BRASIL
Saiba como vive a cidade "isolada" sem bancos ou transporte público
Local conta com 3,6 habitantes e caso uma pessoa queira sacar dinheiro, pagar contas presencialmente ou fazer depósitos precisa fazer uma viagem

Por Redação

Com pouco mais de 3,6 mil habitantes e situada a 471 km de São Paulo, a cidade de Bom Sucesso de Itararé, na divisa com o Paraná, vive um cenário de isolamento que alterou completamente a rotina de moradores e comerciantes. Desde o fim de setembro, quando a única lotérica da cidade fechou, e em outubro, com a saída da agência bancária por “falta de demanda”, segundo a prefeitura, o município ficou sem qualquer serviço bancário presencial.
Hoje, quem precisa sacar dinheiro, pagar contas no balcão ou fazer depósitos é obrigado a percorrer cerca de 61 km até Itapeva ou Itararé — percurso que se torna ainda mais complicado pela ausência de transporte municipal e intermunicipal. A cidade tem apenas uma estrada de ligação com os municípios vizinhos do lado paulista, o que intensifica o isolamento.
Comércio sente os impactos
Os reflexos no comércio foram imediatos. A empresária Neia Guimarães, que administra um mercado há 17 anos, relata queda no movimento desde o fechamento da lotérica. Segundo ela, muitos moradores acabam resolvendo tudo em Itararé — e gastando por lá.
“A cidade está um deserto”, desabafa. Hoje, Neia tenta resolver o máximo possível pelo aplicativo e só vai até uma agência “em último caso”.
O empresário Odirlei Pedroso, dono de uma sorveteria, enfrenta o mesmo problema. Com atendimento voltado majoritariamente para o público idoso, o uso do dinheiro físico é predominante.
“Os clientes aqui gostam do dinheiro na mão”, lamenta.
Ele também destaca o público infantil, que passa na sorveteria após a escola:
“O pai não vai dar cartão na mão da criança para comprar um sorvete”.
Pagamentos maiores e depósitos da empresa, porém, só são possíveis presencialmente. Sem transporte intermunicipal, a alternativa é usar veículo próprio. Odirlei acredita que o banco postal seria uma saída temporária, mas lembra que a solução tem limitações:
“Para valores mais altos, não resolve”, afirma.
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Turismo também está ameaçado
O isolamento bancário pode afetar um dos principais trunfos da cidade: o turismo. Bom Sucesso de Itararé integra o Circuito dos Cânions Paulistas e atrai visitantes interessados em trilhas, cânions, cachoeiras e observação de aves. Entre os pontos mais conhecidos estão a Pedra da Galinha do Camelo e as formações rochosas do Vale dos Gigantes.
O que diz a Prefeitura
A Prefeitura informou que está em tratativas com bancos e instituições financeiras para restabelecer serviços na cidade. Sobre o transporte, disse que a autorização para operação de linhas intermunicipais está aberta na Artesp, mas nenhuma empresa demonstrou interesse até agora.
Também foi informado que a estrada municipal — único acesso a Bom Sucesso — recebe manutenção constante, mas precisa de intervenções mais profundas, que dependem de articulação com órgãos estaduais.
A gestão reforça ainda o foco no turismo como estratégia econômica:
“Bom Sucesso viveu um ano de avanço colocando em prática obras essenciais, e manutenções em diversos setores, proporcionando cada dia mais uma qualidade de vida melhor aos munícipes e visitantes”, diz a nota.
O que dizem os bancos
A Caixa Econômica Federal afirmou avaliar a instalação de um Correspondente Caixa Aqui no município. A abertura depende de critérios técnicos e mercadológicos. Enquanto isso, o atendimento presencial segue disponível em Itararé.
O Bradesco, único banco que mantinha agência na cidade, explicou que alterou seu modelo de atendimento porque 98% das operações já são realizadas pelos canais digitais. Por isso, algumas unidades foram reduzidas, unificadas ou encerradas. O banco afirma que os moradores podem usar as unidades Bradesco Expresso e os canais eletrônicos.
A história do município
Embora pequena, Bom Sucesso de Itararé tem uma história curiosa. Criada oficialmente em 30 de dezembro de 1991, a cidade surgiu após o desmembramento de Itararé, mas sua ocupação começou em 1929. O nome veio de um relato popular: após uma caçada bem-sucedida, o gaúcho José Bonifácio de Campos teria retornado animado, dizendo que havia sido “um sucesso” — expressão que acabou batizando a localidade.
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