SAÚDE
Autismo e seletividade alimentar: o que os pais precisam saber
Nutrólogo explica condição e sugere estratégias para ajudar na dieta das crianças

Por Victoria Isabel

A seletividade alimentar é uma das principais condições que afetam pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), presente entre 40% e 80% das crianças diagnosticadas. O tema foi abordado na palestra “Aspectos Nutricionais do Transtorno de Espectro Autista”, ministrada pelo Dr. Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida durante o CBN 2025 – XXIX Congresso Brasileiro de Nutrologia, realizado de 25 a 27 de setembro em São Paulo.
Em março, a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal aprovou o Projeto de Lei (PL) que estabelece a terapia nutricional para pessoas com TEA. A medida visa facilitar o acesso ao tratamento adequado para essa condição, que pode trazer sérios riscos à saúde, como deficiências de micronutrientes e distúrbios gastrointestinais.
Em sua palestra, o especialista comentou a os mitos sobre dietas restritivas e apresentou questões nutricionais reais enfrentadas por crianças com TEA. “Não há indicação generalizada para retirar glúten ou lactose. As famílias muitas vezes gastam tempo e dinheiro em estratégias que não trazem benefício clínico”, explica.

Principais desafios nutricionais
Seletividade alimentar
Em entrevista ao portal A TARDE, o médico explicou que a seletividade alimentar surge junto com o diagnóstico e, em casos extremos, algumas crianças consomem apenas dois ou três alimentos, o que pode gerar deficiências nutricionais.
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“Uma seletividade discreta pode não ter repercussão alguma. Às vezes, a criança come muito pouco, mas ela come, aceita o laticínio, alguma carne, cereal. Então, ela não vai ter muita repercussão. Agora, aquela criança grave, que consome só dois ou três alimentos, ela vai ter deficiência nutricional.”
“Por exemplo, se ela não consumir nada que tenha carne, provavelmente terá deficiência de ferro. Se ela retirar todos os alimentos de origem animal, ovo, leite ou carne, terá deficiência de vitamina B12. Então depende do tipo de seletividade, da gravidade e da extensão do quadro”, exemplificou.
Comportamento
Segundo o especialista o comportamento alimentar pode influenciar crises ou desconforto quando associado à fome. “Se uma criança só aceita leite e ele não está disponível, a fome pode disparar uma crise”, exemplifica Dr. Carlos Alberto.
Distúrbios
O médico também afirma que crianças com TEA apresentam alta prevalência de distúrbios gastrointestinais. Os sintomas mais comuns são:
- Dor abdominal
- Náusea
- Vômito
- Diarreia
- Constipação
Perfis sensoriais
- Hipossensorialidade: baixa percepção de sabores; estratégias como intensificar sabor ou textura ajudam a introduzir novos alimentos.
- Hipersensorialidade: alta sensibilidade a estímulos; recomenda-se reduzir cor, cheiro, sabor e crocância, adaptando a alimentação ao perfil da criança.
Orientação para os pais
De acordo com o médico, alguns pacientes com TEA submetidos a tratamento inter profissional conseguem evolução no quadro de seletividade, mas é importante que os pais busquem ajuda profissional e que esse manejo seja feito com uma abordagem multidisciplinar.
“Quando você mistura um nutrólogo, um nutricionista, um psicólogo, um terapeuta ocupacional e um fonoaudiólogo, essa equipe em parceria muitas vezes consegue alguns avanços e faz com que a criança agregue novos alimentos.”
“O diagnóstico é essencial para que o profissional avalie se a seletividade é hipossensorial ou hipersensorial e indique a intervenção adequada, sempre respeitando as características da criança”, completou.
*A repórter viajou para São Paulo a convite da ABRAN.
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