EXCLUSIVO
Diretor de ‘Setembro 5’ explica set 'claustrofóbico': "Queria essa sensação"
Em entrevista exclusiva ao Cineinsite A TARDE, diretor do longa revela como retratou a tragédia de Munique
Por Beatriz Santos*
![Filme foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original](https://cdn.atarde.com.br/img/Artigo-Destaque/1300000/1200x720/Diretor-de-Setembro-5-fala-sobre-papel-da-midia-Qu0130727200202502141538-ScaleDownProportional.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F1300000%2FDiretor-de-Setembro-5-fala-sobre-papel-da-midia-Qu0130727200202502141538.jpg%3Fxid%3D6556547%26resize%3D1000%252C500%26t%3D1739920393&xid=6556547)
Em 5 de setembro de 1972, as Olimpíadas de Munique foram abruptamente interrompidas por uma tragédia que mudaria o curso da história. Na ocasião, o grupo terrorista Setembro Negro fez nove atletas israelenses reféns na Vila Olímpica, e o mundo acompanhou em tempo real, por meio de transmissões ao vivo, os momentos de angústia e violência.
‘Setembro 5’, de Tim Fehlbaum, transporta o público para a sala de controle da ABC Sports durante o caso, quando repórteres esportivos viraram, sem querer, protagonistas de uma das coberturas jornalísticas mais dramáticas da história. O filme, que estreou nos cinemas brasileiros no dia 30 de janeiro, é uma reflexão sobre o papel da mídia em tempos de crise.
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Embora a história do ataque já tenha sido retratada em ‘Munique’ (2005), dirigido por Steven Spielberg e indicado a cinco Oscars, Setembro 5 optou por se distanciar das causas e consequências políticas do massacre. Em vez disso, ele foca na perspectiva da equipe de jornalistas e explora os dilemas éticos e humanos enfrentados pelos profissionais. A trama foi indicada ao Critics Choice Awards e ao Oscar de Melhor Roteiro Original, além de ter recebido uma indicação ao Globo de Ouro como Melhor Filme de Drama.
Em entrevista exclusiva ao CIneinsite A TARDE, o diretor suíço Tim Fehlbaum destacou os desafios de contar uma história que se passa em grande parte em um único ambiente, o estúdio de TV, e falou sobre o que o motivou a dirigir um longa baseado nesse episódio.
"Fiquei imediatamente intrigado por essa história por dois motivos. O primeiro, do ponto de vista de um cineasta, achei que seria interessante enfrentar o desafio de contar uma história que se passa, em grande parte, em uma única sala – no estúdio –, onde os monitores de TV são a única janela para o mundo exterior, a única conexão com o que realmente está acontecendo no mundo", explicou.
De acordo com o cineasta, o segundo motivo foi a conexão pessoal que ele sentiu sendo um profissional da mídia: "Me senti ainda mais conectado para contar algo sobre o papel da imprensa naquele dia, durante o trágico evento."
![O diretor ressaltou que a intenção era levantar questões éticas sem oferecer respostas definitivas](https://cdn.atarde.com.br/img/inline/1300000/724x0/Diretor-de-Setembro-5-fala-sobre-papel-da-midia-Qu0130727200202502141538-1.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2Finline%2F1300000%2FDiretor-de-Setembro-5-fala-sobre-papel-da-midia-Qu0130727200202502141538.jpg%3Fxid%3D6556550&xid=6556550)
O filme retrata os quebra-cabeças éticos enfrentados por jornalistas esportivos que se viram, sem preparação prévia, obrigados a lidar com uma crise global. "O interessante sobre o caso de Munique em 72 é que, talvez, em comparação com um drama clássico de jornalismo, esses não eram jornalistas experientes e treinados para noticiar um assunto como esse – na verdade, eram repórteres esportivos", explicou Fehlbaum. "Eles tinham uma visão quase ingênua do que estava acontecendo e, de repente, essas pessoas, acostumadas a cobrir eventos esportivos, foram confrontadas com questões como ‘podemos mostrar violência na TV?’", completou.
O diretor fez questão de ressaltar que, ao construir o filme, a intenção era levantar questões sem oferecer respostas definitivas. "Tentamos fazer o filme levantando essas questões, mas não queremos dar respostas definitivas, porque acredito que, para muitas delas, não há respostas claras", afirmou.
Set claustrofóbico
Para retratar com precisão a tensão e o caos do evento, Fehlbaum optou por criar uma atmosfera claustrofóbica no estúdio onde os jornalistas estavam trabalhando. "Eu queria que o estúdio fosse o mais claustrofóbico possível, porque vimos as plantas originais e era realmente apertado. Então, o que não queríamos era ter paredes móveis; normalmente, nesses cenários, você tem paredes móveis para posicionar a câmera de forma mais confortável. E eu não queria isso, eu queria o oposto, queria essa sensação de claustrofobia", revelou.
O longa foi filmado com uma abordagem quase documental, o que permitiu uma maior imersão no ambiente de crise. "A ideia que o diretor de fotografia, Markus Förderer, e eu discutimos foi a de filmar como se nós mesmos fôssemos uma equipe de documentário ou de transmissão naquela sala, observando aquelas pessoas, observando os monitores", explicou Fehlbaum.
Para expressar os momentos de tensão, o elenco de 'Setembro 5' foi composto por personagens que representam diferentes aspectos da cobertura jornalística e do impacto do evento. "Primeiramente, temos Geoffrey Mason, personagem interpretado por John Magaro, e o baseamos no verdadeiro Geoffrey Mason. Ele foi nossa principal fonte, pois era uma testemunha ocular com quem pudemos conversar", contou Fehlbaum. O mentor de Mason, Marvin Bader, é interpretado por Ben Chaplin. Para o diretor, Bader é "o coração e alma do grupo", além de ser uma "bússola moral" durante a crise.
Outro personagem importante é Roone Arledge, vivido por Peter Sarsgaard, chefe da equipe da ABC Sports. "Ele percebeu desde cedo que essa transmissão poderia mudar suas carreiras para sempre", disse Tim.
A tradutora Marianne Gebhardt, interpretada por Leonie Benesch, também tem um papel central, pois, de acordo com o diretor, em um filme que trata muito sobre comunicação, inclusive entre nações, o papel de uma tradutora é essencial. "Ela representa a nova Alemanha daquela época, a nova geração que tentou se libertar do que a geração anterior fez", destacou Fehlbaum.
![Leonie Benesch como Marianne Gebhardt](https://cdn.atarde.com.br/img/inline/1300000/724x0/Diretor-de-Setembro-5-fala-sobre-papel-da-midia-Qu0130727201202502141538-1.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2Finline%2F1300000%2FDiretor-de-Setembro-5-fala-sobre-papel-da-midia-Qu0130727201202502141538.jpg%3Fxid%3D6556551&xid=6556551)
Embora o ataque tenha ocorrido há mais de 50 anos, para o diretor, o filme mantém uma relevância atual. "O filme ainda é muito relevante hoje, porque, embora a tecnologia tenha mudado, as questões morais permanecem as mesmas", comentou. Ele também enfatizou a importância de entender como as coisas aconteciam antes do avanço da tecnologia: "Embora hoje todos tenham uma câmera e uma TV no bolso, é interessante dar um passo atrás e olhar para como isso foi coberto pela primeira vez na televisão ao vivo", concluiu Fehlbaum.
Confira o trailer
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