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Bolsonaro no ataque

Publicado segunda-feira, 23 de agosto de 2021 às 06:00 h | Autor: Cláudio André de Souza
Bolsonaro com os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal
Bolsonaro com os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal -

Em dezembro do ano passado, o Deputado Arthur Lira (PP-AL) saiu cantando a pedra: venceria a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados se unisse os interesses do centrão aos do governo Bolsonaro, ávido por se blindar de um possível pedido de impeachment. Um aliado na presidência da Câmara afastaria tal possibilidade.

Deu certo. Lira derrotou o grupo do Deputado Rodrigo Maia, até mesmo com o apoio de opositores ao governo, e ainda vaticinou a aliados que, na presidência, seria um “coringa” na difícil tarefa de moderar Jair Bolsonaro. Não demoraram a aparecer, porém, os sinais de que a estratégia do novo Presidente da Câmara estava completamente fora de contexto.

No final de março, ele mandou um recado claro ao Planalto quanto a sua atrofia institucional (intencional) no combate à pandemia de Covid-19. Isso ficou visível na reunião entre Poderes realizada então, quando Bolsonaro externou a importância das reformas e das privatizações, como se não vivêssemos, naquele momento, uma grave crise, com tantos óbitos e casos confirmados. No dia 24/03, data do pronunciamento de Lira, foram registrados 90.504 novos casos e 2.244 mortes pela Covid-19 nas anteriores 24 horas. A média móvel naquela semana foi de 2.279 mortes, uma variação, para mais, de 34%; 20 estados apresentavam tendência de alta nas mortes.

A partir desse episódio, Lira jogou a favor da moderação do Planalto, agindo nos bastidores em favor do governo, mas sem deixar de enviar recados ao Planalto quanto à necessidade de refundar o governo e sobre a estratégia política com vistas à reeleição de Bolsonaro em 2022.

Recordar é viver: poucos dias depois do discurso de Lira, o país assistiu estarrecido à manobra do Planalto para trocar o comando das Forças Armadas e o Ministro da Defesa. Bolsonaro tentou tornar as forças militares uma força partidária auxiliar do governo, o que se mostrou evidente quando o novo Ministro, General Braga Netto, lançou uma nota em que negava, de forma pouco convincente, ter ameaçado Lira a articular a aprovação do voto impresso, sob pena de não termos eleições em 2022.

Para contrabalancear o golpismo do general, o centrão tirou da cartola a nomeação do Senador Ciro Nogueira (PP/PI) ao cargo de ministro-chefe da Casa Civil, para funcionar como um “moderador” do Planalto. Com poucas semanas no cargo, sem ter tido tempo para se adaptar à cadeira do seu gabinete no Planalto, ele viu Bolsonaro radicalizar o discurso em torno do voto impresso contra o TSE, com adjetivos anti-republicanos dirigidos ao Ministro Luís Roberto Barroso. Depois, viu o presidente articular a “tanqueata” e subir o tom contra as instituições.

As ameaças à democracia ganharam um novo patamar na sexta-feira (20), com o pedido de impeachment feito por Bolsonaro contra o Ministro do STF Alexandre Moraes. A tramitação do pedido depende de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), despachar o pedido para a Secretaria Geral, que consultará a advocacia da Casa e depois enviará parecer para Pacheco decidir se arquiva ou dá andamento à denúncia.

Com Bolsonaro no ataque contra as instituições, há um cálculo político sendo feito: a) promover uma nova narrativa para os atos do dia 07 de setembro, agora contra o STF, algo necessário após a morte do voto impresso; b) buscar uma contra-ofensiva às investigações dos atos anti-democráticos golpistas, que levaram à prisão de Roberto Jefferson e ao indiciamento do cantor Sérgio Reis; c) antecipar-se à dificuldade de aprovar a indicação de André Mendonça para uma vaga no STF. O ataque à Corte coloca o aliado em uma situação complicada, mas pode deixar Bolsonaro desimpedido para apresentar um novo indicado, agora sob a chancela do centrão. Nesta semana que começa, teremos mais radicalização a caminho, mesmo com divergência de aliados?

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