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PREOCUPAÇÃO

De reborns a chupetas: infantilização de adultos vira epidemia silenciosa

Psicólogo explica efeitos da epidemia silenciosa que podem se tornar uma patologia

Leilane Teixeira

Por Leilane Teixeira

03/09/2025 - 8:03 h
Imagem ilustrativa da imagem De reborns a chupetas: infantilização de adultos vira epidemia silenciosa
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Adultos tratando bonecas reborns como “filhos de verdade”, alguns usando chupetas e outros que, mesmo na maioridade, ainda não saíram da casa dos pais. Entre brincadeiras e hábitos infantis, ações como essas têm gerado a chamada epidemia silenciosa da infantilização, quando adultos passam a adotar práticas associadas à infância.

Diferentemente da discussão sobre a adultização, que ganhou força nas últimas semanas após o youtuber Felca expor os riscos da internet no desenvolvimento das crianças, o fenômeno da infantilização segue o caminho contrário, mas também está carregado de problemáticas que chamam a atenção de especialistas e levantam reflexões sobre saúde mental e maturidade.

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Em conversa com o Portal A TARDE, o psicólogo Adriano Falcão analisou os fatores por trás desses comportamentos e seus impactos na saúde mental. Segundo ele, a infantilização pode ter múltiplas origens, não se restringindo apenas a questões patológicas. “Nem sempre podemos definir de imediato se algo é doença ou apenas reflexo de tendências passageiras. Depende do contexto. Em alguns casos, pode ser algo sério, mas em outros é apenas parte de ondas sociais que surgem”, explicou.

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Entre os fatores apontados pelo psicólogo estão:

  • Dificuldades econômicas
  • Superproteção familiar
  • Influência da internet e do consumo rápido de informações

“O imediatismo virou regra. Resultados, informações, conquistas, tudo acontece a um clique. Esse automatismo prejudica a paciência, a resiliência e a capacidade de lidar com frustrações. Isso faz com que muitas pessoas desenvolvam comportamentos infantilizados”, destacou Adriano.

Fenômeno global

A infantilização de adultos também pode ser chamada de kidult – junção de kid (criança) e adult (adulto). A febre tornou-se um fenômeno global, atingindo até mesmo celebridades mundo afora. Após a onda dos bebês reborn, o comportamento mais recente dos kidults são as chupetas, que vêm sendo exibidas por jovens adultos nas redes sociais, especialmente na China, Coreia do Sul, Estados Unidos e, agora, no Brasil.

Um estudo realizado nos Estados Unidos revelou que, em 2024, adultos com mais de 18 anos compraram mais brinquedos para si próprios do que crianças em idade pré-escolar. No Brasil, a tendência é semelhante. Segundo pesquisa da Feira Brasileira de Brinquedos (Abrin), realizada no ano passado, 76% dos brasileiros entre 18 e 65 anos se consideram consumidores potenciais desse mercado — percentual acima da média global, de 67%.

Nas redes sociais, anônimos e celebridades internacionais e nacionais já publicaram vídeos e fotos usando chupeta, como Neymar, Ary Fontoura e Carolina Dieckmann. Vídeos virais afirmam que o hábito pode aliviar estresse e ansiedade, reduzir comportamentos como comer de forma compulsiva ou fumar e até ajudar a silenciar o ronco do parceiro. No entanto, nenhum desses efeitos é comprovado na vida adulta, apenas em bebês.

Na psicologia, o hábito de adultos utilizarem chupeta é interpretado como um “mecanismo de regressão emocional”, segundo Adriano. De acordo com ele, esse comportamento funciona como uma forma de “afastar, ainda que temporariamente, as pressões da vida adulta, servindo como recurso para amenizar tensões e desconfortos psicológicos”.

Fragilidades

O psicólogo avalia que esse fenômeno está diretamente relacionado à dificuldade em assumir responsabilidades na vida adulta. Para desenvolver uma personalidade equilibrada, é preciso:

  • passar por experiências;
  • aprender com frustrações;
  • fortalecer a autoestima.
Quando essas etapas são ‘puladas’, a maturidade fica comprometida. O resultado é uma vida rasa, com dificuldade de construir uma imagem sólida de si mesmo”
- Adriano Falcão, psicólogo

Segundo Adriano, o comportamento pode até parecer uma brincadeira em alguns casos, mas se torna preocupante quando passa a preencher lacunas emocionais.

“Quando alguém deposita suas frustrações em um único comportamento – seja nas redes sociais, em jogos, drogas ou até em práticas aparentemente inofensivas – isso pode se tornar patológico. É semelhante ao fanatismo: a pessoa coloca toda a carga emocional em algo externo”, explicou.

Geração mais suscetível

Na análise do especialista, a geração contemporânea está mais vulnerável a esse tipo de comportamento. “Hoje esse comportamento é muito comum. Muitos não conseguem manter relações estáveis, nem pessoais nem profissionais. O resultado são índices elevados de ansiedade, depressão e até suicídio. Quanto mais fragilizada emocionalmente a pessoa estiver, mais suscetível será”, observou.

Essa fragilidade, segundo ele, afeta diretamente a autoestima, os relacionamentos e até a vida profissional. A dificuldade em lidar com frustrações compromete o desenvolvimento da paciência e da perseverança, que, segundo o psicólogo, são fundamentais para estruturar a personalidade. Isso se reflete:

  • no mercado de trabalho;
  • nos relacionamentos;
  • na vida social.

“O desfecho mais comum é a depressão, acompanhada de ansiedade e frustração constantes”, completou.

Caminhos possíveis

Apesar das dificuldades, Adriano ressalta que há formas de lidar melhor com as pressões da vida adulta sem recorrer a práticas de infantilização excessiva. O caminho, segundo ele, é buscar autonomia por meio de:

  • terapia;
  • prática de esportes;
  • interações presenciais;
  • disciplina no uso do celular;
  • adoção de hábitos saudáveis;
  • resgate de rotinas que exigem mais elaboração.

Ele reforça que ter hobbies ou comportamentos considerados mais joviais, como jogar videogame, não é algo negativo em si. “O problema surge quando a pessoa usa essas práticas para fugir das responsabilidades e não consegue se posicionar de forma adulta diante das adversidades. Isso, sim, gera consequências graves, como ansiedade e depressão”, disse.

Para o psicólogo, a chave está em desenvolver resiliência, assertividade e habilidades para lidar com circunstâncias adversas.

“Se criarmos uma sociedade de pessoas que não têm a capacidade de enfrentar dificuldades, teremos uma pandemia de ansiedade e depressão muito maior. Os comportamentos infantilizados podem até parecer inofensivos, mas, quando exagerados, sempre trarão resultados mais patológicos”, concluiu.

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Tags:

adultos infantilizados ansiedade bonecas reborn chupeta Comportamento depressão infantilização kidult psicologia saúde mental

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