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Brasil passa a contar com novo tratamento para câncer de endométrio

Mês de setembro é dedicado à conscientização sobre os cânceres ginecológicos

Publicado quarta-feira, 10 de agosto de 2022 às 18:03 h | Atualizado em 10/08/2022, 19:02 | Autor: Thais Seixas*
Anne Carrari, paciente de câncer de ovário metastático há sete anos
Anne Carrari, paciente de câncer de ovário metastático há sete anos -

Anne Carrari tem 47 anos, é mãe de 3 filhos e graduanda em Saúde Pública pela USP. Paciente de câncer de ovário metastático há sete anos, ela diz que ainda há um estigma social muito forte em relação à doença e reprova quem diz que alguém 'perdeu a batalha para o câncer'. 

"Quando a gente parte dessa vida, deixa um legado, e atribuir um título de perdedor para um paciente com câncer machuca muito. O legado precisa ser honrado com respeito e amor. E a gente precisa falar de câncer sem o peso dos estigmas, para alcançar as pessoas e não paralisá-las pelo medo. Eu acredito que a gente pode trocar o medo por atitude".

O depoimento sobre a descoberta do câncer - ela teve como único sintoma um inchaço abdominal persistente e passou por três médicos antes de obter o diagnóstico -, e a forma como se tornou uma voz ativa para a conscientização sobre a doença foi compartilhado por Anne durante o evento 'Cânceres Ginecológicos sob a ótica Jornalística', realizado nesta quarta-feira, 10, em São Paulo.

Na ocasião, a biofarmacêutica multinacional GSK anunciou o novo tratamento para o câncer de endométrio, o Jemperli (dostarlimabe), primeiro imuno-oncológico lançado pela empresa no Brasil e já disponível no setor privado. A terapia infusional, que foi aprovada recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é indicada para pacientes que possuem câncer de endométrio recorrente ou em estágio avançado. 

A GSK também é responsável pelo tratamento Zejula (niraparibe), voltado para combater o câncer de ovário, que recebeu aprovação da Anvisa em março do ano passado. Neste momento, a terapia - ministrada nas pacientes por via oral -, aguarda ser incluída no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Luciana Holtz, fundadora da Associação de Pacientes Oncoguia
Luciana Holtz, fundadora da Associação de Pacientes Oncoguia |  Foto: Thais Seixas | Ag. A TARDE
 

Além de Anne Carrari, participaram do evento o médico oncologista e fundador do Instituto Vencer o Câncer (Ivoc), Fernando Maluf; a gerente médica de oncologia da GSK, Tatiana Pires; e a fundadora da Associação de Pacientes Oncoguia, Luciana Holtz.

"O compromisso da GSK é trazer essa inovação para o tratamento do câncer, e a gente tem essas duas notificações, aprovadas recentemente, dentro dos cânceres ginecológicos. O Jemperli é infusional, então o tratamento já é reembolsável pelas operadoras de saúde. Já os medicamentos orais oncológicos, como o Zejula, precisam entrar no Rol da ANS. Ele foi sumetido para avaliação, vai ser analisado no dia 16 de agosto e, depois de 15 dias, a gente entra em um processo de consulta pública. Em função do câncer de ovário ter menos divulgação, é importante que a gente faça mais barulho em relação à essa consulta pública, para ter a participação da população", enfatiza Tatiana Pires.

Tatiana Pires, gerente médica de oncologia da GSK
Tatiana Pires, gerente médica de oncologia da GSK |  Foto: Thais Seixas | Ag. A TARDE
 

Doença silenciosa x inexistência de exames  

Fernando Maluf destaca a importância de ampliar o conhecimento da população sobre os cânceres ginecológicos e, assim como o Outubro Rosa alerta para o diagnóstico precoce do câncer de mama, o mês de setembro foi escolhido para conscientizar sobre estes tipos da doença. 

O especialista também chama a atenção para o fato de que os cânceres ginecologicos são doenças sileciosas e, na maioria das vezes, não apresentam sinais nem sintomas. Além disto, ainda não existem exames de rastreamento específicos - a exemplo do Papanicolau, que detecta o câncer de colo de útero. 

"De todos os tumores ginecológicos, o de ovário é o mais perigoso. E talvez o grande motivo é que a gente ainda não conseguiu se antecipar ao diagnóstico precoce. Quando as mulheres vêm ao consultório, geralmente com a doença já avançada, elas sentem que foram negligentes ou que alguém negligenciou o cuidado delas. Mas, na verdade, não é nem um, nem outro", diz. 

Fernando Maluf, médico oncologista e fundador do Instituto Vencer o Câncer (Ivoc)
Fernando Maluf, médico oncologista e fundador do Instituto Vencer o Câncer (Ivoc) |  Foto: Thais Seixas | Ag. A TARDE
 

O médico explica ainda que os sintomas do câncer de ovário são inespecíficos, ou seja, podem ser os mesmos de outras doenças. "Os mais comuns, que chegam como primeiros fatores, são desconforto ou aumento do volume abdominal, náusea e fadiga. Como não há um exame de rastreamento, o diagnóstico é feito, muitas vezes, pelos sintomas. Então essa é a sequência: sintomas, exames de imagem e de sangue, biópsia e a cirurgia".

Números

A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é que o Brasil tenha registrado, em 2020, 6.650 novos casos de câncer de ovário. 

Ele está entre os tipos de cânceres ginecológicos, que afetam ainda o endométrio, colo e corpo do útero, vulva e vagina. 

O câncer de colo de útero é o terceiro mais comum em mulheres no país, seguido pelo de ovário e corpo de útero, da vulva e da vagina.

Para combater e ampliar o acesso ao diagnóstico precoce, a GSK mantém o investimento em pesquisa. Atualmente, estão programados no Brasil 15 estudos clínicos oncológicos, sendo 12 já em andamento, com mais de 80 centros de pesquisa e 220 pacientes ativos. Ao todo, 75 pacientes já foram beneficiadas com Zejula, por meio de dois Programas de Acesso Expandido, e outras 25 já fazem uso de tratamento contra o câncer de endométrio.

*A jornalista viajou a convite da GSK.

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