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A fusão DEM-PSL e a estabilidade do sistema partidário brasileiro

Publicado segunda-feira, 27 de setembro de 2021 às 06:00 h | Autor: Cláudio André de Souza*
ACM Neto é o grande beneficiado da fusão DEM-PSL | Foto: Divulgação
ACM Neto é o grande beneficiado da fusão DEM-PSL | Foto: Divulgação -

Na terça-feira passada (21), a executiva nacional do Democratas aprovou que se avancem as tratativas de fusão do partido com o Partido Social Liberal (PSL). Deliberou-se pela convocação da convenção nacional do partido, que será consultada quanto à fusão com o PSL. De onde vem essa demanda para criar um partido mais robusto, agora, nas vésperas das próximas eleições? De um conjunto de fatores “pós-Bolsonaro”: como o presidente inepto para o cargo não é favorito para as eleições de 2022, as lideranças de ambos os partidos entendem que eles podem ser “amassados” pela polarização Lula-Bolsonaro, atrapalhando os planos das siglas para conquistar cargos legislativos e governos estaduais.

Além disso, arriscam ao projetar para 2023 o retorno do presidencialismo de coalizão, quando um novo presidente eleito precisará fechar aliança com partidos, que ofertarão apoio no Congresso. De longe, um partido mais estável e robusto politicamente terá melhores condições de barganhar espaços políticos no Executivo e no Legislativo.

Há também um componente de desespero no esforço pela fusão de democratas e sociais liberais. Com o fim das coligações proporcionais, tanto DEM quanto PSL caminhariam para uma diminuição das suas bancadas, o que impacta a proporção de recursos financeiros a serem recebidos dos fundos partidário e eleitoral e, consequentemente, a arquitetura político-eleitoral nos municípios brasileiros, que já visam as eleições de 2024.

Difícil entender a fusão como uma estratégia para as eleições presidenciais, já que ambos os partidos não possuem uma candidatura natural e competitiva a caminho, sendo os objetivos imediatos estruturar uma nova sigla para gerir R$ 458 milhões de reais dos fundos partidário e eleitoral (dados de 2020) e possuir uma bancada com 80 deputados federais e 7 senadores.

Se é certo que o novo partido de direita parece nascer sem um programa partidário amadurecido e bem delineado para enfrentar os desafios da sociedade e da política brasileira, o grande beneficiado da fusão é o presidente do DEM, ACM Neto, que, ao se manter no controle do novo partido e do seu caixa financeiro, terá maiores condições de articular a sua candidatura ao governo do estado, impondo negociações dos palanques estaduais sob a condicionante do apoio à sua candidatura na Bahia.

Com mais dinheiro e força parlamentar, o ex-prefeito de Salvador terá mais chance de barganhar, na negociação individual, o apoio de prefeitos baianos que hoje frequentam a base aliada de Rui Costa. Como tudo isso é do jogo democrático, se a fusão sair do papel, as eleições de 2022 podem acenar para a continuidade da estabilidade do nosso sistema partidário, agora com um superpartido nos moldes do que foram, na década de 1990, o PMDB e o PFL.

*Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).

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