SAÚDE
Gripe e Covid podem despertar câncer adormecido; entenda
Nova descoberta traz à tona a importância do acompanhamento rigoroso
Por Isabela Cardoso

Uma pesquisa publicada na revista Nature acende um novo alerta para pacientes em remissão do câncer de mama: vírus respiratórios comuns, como os da gripe (influenza) e da Covid-19 (Sars-CoV-2), podem reativar células tumorais que estavam em estado dormente no organismo.
O estudo, liderado por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, aponta que a resposta inflamatória provocada por essas infecções é capaz de “acordar” células malignas, facilitando seu retorno mesmo anos após o fim do tratamento.
A volta inesperada do câncer
A equipe americana realizou testes em camundongos com células humanas de câncer de mama em estado dormente. Após serem expostos a vírus respiratórios, os animais desenvolveram sinais de reativação celular e apresentaram multiplicação acelerada dos tumores.
“As infecções por vírus respiratórios não apenas despertaram as células, mas também as fizeram proliferar ou multiplicar-se em números enormes”, afirmou o biólogo James DeGregori, um dos autores da pesquisa, em entrevista à revista Nature.
Para James, os resultados são “bastante dramáticos” e abrem uma nova linha de investigação no combate ao câncer.
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A explicação está na resposta imunológica do corpo: ao detectar a presença de vírus, o organismo libera moléculas inflamatórias, como as interleucinas e os interferons, que ativam processos de defesa. Essas mesmas moléculas, no entanto, podem funcionar como um gatilho para a retomada do crescimento de células cancerígenas que haviam se espalhado para os pulmões ou outros tecidos, mas estavam inativas.
Dormência tumoral: um inimigo invisível
A descoberta ajuda a explicar por que alguns casos de câncer de mama reaparecem de forma inesperada, mesmo anos após um tratamento considerado bem-sucedido. Células em dormência costumam ser mais resistentes à quimioterapia, que age principalmente sobre células em divisão. Por isso, mesmo após a eliminação visível do tumor, fragmentos malignos podem permanecer ocultos no corpo.
“É como se o corpo oferecesse condições ideais para que essas células voltem a crescer, sem que percebamos”, pontua DeGregori.
Esse fenômeno é conhecido como dormência tumoral. Ele representa um dos maiores desafios da oncologia moderna: tratar o câncer visível é possível, mas impedir que ele volte silenciosamente continua sendo uma fronteira a ser desbravada.
Implicações para o futuro
Apesar dos experimentos terem sido realizados em modelos animais, os cientistas acreditam que os achados podem abrir caminhos para novas estratégias de prevenção da recidiva do câncer.
Um dos focos é desenvolver terapias capazes de bloquear os sinais inflamatórios que ativam as células dormentes, ou, ainda, monitorar de forma mais intensiva pacientes que já tiveram câncer de mama, especialmente aqueles com risco aumentado de metástase pulmonar.
A pesquisa também lança uma hipótese promissora: vacinas contra vírus respiratórios, como gripe e Covid-19, poderiam ter um papel indireto na prevenção da reativação tumoral, ao reduzir os gatilhos inflamatórios que favorecem o retorno da doença. Ainda não há evidência suficiente para alterações clínicas imediatas, mas o estudo reforça a importância de investir em imunização e vigilância contínua.
Câncer de mama: sinais de alerta
A nova descoberta traz à tona a importância do acompanhamento rigoroso mesmo após o fim do tratamento. Conhecer os sintomas e manter uma rotina de cuidados pode ser essencial para detectar possíveis recidivas com antecedência.
Os principais sinais de alerta do câncer de mama incluem:
- Nódulo indolor, duro e irregular nas mamas
- Retração ou edema da pele com aspecto de “casca de laranja”
- Inversão do mamilo
- Dor persistente
- Descamação ou ulceração do mamilo
- Secreção rosada ou sanguinolenta
- Linfonodos palpáveis na axila
A atenção contínua a esses sintomas, associada a exames regulares e hábitos saudáveis, pode aumentar significativamente as chances de diagnóstico precoce.
Mais do que um alerta, o estudo reforça a urgência em compreender profundamente o funcionamento da dormência tumoral e investir em estratégias que vão além do combate ao tumor primário. Afinal, em muitos casos, o que desafia a medicina não é apenas curar o câncer, é impedir que ele volte.
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