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11/07/2024 às 6:00 - há XX semanas | Autor: Madson Souza

CAÇA-NÍQUEIS

Apostas on-line podem ser tão viciantes quanto drogas; entenda

Além do risco de golpes, jogos podem se tornar um vício

Sensação de perder mais do que lucrar faz parte de desabafo feito por apostador
Sensação de perder mais do que lucrar faz parte de desabafo feito por apostador -

Após perder R$500 em apostas esportivas, André Santana (nome fictício) decidiu apostar mais R$500 para recuperar o valor perdido. O prejuízo total foi de R$1.000. Com as plataformas digitais de apostas, como as “Bets” e o “Tigrinho”, relatos como esse têm se tornado cada vez mais comuns na rotina dos brasileiros. Agentes da área da psicologia e do direito apontam os riscos que a prática causa tanto para a saúde mental quanto para o bem-estar do bolso.

Com o costume de apostar diariamente em esportes, como basquete e tênis, é principalmente com o futebol brasileiro e europeu que André arrisca seu dinheiro. Mesmo após ganhar R$900 jogando, a sensação é que costuma perder mais do que lucrar. “Tem épocas que eu perco mais do que eu ganho. Eu não costumo ficar vendo muito isso não. Se olhar a fundo, acho que perdi mais do que ganhei. Perder os R$1.000 me fez repensar muito sobre apostas. Quando você perde, você quer recuperar e é nesse momento que você se dá mal. Já tive descontroles emocionais nesse momento e foi quando mais perdi”, conta.

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Vício igual a droga

Quando esses jogos alcançam a categoria de vício eles passam a estimular a mesma área do cérebro que outras drogas, como maconha e cocaína, de acordo com Ueliton Pereira, psicólogo e diretor técnico da Holiste Psiquiatria. “Essa busca pela sensação de ser recompensado faz com que a pessoa fique com a compulsão de continuar jogando. Quando entra nesse nível de dependência do jogo a gente chama de ‘pessoas viciadas’, que necessitam daquilo para viver, pra trabalhar, para qualquer outra coisa”.

André afirma que não é seu caso, mas já pensou sobre o assunto. “ Uma vez coloquei um limite de R$100 de quanto podia depositar na casa de apostas e no dia seguinte quis apostar, tentei mudar essa opção e eles não deixaram. Tem que passar uns 15 dias pra poder alterar o limite, então fiz um cadastro em outra casa de apostas. Aquilo me preocupou e me fez repensar muita coisa”.

Para o psicólogo é preciso que as pessoas fiquem atentas ao tipo de relação mantida com esses jogos. “Se está nessa situação tem que procurar ajuda. O recomendado é buscar a psicoterapia, que pode ajudar a perceber a compulsão e necessidade de definir limites com as apostas; grupos terapêuticos de ajuda mútua (...) e um psiquiatra, porque muitos desenvolvem ansiedade, quadro depressivo devido às perdas financeiras, até ideias suicidas”, indica Ueliton Pereira.

Segurança e equilíbrio

Os aplicativos de aposta ainda são um desafio jurídico e social, como explica o superintendente do Procon Bahia, Tiago Venâncio. “É um mercado novo em que vem surgindo diversos problemas principalmente com relação a vício, então nosso principal desafio é fazer com que o consumidor tenha segurança e equilíbrio. Esses jogos são tratados como entretenimento, brincadeira, mas é algo que pode comprometer a vida financeira de famílias”.

De acordo com Diogo Fernandes, advogado e presidente da comissão de direito digital da OAB-Bahia, “as pessoas têm que ficar atentas é que o Tigrinho não é um investimento seguro, controlável, nem nada do tipo. Tem pessoas que encontram um bug e conseguem tirar R$50, R$100, por dia. Mas essas plataformas não são feitas para você ganhar. Ainda é difícil de fiscalizar, porque essas plataformas estão fora do Brasil”.

O professor de direito do consumidor do Instituto Brasiliense de Direito Público da Escola de Direito de Brasília, Ricardo Morishita, reforça a importância da atuação da legislação contra os jogos de azar. “No mundo inteiro, inclusive no Brasil, há uma regulamentação de apostas por dois motivos. O primeiro deles, proteger a poupança popular. Você protege individualmente o patrimônio da pessoa e protege coletivamente o patrimônio do país, que é a poupança popular de toda a sociedade. O segundo é para proteger a saúde e segurança dos consumidores. A técnica digital, eletrônica, cria novos riscos, que precisam ser regulados”.

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