DISCUSSÃO PERTINENTE
Salvador tem “total capacidade” de receber megashows internacionais, diz empresário
Show de Lady Gaga em Copacabana reacendeu debate sobre estrutura de Salvador para eventos do tipo
Por Edvaldo Sales

As areias da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, foram palco de um dos maiores espetáculos recentes que o país já viu: o megashow comandado pela cantora Lady Gaga. O evento, que aconteceu na noite deste sábado, 3, reuniu 2,1 milhões de pessoas, segundo a Riotur. Em 2024, Madonna atraiu 1,6 milhão. Diante do sucesso dessas iniciativas, a expectativa de que o mesmo aconteça em outras capitais brasileiras foi criada, e uma que sempre surge nas discussões mobilizadas, principalmente nas redes sociais, é Salvador.
Dentro desse cenário, a capital baiana, que é reconhecida como a Cidade da Música em um título mundial dado pela Rede de Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2016, ainda enfrenta obstáculos para se destacar como um grande palco para artistas internacionais, mesmo após já ter recebido nomes como Michael Jackson para a gravação do clipe ‘They Don't Care About Us’, em 1996, e Beyoncé com a turnê do disco ‘I Am... Sasha Fierce’, em 2010 - e de novo, em um evento especial no ano retrasado -, além de Paul McCartney, Elton John, Maroon 5, 50 Cent, entre outros.
Quando se coloca Salvador no centro deste debate, alguns dos pontos que são colocados em pauta dizem respeito à capacidade da cidade receber shows com estrutura e público enormes como foi o de Lady Gaga e Madonna no Rio, mesmo a cidade sendo responsável pela maior festa de rua do mundo, que é o Carnaval, o qual atraiu cerca de 1,5 milhão de pessoas no tradicional circuito Dodô (Barra-Ondina) só no primeiro dia da festa deste ano, de acordo com dados do Governo do Estado da Bahia, .
Em entrevista ao Portal A TARDE, Aldo Mendonça Albuquerque Benevides, conhecido como Aldinho Benevides, nome cotado quando o assunto é entretenimento, afirmou que Salvador tem “total capacidade” de receber megashows internacionais. “Tanto na parte hoteleira e de restaurantes, quanto na parte estrutural e na quantidade de público para receber qualquer show internacional”, pontuou.
Salvador é uma das capitais mais preparadas para receber esse tipo de evento. O que está faltando é a população mostrar esse desejo perante os empresários do meio e também aos governantes.
Marcelo Brito, sócio da Salvador Produções, compartilha da mesma opinião de Aldinho. O empresário destacou que a cidade é totalmente estruturada e com capacidade de receber um megaevento internacional. “Salvador é uma escola, ensina para outras cidades e para o mundo inteiro como se ter uma grande concentração de pessoas em um determinado local. Temos capacidade, temos beleza e temos uma cidade maravilhosa”, disse.
Ele ressaltou, porém, que para esses eventos acontecerem, os governantes precisam querer fazer: “Temos total possibilidade, [mas] depende dos órgãos públicos, tanto do governo estadual quanto do governo municipal de querer realizar e trazer esse investimento para a nossa cidade”.
Quem também já entrou nesse debate recentemente foi Luis Justo, CEO do Rock World, que realiza os maiores festivais de música e entretenimento do mundo como Rock in Rio, Rock in Rio Lisboa, Lollapalooza e The Town. Ele avaliou que a Bahia, por si só, é um “palco”.
“Não só porque tem tantas estrelas que nasceram, vivem e construíram a carreira aí, mas também grande parte da nossa história do entretenimento, dos grandes jogos, das grandes festas e festividades, também passam pela Bahia”, afirmou Justo, em conversa com o Portal.
Segundo ele, um dos exemplos da capacidade do estado é a realização do Carnaval, considerado o maior do mundo. “Existe aí uma relevância muito grande, é um dos grandes pólos”, disse. Ele falou que turnês e artistas internacionais não passam pela Bahia, e acabam focando no eixo Rio-São Paulo, por questão de logística e, possivelmente, falta “de receptividade da Bahia para esses eventos”.
