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Cop30 chega ao fim em estado de paralisia

Incêndio em parte da Zona Azul marcou penúltimo dia da conferência climática

Georges Humbert*

Por Georges Humbert*

21/11/2025 - 11:55 h
A paralisação imediata das negociações aprofundou um cenário de tensão que já vinha se desenhando desde o início da semana
A paralisação imediata das negociações aprofundou um cenário de tensão que já vinha se desenhando desde o início da semana -

A COP30 chega ao seu desfecho carregando um simbolismo involuntário que marcou a reta final das negociações: o incêndio que atingiu parte da Zona Azul, na tarde de ontem, interrompendo debates decisivos e expondo a fragilidade de uma conferência que já vinha operando sob forte pressão política, técnica e diplomática. O episódio durou poucos minutos, mas foi suficiente para evacuar delegações inteiras, mobilizar equipes de socorro e deixar ao menos pessoas atendidas por inalação de fumaça. No curto intervalo entre o alarme e o controle das chamas, o clima dentro da COP mudou — e não apenas pela fumaça que se espalhou pelos corredores.

A paralisação imediata das negociações aprofundou um cenário de tensão que já vinha se desenhando desde o início da semana, com prazos não cumpridos e textos ainda distantes de consenso nos temas mais sensíveis: financiamento climático, atualização das metas nacionais e, sobretudo, o futuro dos combustíveis fósseis. Essa pausa forçada caiu como uma metáfora desconfortável para muitos observadores: um lembrete de que, assim como a crise climática, o processo de decisão global pode ser abruptamente interrompido por estruturas frágeis demais para suportar a realidade.

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Fogo interrompe negociações

Após o controle do incêndio, parte das instalações permaneceu isolada para inspeção, e discussões emergenciais sobre segurança foram acionadas. Houve relatos de desentendimento entre autoridades brasileiras e o sistema de segurança da ONU, até que a reabertura parcial da área fosse autorizada. Em paralelo, dirigentes da conferência já admitiam que o cronograma oficial dificilmente seria mantido. Negociadores, apoiados por técnicos, trabalhavam contra o tempo, tentando recuperar as horas perdidas — embora muitos reconhecessem, em conversas reservadas, que a perda maior não havia sido temporal, mas política.

Na noite de ontem, as negociações foram retomadas, mas sob um clima de cautela. A sensação predominante era a de que o incêndio havia cristalizado o impasse: países vulneráveis exigiam clareza e previsibilidade no financiamento prometido pelas nações ricas; grandes produtores de petróleo resistiam a qualquer menção explícita ao fim dos combustíveis fósseis; e economias emergentes tentavam equilibrar a defesa de sua soberania com a necessidade de apresentar ambição climática. O fogo se apagou rápido, mas a fumaça — literal e diplomática — permaneceu.

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A presidência da COP30 passou a sinalizar oficialmente a possibilidade de estender o evento. Para alguns, essa extensão representa uma chance real de alinhamento; para outros, é apenas um adiamento calculado, capaz de produzir um texto final mais palatável, mas não necessariamente mais ambicioso. No entorno da conferência, organizações da sociedade civil e pesquisadores avaliam que o episódio poderá entrar para a história das COPs como um ponto de inflexão simbólico — um choque que escancarou tanto a vulnerabilidade física do processo quanto a fragilidade política de um sistema que insiste em negociar sob a sombra de crises sucessivas.

No final, a COP30 se encerra sob a incerteza. Há expectativa por um documento final que ao menos sinalize um consenso mínimo, algo que mantenha vivo o espírito de cooperação multilateral. Mas é igualmente possível que Belém entre para os anais como uma COP marcada mais pelos incidentes do que pelas entregas. Entre o fogo controlado e as negociações ainda incandescentes, resta a pergunta que muitos evitam formular em público: estamos às portas de um avanço real ou apenas varrendo cinzas para encobrir a falta de ação concreta?

Enquanto delegações correm para redigir as últimas versões do texto final, a imagem que fica desta COP é a de um evento que, ao ser interrompido por chamas inesperadas, revelou um pouco mais do próprio mundo que tenta salvar — vulnerável, tenso e sempre à beira de um colapso evitável, mas nunca totalmente controlado.

*Georges Humbert é corresponde especial do Grupo A TARDE na COP 30, em Belém, PA.

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Tags:

combustíveis fósseis COP30 Incêndio

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