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11/09/2024 às 7:25 - há XX semanas | Autor: Leo Moreira

EXCLUSIVO

Conheça a rota das armas usadas na 'Guerra do Tráfico' na Bahia

Organizações criminosas se alinham a grupos do sudeste do país para se fortalecer e ganhar território

Imagem ilustrativa da imagem Conheça a rota das armas usadas na 'Guerra do Tráfico' na Bahia
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Fuzis, metralhadoras, pistolas, coletes à prova de balas e até granadas formam um verdadeiro arsenal do crime que seria usado na chamada 'Guerra do Tráfico', protagonizada por facções que tentam dominar a Bahia. Segundo os dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, só em 2024, as forças de segurança apreenderam mais de 3.600 armas de fogo, sendo 51 fuzis.

Esse número é 19,82% maior do que no mesmo período do ano passado. [Veja quadro] Apesar de não haver nenhum estudo específico divulgado, a Polícia Civil estima que o tráfico de drogas seja responsável por cerca de 65% das mortes violentas no estado, seja direta ou indiretamente. Mas como esse armamento pesado chega até as organizações criminosas?

Leia Mais:

>> MPF denuncia integrantes de organização do 'Senhor das Armas'
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O Portal A TARDE investigou a fundo para descobrir a logística do crime e o caminho das armas até as mãos das facções criminosas que atuam em território baiano.

Em entrevista exclusiva, o coordenador da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado - FICCO/ BA - Eduardo Badaró, explicou como funciona a dinâmica das facções e alianças em busca de fortalecimento bélico para a conquista de território.

De acordo com o delegado da Polícia Federal, a principal "fornecedora" de armas para o estado é o Rio de Janeiro, onde duas facções, que exercem influência no crime organizado da Bahia, atuam. A principal delas é o Comando Vermelho (CV), que, por meio de um 'casamento' com um antigo grupo baiano (Comando da Paz), se estabeleceu de vez na Bahia.

Outra origem conhecida pelas forças policiais é o estado de São Paulo, onde o Primeiro Comando da Capital (PCC), aliada ao Bonde do Maluco (BDM) em suas 'altas patentes', tem como área de atuação.

Imagem ilustrativa da imagem Conheça a rota das armas usadas na 'Guerra do Tráfico' na Bahia
| Foto: Reprodução Ministério da Justiça

"As cúpulas das facções ficam de lá (Rio de Janeiro e São Paulo). É importante diferenciar que não é que os integrantes da facção de São Paulo estão aqui, não é que os integrantes da facção do Rio de Janeiro estão aqui, mas há um alinhamento faccionados daqui da Bahia, levanto a bandeira unificando a mesma ideia criminosa", explicou.

Apesar do Rio de Janeiro e São Paulo serem as principais origens do armamento, essas armas não são fabricadas no Brasil. Em dezembro do ano passado, uma operação batizada de Dakovo, originária da apreensão de 23 pistolas croatas, em Vitória da Conquista, desarticulou um esquema que movimentava cerca de R$ 1,2 bilhão e 'exportou' aproximadamente 43 mil armas para facções criminosas no país. Na lista de clientes estava o PCC e CV. [Veja mais abaixo]

"Esse armamento não é fabricado aqui. Os dados que a gente tem é que [o armamento] vem através de países da América do Sul, principalmente do Paraguai e da Bolívia", continuou.

Outra modalidade praticada pelos criminosos seria o envio direto (desmontado) para ser desviada aqui em território baiano, ainda nos Correios. "Muitas vezes o produto é comprado em um país fora de outro continente e, ao invés de ele ir direto para o Paraguai, ele vinha o Brasil como se já fosse feito a revenda".

Do Rio para Salvador

Em junho deste ano, uma ação da Ficco conseguiu interceptar um carregamento com 10 carregadores para fuzil que foram enviados através dos Correios para integrantes de uma facção com atuação em Salvador. Os equipamentos eram para fuzis calibre 5,56.

Supostamente, o envio teria sido realizado pelo Comando Vermelho, no entanto, esta não seria a única facção carioca a cobiçar o mercado de drogas baiano.

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Munições foram enviadas através dos Correios do Rio para Salvador
Munições foram enviadas através dos Correios do Rio para Salvador | Foto: Divulgação

e na alta cúpula o BDM tem ligações diretas e acordos de negócios com o PCC, principalmente no tráfico de drogas para a Europa, nas ruas, a 'facção das três letras' teve a necessidade de se fortalecer para bater de frente com os rivais.

