Rapper baiano Gil Daltro lança EP Subversivo | A TARDE
Atarde > Cultura > Música

Rapper baiano Gil Daltro lança EP Subversivo

Músico acredita que todos devem ser mais subversivos e não aceitar as barbaridades que temos visto

Publicado sábado, 15 de janeiro de 2022 às 12:15 h | Autor: Victor Hernandes*

Na chamada nova era de ouro do rap, o rapper baiano Gil Daltro lançou em parceria com o produtor britânico Giallo Point o EP Subversivo. São cinco faixas que compõem o projeto, lançado na primeira semana de janeiro. O disco traz batidas e melodias do estilo Boom Bap, que é um dos subgêneros do Rap. 

“Subverter a ordem para poder conquistar o que é merecido de fato” é o recado principal  que o músico diz transmitir com este seu novo trabalho. As músicas do disco possuem uma grande veia política e social nas letras.

O propósito do rapper neste seu trabalho é de incentivar a reflexão sobre diferentes questões sociais que acontecem no país. Segundo Gil Daltro, seu maior objetivo é alertar a todos sobre a importância da resistência neste processo.

“Neste trabalho especificamente queria dialogar um pouco com o que tem sido os últimos anos do país. Existe uma tentativa de retroceder nossos direitos e sufocar os avanços das minorias, que na verdade são maioria. O disco tem a ideia de passar a mensagem de que nós precisamos ficar atentos a esses processos que estão acontecendo. A intenção é nos organizarmos para tomar de volta o que é nosso”, afirma Gil.

Desde muito jovem, o artista, que sempre foi engajado na política, participou até de movimentos estudantis e sindicais. Suas convicções políticas serviram de inspiração para ele abordar no disco alguns dos problemas sociais enfrentados pela sociedade brasileira no decorrer dos últimos anos.

“Tento dialogar com essa parte da política, uma dimensão que me move muito, além da música. Este atual período político talvez seja o mais assustador que já vi no Brasil, nos 34 anos que tenho. Venho trazer um pouco sobre isso das ofensivas com relação a ataques fascistas, homofóbicos e ceticistas. Sem falar ainda da tentativa de retroceder direitos trabalhistas conquistados nas últimas décadas. Quero mostrar esse contraponto com o embate em relação a essas mazelas”, conta Daltro.

Já sobre o título escolhido para o EP, Gil diz que a escolha condiz não só com o que está escrito, mas também com a necessidade de ação e resistência no momento atual. Ele acredita que todos devem ser mais subversivos e não devem aceitar algumas das barbaridades a que são submetidos. 

Referência 

Em parceria com o produtor britânico Giallo Point, o rapper baiano construiu sua sonoridade através do Boom Bap, uma vertente do rap que é de grande significância para o cantor. Ele explica ainda sobre a grande referência que Giallo possui neste estilo.

“O Boom Bap, enquanto característica e subgênero do rap, é a escola que sempre escutei e mais me move. Giallo é referência a nível mundial do Boom Bap. Imediatamente ele abraçou a ideia e na mesma hora me enviou cinco instrumentais”, observa o músico.

O rapper, que tem outros trabalhos onde gosta de experimentar diversas sonoridades, já fez também som com Trap, pagode, dentre outros estilos, nestes seus vinte anos de trajetória musical. Em oito anos de carreira no Rap, o artista tem sido um dos principais expoentes da chamada ‘nova era de ouro do Rap’.

Desde jovem já se destaca no meio, inclusive desenvolvendo trilhas sonoras para séries de televisão dos EUA. Além de acompanhar o ritmo, ele também se diz um dos admiradores da musicalidade latina e carrega a necessidade de falar das mazelas sociais que acontecem no mundo. 

“Minha base musical desde jovem é hardcore punk e o rap. São os dois gêneros que mais dialogam neste processo. Mas já tive algumas bandas de rock e também já produzi algumas músicas para uma série de TV norte-americana. Flerto muito com a música latina no geral e sou um MC que sempre tento relacionar o contexto político, econômico e social que está presente na nossa realidade, com outros elementos do cotidiano”, relata o cantor. 

Intercâmbio cultural

Uma das marcas principais do disco é a mistura das culturas de outros países. Essa característica é vista nas melodias, composições, batidas, rimas em inglês e até nas participações especiais. Só neste trabalho, Gil conta com a participação do francês Napoleon Da Legend, o argentino-canadense Che Uno e de Lord Juco, um dos artistas mais conceituados da nova geração do rap canadense. Além do britânico Giallo Point, produtor que selecionou as músicas para o projeto.

“Esse aspecto internacional é sempre muito presente em tudo que busco fazer. A gente tem que colaborar em nossa cultura e realidade, mas sempre em consonância com outras culturas e visões de mundo. Precisamos ter contato com pessoas que falam outro idioma e vivem outra realidade, isso traz uma riqueza de maneira geral quando se constrói obras neste sentido”, explica o MC.

“Os convidados são artistas que fazem parte de um resgate do rap mais noventista, com uma roupagem moderna. Tudo isso agrega para a gente se conectar com tudo que acontece no mundo. O rap consegue ser um gênero que surge de demandas sociais e questões relacionadas à luta contra desigualdade e da necessidade de ter voz e ocupar espaços. Esse é um elemento que unifica o gênero a nível internacional, estamos em contato direto com o que acontece no planeta”, comenta o rapper.

O álbum resgata ainda uma entrevista com áudios de uma das personalidades da luta contra a ditadura militar no Brasil, o político e militante Carlos Marighella. Esse raro registro é visto positivamente e como uma referência para Daltro.

“Marighella acabou sendo uma figura a ser colocada naturalmente no álbum, pois ele representa essa subversão necessária no Brasil atual, que o disco tanto prega. Sem falar ainda do marco de um filme de qualidade para o público, que reforça aquilo que Marighella queria dizer. São várias as formas de lidar com os assuntos políticos, trazer ele para este EP mostra a necessidade de sermos mais efetivos”, pontua.

 A capa do álbum emoldura a característica do som proposto por Gil e Giallo. A ideia era trazer o aspecto do guerrilheiro subversivo para ilustrar a mensagem de resistência e ação que o próprio cantor transmite no decorrer do disco. O intuito era ilustrar algumas condições mais radicais, que segundo o músico são formas de resistência.

 O EP Subversivo de Gil Daltro & Giallo Point pode ser encontrado em todas as plataformas digitais de streaming. 


Serviço

O quê: Subversivo / Gil Daltro & Giallo Point Independente / Produzido por Gil Daltro & Giallo Point / Disponível nas plataformas de streaming

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

Publicações relacionadas