JANEIRO BRANCO
Apoio psicológico ameniza sofrimento de pacientes na luta contra o câncer
"Se você cuida da mente, apenas 50%, já é o tratamento", diz a baiana Ednalva Borges
Por Isabela Cardoso
A campanha Janeiro Branco, dedicada à conscientização sobre a saúde mental, destaca a importância de cuidar da mente, especialmente em momentos de grandes adversidades. Para pacientes com câncer, os desafios não são apenas físicos, mas também emocionais.
O câncer pode causar grande impacto emocional, desde o diagnóstico até os tratamentos agressivos. Segundo os especialistas, o apoio psicológico ajuda a reduzir o sofrimento, promovendo uma melhor qualidade de vida, aliviando o estresse e a ansiedade, além de fortalecer a resiliência do paciente.
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A baiana Ednalva Borges de Souza, de 59 anos, é um exemplo de resistência diante de um longo histórico de batalhas contra o câncer. Seu primeiro diagnóstico, em 2001, aos 35 anos, revelou um câncer na mama esquerda. A partir de então, sua vida foi marcada por uma série de desafios, incluindo a aposentadoria precoce em 2002.
Durante seu tratamento de quimioterapia no Hospital Aristides Maltez, em Salvador, ela se tornou voluntária em um grupo de apoio, oferecendo suporte a outros pacientes que enfrentavam a mesma luta. Em 2009, Ednalva recebeu a notícia de que um segundo nódulo havia se formado na mesma mama, o que a levou a iniciar novamente o tratamento com quimioterapia e radioterapia na Clínica AMO.
“Eu fazia acompanhamento individual, mas agora faço em grupo na Clínica AMO, porque achei que eu ficaria bem onde eu estou. É uma coisa bem difícil quando você está com câncer, você fica meia perdida, ou você quer viver ou você desiste. Eu optei por viver, tenho muita fé em Deus e quis cuidar de mim. Se você cuida da mente, apenas 50% é o tratamento, o cuidado mental é fundamental. E nesse grupo, a gente tenta ajudar umas as outras, eu me fortaleço com isso”, destacou a aposentada, em entrevista ao Portal A TARDE.
O câncer continuou a fazer parte da vida de Ednalva, com novos diagnósticos que surgiram ao longo dos anos. Em 2011, apareceu um câncer de tireoide, que exigiu cirurgia e mais tratamentos. Cinco anos depois, em 2016, o segundo nódulo de mama evoluiu para metástase óssea no esterno, o que exigiu três cirurgias, além de radioterapia, quimioterapia e um regime de medicamentos por cinco anos.
Apesar das adversidades, Ednalva continuou sua jornada de luta, sendo um exemplo de coragem para muitos. Em 2023, ela iniciou um novo protocolo de tratamento, com infusões a cada 21 dias, demonstrando que sua determinação segue firme.
“Desde o começo eu tive uma força de vontade muito grande de viver, existir, porque o tratamento é muito ruim. Você fica frágil, parece que o mundo vai acabar, principalmente quando você está ficando boa e aparece outros. Então você tem que ter uma força de vontade muito grande, ter muita fé em Deus e ter fé naquelas pessoas que estão cuidando de você".
"Ter o apoio da família também é fundamental. Eu acho que eu tento reagir bem em relação a tudo isso que eu passo. Tem horas que você quer fraquejar, que você cansa de tudo isso, porque não são 20 dias, nem um mês, são 24 anos nessa luta. O corpo cansa também, mas você tem que ir em frente”, reforçou Ednalva.
Além do tratamento psicológico, Ednalva também conta com o apoio da família e amigos. Para ela, é um conjunto fundamental para lidar com os anos de tratamento.
“Tanto família, como amigos, como os médicos que acompanham, é fundamental. Eu moro sozinha, tenho uma irmã e uma sobrinha que moram por aqui e me dão todo apoio. Minha mãe e meus irmãos não moram aqui, então o apoio que elas me dão é fundamental para uma cura realmente. O suporte que eu tenho dos médicos e da clínica é a diferença pra mim. Tudo isso para o tratamento, para as emoções, para a cura, é importante”, completou.
O que dizem os especialistas
A psicóloga da Clínica AMO, Ana Paula Nunes, explica que a busca pelo tratamento psicológico, apesar de muitos avanços, ainda é considerada um estigma por ser associada a transtorno mental.
“O sofrimento psicológico não está relacionado a transtorno mental, é um sofrimento humano que todos nós passamos diante de situações adversas na vida. Ninguém espera receber essa notícia, ninguém espera receber esse diagnóstico do câncer, isso impacta muito a vida da pessoa porque os sintomas das emoções iniciais são muita angústia, desespero, ansiedade, sintomas depressivos muitos até encaram como uma sentença de morte. Nós sabemos que com o avanço dos tratamentos, o prognóstico, a qualidade de vida, mesmo após diagnóstico de câncer, é real através dos diversos tratamentos que são possíveis”, destaca a profissional.
O tratamento da psicoterapia busca:
- Desenvolver apoio no enfrentamento emocional
- Melhorar adesão ao tratamento de câncer
- Ajudar a reduzir o sofrimento
- Adquirir estratégias de enfrentamento saudáveis como aceitação da doença, resiliência e foco no momento presente
De acordo com a psicóloga, o apoio familiar também é muito importante para o paciente sentir que conta com alguém e dividir a sobrecarga emocional.
“O paciente fica muito sobrecarregado, sentindo muita ansiedade, se sentindo culpado, a melhor forma que esses amigos e familiares podem ajudar é estando ali, prestando uma companhia, vivendo o momento presente, dia após dia, sem tentar antecipar o futuro ou sem olhar para o passado".
"Fornecendo qualquer tipo de assistência que aquele paciente precisa, seja uma financeira, de fazer o mercado, de preparar uma comida ou arrumar a casa, ou simplesmente estando ali para assistir um filme, falar de coisas leves, algo que possa ajudar a encarar o processo de uma forma mais tranquila para que o processo de tratamento não seja considerado um fardo”, finalizou a especialista.
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