De acordo com as investigações, por isso, o grupo criminoso orquestra uma parceria com o Terceiro Comando Puro (TCP) uma dissidência do Terceiro Comando, que já era desmembramento do Comando Vermelho, no Rio de Janeiro.

"Por enquanto, o TCP está em negociação. Como se negocia isso? Aí que entra o armamento. Como é que negocia para levantar minha bandeira? Eu forneço algo que você quer muito, né? Eu te deixo mais forte. Como é que eu te deixo mais forte? Forneço droga a um custo e qualidade melhores para que você revenda e tenha um poder financeiro e também armamento para combater e defender o seu território em meu nome. Em nome da facção que fornece o armamento, isso cria uma disputa bélica", pontuou.

Rotatividade das armas

Conforme Badaró, geralmente, as armas enviadas para a Bahia são de segunda mão, ou seja, um sobressalente das facções de Rio e SP enviado para auxiliar os comparsas na 'Guerra do Tráfico'.

"Aqui não recebe normalmente o armamento zero que vem direto do exterior. Ele primeiro passa pela cúpula de São Paulo e Rio de Janeiro".

Uma vez sob o poder das facções baianas, essas armas flutuam de acordo com a necessidade de defender o ponto ou atacar territórios dos rivais.

"Apesar de a gente acreditar que é uma enxurrada de armas que chega aqui, não é. Esse armamento permanece aqui. Ele gira entre os grupos. O mesmo armamento que você vê num bairro, às vezes, é o mesmo que você vê em outro, dependendo da necessidade que ele tem de combater, seja para proteger território ou invadir regiões dominadas por rivais", afirmou.

O delegado ainda salienta que essas armas chegam geralmente de forma fracionada para evitar uma grande perda do grupo e dificultar que a polícia identifique e apreenda o material.

Leia também: Polícia Civil descobre 'bunker' do BDM em Lauro de Freitas

Outra estratégia usada pelos criminosos é invadir 'bunkers' para subtrair armamentos dos grupos rivais. "Porque às vezes você tem um lugar que você já sabe onde está o armamento do seu rival e por informação de uma virada de bandeira", analisou o delegado.

Quem é o responsável por enviar as armas para a Bahia?

Procurado pelas forças policiais da Bahia, Anderson Souza de Jesus, conhecido como “Buel”, é apontado como uma das principais lideranças do CV no estado. Muitos acreditam que ele seria o responsável pela logística de municiar o grupo aqui na Bahia e estaria escondido no Rio, de onde gerencia o envio das armas para os integrantes da facção em Salvador e RMS.

"Isso é mais conversa entre os traficantes. Para a gente, ele é só mais um. As investigações não mostram que ele é um criminoso violento e que está criando mais problemas aqui. Mais crise entre os grupos. Ele é um criminoso que é igualzinho a ele", contou Badaró.

No entanto, as investigações apontam que realmente existe um 'gerenciador' responsável por enviar as armas para as facções baianas.

"A gente tem esses dados de investigações de que há alguém no Rio de Janeiro que auxilia nesse encaminhamento de armas para cá. Porque a gente já fez apreensões de que a arma teve origem no Rio de Janeiro", explicou.

O delegado ainda destaca que, muitas vezes, essas algumas lideranças vão até o Rio para articular este envio. "Existem dados que mostram que algumas lideranças criminosas daqui foram para lá, e não foram sozinhas. Eles vão com aqueles subordinados direto e, de lá, conseguem encaminhar armamentos para cá".

'Senhor das Armas' é preso após operação iniciada na Bahia

Diego Hernan Dirísio era conhecido como 'Senhor das Armas'
Diego Hernan Dirísio era conhecido como 'Senhor das Armas' | Foto: Reprodução

Em dezembro do ano passado, a operação Dakovo, iniciada na Bahia, resultou na prisão do maior contrabandista de armas da América do Sul, o argentino Diego Hernan Dirísio, conhecido como o 'Senhor das Armas'.

Empresário, Dirísio realizava a venda das armas por meio de sua empresa IAS, com sede no Paraguai.

