não ter morrido, mas está diminuindo bastante”, lamenta Fernando.

Fernando Dias da Encarnação Filho, artesão
Fernando Dias da Encarnação Filho, artesão | Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE

Para ele, o desinteresse crescente, principalmente por parte dos políticos — antigos compradores frequentes — comprometem o futuro da tradição, que se mantém pela venda para associações de moradores e poucos políticos. Mesmo assim, ele segue firme ao lado de Jean, determinado a manter a chama acesa.

“A intenção é que as crianças vejam a queima de Judas e entendam que ela representa festa. Eu já tô velho, pensando em encostar a chuteira, mas Jean vai continuar. É muita luta pra manter a tradição”, conclui.

*Sob a supervisão da editora Isabel Villela

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Tags:

artesão cultura popular brasileira Judas queima de bonecos Judas rituais religiosos semana santa

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