Desfile da Daspu apresenta a "prostituta como mulher"
Em que desfile as modelos estão mais preocupadas com a platéia do que com os fotógrafos? Certamente em nenhum da SPFW. Mas no da marca carioca Daspu é assim que funciona. Em seu terceiro desfile oficial, segundo em São Paulo, a marca criada pela ONG da Vida, há catorze anos (o desfile também foi comemoração do aniversário), chama a atenção da sociedade de um jeito irreverente para a prostituta como mulher.
A paulista e criadora de ONG da Vida, Gabriela Leite, não conseguia conter a felicidade. "Voltei para casa", exclamou enquanto limpava as lágrimas com uma mão e segurava um terço cor de rosa na outra. "Saí daqui porque a vida era horrível! Hoje, luto para mostrar que prostituta é uma mulher como qualquer outra".
Em clima de muita festa e sob os atentos olhos dos curiosos, a Daspu levou seus convidados, no sábado à noite, para a boate Gloria, na Rua 13 de Maio, centro da cidade. A decoração era composta por calotas, pneus e correntes espalhados pela passarela no melhor estilo "borracharia" que, para Maria, prostituta há 30 anos, é uma homenagem ao caminhoneiro, "os melhores amantes".
"Estou muito feliz em desfilar porque nunca pensei que faria tanto sucesso", diverte-se.
As "modelos" da Daspu dão um baile nas "modelos" da SPFW no quesito sapato de salto. As cariocas tiraram de letra o sobe e desce das escadas com tamancos de 10 centímetros de altura. "Já estamos acostumadas, né?", brincou Gabriela, 24 anos.
Mesmo depois do desfile, Jaqueline, 19 anos, ainda não conseguia disfarçar o entusiasmo. "Fiquei meio sem graça no começo, mas depois me acostumei. Aquele monte de gente olhando para minha cara, eu hein?".
Essa foi a primeira vez que a moça viajou de avião e chegou a pensar em recusar o convite. "Estava na boite, dormindo, quando me chamaram. Não é minha praia. Mas gostei muito de ter vindo."
Além do aniversário da ONG, Gabriela também comemorava o convite para desfilar em Paris, em outubro. "Além das roupas temos uma linha de lingeries", explica a idealizadora do projeto.
O convite partiu de Fifi Chachnil, mesma estilista que desenha as lingeries da cantora Madonna. "Queríamos levar algumas de nossas ´modelos´, mas ainda não sei se teremos dinheiro", diz.