No entanto, o último ponto de Luis Justo foi rebatida por Benevides, que garantiu: “A Bahia ou qualquer cidade dela jamais pode ser julgada como uma cidade que não tem receptividade para qualquer tipo de evento, ou qualquer tipo de coisa, porque se tem uma coisa que a Bahia sabe fazer é receber bem”.
Qual seria o local ideal?
A capital baiana tem, atualmente, três locais que podem comportar shows para um público acima de 20 mil pessoas: a Casa de Apostas Arena Fonte Nova, o Parque de Exposições de Salvador e o WET. No entanto, de acordo com Aldinho Benevides e Marcelo Brito, existe outro lugar que deveria passar a ser avaliado: o Centro Administrativo da Bahia (CAB).
“Talvez fazer um estudo de viabilidade de público. Acho que naquela região vamos ter uma fluidez e um espaço mais confortável para colocar um mega palco e concentrar essa quantidade de pessoas. Tem algumas estações de metrô ali perto como Pituaçu e logo depois tem outra. É próximo da maior avenida da cidade, que é a Paralela. Acho que o CAB poderia ser o grande mérito e o local de realizar esses grandes shows”, explicou o sócio da Salvador Produções.
Para Aldinho, a Arena O Canto da Cidade, onde acontece o Festival Virada Salvador, também é uma boa opção para receber artistas internacionais. “Tem também algumas praias enormes, o circuito do Carnaval, que já recebeu 1,4 milhão de pessoas, e o Centro Administrativo, que é um espaço maravilhoso para fazer qualquer tipo de evento dessa magnitude”, garantiu.
Vale lembrar que os últimos shows internacionais que aconteceram na capital baiana foram de festivais, como o Afropunk Brasil, que recebeu Erykah Badu em 2024 e Victoria Monét em 2023, e o Festival de Verão que recebeu CeeLo Green em janeiro do ano passado. Ambos são realizados no Parque de Exposições de Salvador. Em 2022, a cantora galesa Bonnie Tyler se apresentou na Concha Acústica do TCA para menos de 2 mil pessoas. Já o grupo norte-americano The Manhattans, fez um show em Salvador na Pupileira em 2023, que tem capacidade para 1.500 pessoas.
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Rio como inspiração

O feito histórico alcançado pelo Rio de Janeiro de conseguir trazer para o Brasil duas das maiores artistas que o mundo já conheceu no intervalo de um ano pode acabar servindo de inspiração para outras capitais. Conforme os empresários ouvidos pelo A TARDE, Salvador já deveria ter começado a trabalhar em um projeto nesse sentido.
“O que falta para acontecer é Salvador, tanto a população, quanto os governantes e também os empresários, se espelharem no Rio de Janeiro e em São Paulo, porque a cidade tem capacidade total para receber essas pessoas. Temos um aeroporto de grande porte, hotéis, restaurantes, pontos turísticos, estrutura como um todo para receber esses shows. Salvador já passou da hora de ter eventos como esse, já passou”, enfatizou Benevides.
Marcelo Brito frisou que há um retorno financeiro também, não é apenas um investimento. “Poderia se pensar em um grande projeto desse, que é uma cadeia construtiva toda em volta de um grande show. Isso não é somente um investimento, há um retorno financeiro absurdo para a cidade. Não só de impostos como ISS, mas de outros também. Acredito que isso vai favorecer a cidade”, salientou.
Se pensar com carinho, entender que o caminho é trazer o investimento e visibilidade para a nossa cidade, todo mundo vai ganhar.
O que dizem os governantes
Para o secretário de Cultura do Estado, Bruno Monteiro, Salvador e a Bahia reúnem as condições para realização de grandes eventos de rua, tanto que realiza o maior de todos, que é o Carnaval. “Isso se dá graças a uma expertise acumulada e aperfeiçoada ao longo dos anos, com infraestrutura, planejamento e integração para tal”, avaliou, em um posicionamento enviado ao Portal A TARDE.
Segundo ele, a atração de outros grandes eventos depende do diálogo e envolvimento de uma série de agentes, públicos e privados, reunindo poderes municipais, estadual e federal, além de produtores e o setor empresarial.
A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) também foi procurada, mas não houve retorno até a publicação deste texto.
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