"A investigação da Dakovo deu início a partir de uma apreensão de armamentos na região de Vitória da Conquista. A partir de então, a Polícia Federal já tinha um banco de informações dessas apreensões e foi possível iniciar um trabalho reverso de identificar da onde essas armas estavam surgindo, da onde essas armas estavam partindo até a essas apreensões que estavam correndo em estados brasileiros", explicou o delegado Diego Gordilho, do Grupo de Investigações Sensíveis da Bahia (GISE/BA), que participou diretamente da Operação.

As investigações da PF apontaram que a empresa comprava armas fabricadas em países como Croácia, Eslováquia, República Tcheca e Eslovênia, para revender na América do Sul. Entre os clientes estavam as duas principais facções criminosas do país, o PCC e o CV.

Peças das armas saiam do leste europeu até o Paraguai, onde eram montadas e seguiam para as facções no Brasil (Rio-SP), do sudeste, o armamento era enviado para as organizações criminosas baianas
Peças das armas saiam do leste europeu até o Paraguai, onde eram montadas e seguiam para as facções no Brasil (Rio-SP), do sudeste, o armamento era enviado para as organizações criminosas baianas | Foto: Arte: Grupo A TARDE

"Ele precisou montar um grande esquema de corrupção de um território paraguaio para camuflar as importações com o teor de ilegalidade. Então, essas armas basicamente eram importadas do leste europeu, da Croácia, República Tcheca, Ucrânia e Eslováquia e vinham num território do Paraguai, e essas armas de fogo. Só que essas armas de fogo são apreendidas aqui em território brasileiro".

As investigações ainda apontaram que as 43 mil armas fornecidas pelo 'Senhor das Armas' tinham como destino outros grupos criminosos do Brasil. Segundo Gordilho, o armamento foi localizado em ao menos 10 estados, incluindo a Bahia. "Muito provavelmente essas armas também seriam para abastecer as facções criminosas aqui atuantes".

Para burlar o sistema, a empresa do 'Senhor da Guerra' importava as peças de vários países do Leste Europeu e dos Estados Unidos, montava e revendia [ veja a dinâmica no quadro].

O delegado Diego Gordilho, do Grupo de Investigações Sensíveis da Bahia (GISE/BA)
O delegado Diego Gordilho, do Grupo de Investigações Sensíveis da Bahia (GISE/BA) | Foto: Shirley Stolze / Ag A TARDE

Organização atuava em seis esferas

1) Núcleo Central: responsável pela coordenação da empresa IAS-PY e pelo controle dos demais núcleos;

2) Núcleo de Vendedores: formado por funcionários da empresa, era responsável pela venda de armas para intermediários e compradores brasileiros;

3) Núcleo Dimabel: integrado por militares paraguaios responsáveis pelo controle de armas naquele país, desembaraçava o registro e a movimentação do armamento no Paraguai e criava dificuldades para concorrentes da IAS-PY, em troca de vantagens indevidas;

4) Núcleo de Intermediários: formado por pessoas situadas no Paraguai que serviam de vínculo com compradores no Brasil, alteravam o número de série e a marca de fabricante e forjavam a criação de novas armas com peças extraídas de marcas diversas;

5) Núcleo de Compradores:formado por brasileiros integrantes das organizações criminosas que compravam armas diretamente do Paraguai;

6) Núcleo de Lavagem: integrado por pessoas responsáveis pela ocultação e dissimulação da origem e do destino de recursos destinados ao líder da organização criminosa ou a fabricantes de armas em diversos países da Europa.

Preso na argentina desde fevereiro, a Justiça brasileira aguarda a resposta do pedido de extradição de Diego Hernan Dirísio e sua esposa para o Brasil.

Redução das mortes violentas

Para Badaró, as operações que visam desarmar essas facções também têm como um dos principais objetivos salvar vidas. "A gente tenta retirar o armamento diretamente do criminoso para impedir esses Bondes, impedir que essas facções ataquem os rivais. E aí, uma cifra oculta nisso, né? Quando você impede um ataque de um bairro, a outra cidade, quantas vidas você salvou?".

Segundo os dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), o mês de agosto de 2024 terminou com uma redução de 34,5% dos homicídios, latrocínios e lesões seguidas de morte na Bahia. Este é o menor número de mortes violentas registrado nos últimos 12 anos.

No acumulado do ano, de janeiro a agosto, a diminuição das mortes violentas (homicídio, latrocínio e lesão dolosa seguida de morte) na Bahia alcançou a marca de 15,6%.

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